‘Uma marca minha é a liderança participativa’
Dirigente de laboratório farmacêutico fala a respeito do papel atual do líder corporativo
Formada em economia pela FEA-USP, Heloisa Simão fez carreira na indústria farmacêutica. Hoje, ela comanda o Zodiac, laboratório latino-americano que produz medicamentos nas áreas de oncologia, ortopedia e urologia, mas consolidou sua carreira na gigante Bristol Meyer Squibb (BMS), indo de estagiária financeira e de marketing, a diretora de área de negócios de oncologia e imunologia. Nesse trajeto, participou do lançamento de medicações contra o câncer e do segundo remédio anti-HIV, o DDI, que abriu a possibilidade da criação do coquetel de drogas para combater o vírus. Depois de 25 anos na organização, aceitou o desafio de fazer o start up no Brasil da dinamarquesa Leo Pharma, da área de dermatologia. Vencida essa etapa, foi para a Zodiac. “Quando falamos que o pessoal que trabalha indústria farmacêutica acaba fazendo carreira no setor, é porque é uma área muito especial, você acaba acompanhando o desenvolvimento de grandes avanços na medicina”, afirma Heloisa, que é casada há 31 anos e mãe de duas jovens (gêmeas). A seguir, trecho da conversa.
A carreira Minha carreira foi marcada pelo lançamento de produtos, lançamento de novas áreas de negócios e reestruturação de setores que não estão indo tão bem, fazer um rebuilding.
Diversidade Na BMS, eu entendi a importância da diversidade, não só da mulher ou do homem, mas o quanto ter cabeças diferentes, seja por gênero, idade, formação ou religião, é importante, o quanto isso faz com que você tenha decisões de negócios mais amplas, ligadas ao mundo externo. É enriquecedor quando se tem grupos com diversidade.
Do zero. Depois de 25 anos na BMS, fui convidada para fazer o start up da Leo Pharma, que é líder na área de psoríase. E aí foi um grande desafio. Pensava: será que vou ser capaz de usar todas as minhas habilidades, todo meu potencial para colocar uma empresa no Brasil? Mas deu tudo certo.
Filho A Leo é como se fosse um filho meu. Tanto que a decisão de sair de lá foi difícil. Mas é uma satisfação enorme quando você vê a empresa funcionando. E também há aquela satisfação de testar seus limites. Você fala: eu sou capaz. Eu consegui superar todos obstáculos e vejo a companhia rodando. E no início, as pessoas se juntaram ao projeto porque me conheciam da indústria farmacêutica, então era acreditar no que a Heloisa estava dizendo. Muitos dos talentos foram para a empresa porque confiavam em mim, muitos nem conheciam a companhia, e eu sabia da responsabilidade.
Maturidade Um experiência dessas como a da Leo Pharma traz maturida- de, porque é uma questão de você entender que não bastam só os seus skills, seus potenciais, mas que há a necessidade de grupo, de estratégia, de compartilhar visão, ter mais paciência diante de problemas, pensar um pouco mais, refletir. Por isso, digo que traz maturidade e prepara para enfrentar desafios maiores.
Termômetro Um presidente da BMS ( empresa que ela considera como sua escola) me falou, quando estava começando a carreira: ‘Heloisa, chegue à posição que você chegar, nunca se afaste de seu cliente, nunca se afaste do mercado’. E isso é uma das coisas que eu faço até hoje. Estar junto a todos os nossos clientes, sejam médicos, distribuidores, pacientes, todos aqueles com
Atuação os quais você pode ter contato, para você nunca perder o termômetro do mercado.
Ouvidos abertos Trazendo esse processo para a empresa, é nunca deixar de ouvir todos dentro da organização. Eu faço café da manhã com funcionários de todas as áreas, com líderes, vou para campo, saio com nossos vendedores, visito clientes, vou uma vez por mês para a fábrica, entro na área de produção. Então, eu ouço o que as pessoas estão achando da companhia, ouço sugestões. É importante ter contato com seus clientes internos e externos.
Marcas Uma das marcas que tenho é essa liderança participativa, formação de equipes de alta performance. Outra é o planejamento estratégico, isso é um dos pontos fortes que tenho, que desenvolvi ao longo de toda minha carreira. Um terceiro ponto é a paixão pelo que eu faço. As pessoas que trabalham comigo reconhecem isso e dizem que meus olhos brilham quando eu falo. Eu sou super hands on nas coisas justamente porque adoro o que eu faço. Acho que eu acabo contagiando as pessoas que estão em volta com isso.
O líder No cenário do mundo atual, acho que não existe mais aquela liderança hierarquizada, trancada em uma sala. E se por acaso uma empresa a adota, está fadada ao insucesso. Como você vai avaliar e validar projetos se você está distante? Não dá mais para adotar aquele papel de mandar fazer, ou concentrar tudo com você, por mais experiência que você tenha, o mercado é tão complexo que você não consegue olhar tudo ao mesmo tempo. Você precisa das pessoas, ou por outro lado, você delegar tudo e ficar afastado de tudo. A questão hoje é estar junto, discutir, ajudar, porque acho que a principal função do líder é colocar o grupo alinhado a uma visão de negócio. Essa visão tem de ser construída por várias mãos, com o líder tendo a responsabilidade de ter certeza que ela está alinhada com o que a corporação deseja, com o que é a necessidade da companhia. Mas a construção estratégica deve ser feita por várias mãos.