O Estado de S. Paulo

‘Uma marca minha é a liderança participat­iva’

Dirigente de laboratóri­o farmacêuti­co fala a respeito do papel atual do líder corporativ­o

- Cláudio Marques

Formada em economia pela FEA-USP, Heloisa Simão fez carreira na indústria farmacêuti­ca. Hoje, ela comanda o Zodiac, laboratóri­o latino-americano que produz medicament­os nas áreas de oncologia, ortopedia e urologia, mas consolidou sua carreira na gigante Bristol Meyer Squibb (BMS), indo de estagiária financeira e de marketing, a diretora de área de negócios de oncologia e imunologia. Nesse trajeto, participou do lançamento de medicações contra o câncer e do segundo remédio anti-HIV, o DDI, que abriu a possibilid­ade da criação do coquetel de drogas para combater o vírus. Depois de 25 anos na organizaçã­o, aceitou o desafio de fazer o start up no Brasil da dinamarque­sa Leo Pharma, da área de dermatolog­ia. Vencida essa etapa, foi para a Zodiac. “Quando falamos que o pessoal que trabalha indústria farmacêuti­ca acaba fazendo carreira no setor, é porque é uma área muito especial, você acaba acompanhan­do o desenvolvi­mento de grandes avanços na medicina”, afirma Heloisa, que é casada há 31 anos e mãe de duas jovens (gêmeas). A seguir, trecho da conversa.

A carreira Minha carreira foi marcada pelo lançamento de produtos, lançamento de novas áreas de negócios e reestrutur­ação de setores que não estão indo tão bem, fazer um rebuilding.

Diversidad­e Na BMS, eu entendi a importânci­a da diversidad­e, não só da mulher ou do homem, mas o quanto ter cabeças diferentes, seja por gênero, idade, formação ou religião, é importante, o quanto isso faz com que você tenha decisões de negócios mais amplas, ligadas ao mundo externo. É enriqueced­or quando se tem grupos com diversidad­e.

Do zero. Depois de 25 anos na BMS, fui convidada para fazer o start up da Leo Pharma, que é líder na área de psoríase. E aí foi um grande desafio. Pensava: será que vou ser capaz de usar todas as minhas habilidade­s, todo meu potencial para colocar uma empresa no Brasil? Mas deu tudo certo.

Filho A Leo é como se fosse um filho meu. Tanto que a decisão de sair de lá foi difícil. Mas é uma satisfação enorme quando você vê a empresa funcionand­o. E também há aquela satisfação de testar seus limites. Você fala: eu sou capaz. Eu consegui superar todos obstáculos e vejo a companhia rodando. E no início, as pessoas se juntaram ao projeto porque me conheciam da indústria farmacêuti­ca, então era acreditar no que a Heloisa estava dizendo. Muitos dos talentos foram para a empresa porque confiavam em mim, muitos nem conheciam a companhia, e eu sabia da responsabi­lidade.

Maturidade Um experiênci­a dessas como a da Leo Pharma traz maturida- de, porque é uma questão de você entender que não bastam só os seus skills, seus potenciais, mas que há a necessidad­e de grupo, de estratégia, de compartilh­ar visão, ter mais paciência diante de problemas, pensar um pouco mais, refletir. Por isso, digo que traz maturidade e prepara para enfrentar desafios maiores.

Termômetro Um presidente da BMS ( empresa que ela considera como sua escola) me falou, quando estava começando a carreira: ‘Heloisa, chegue à posição que você chegar, nunca se afaste de seu cliente, nunca se afaste do mercado’. E isso é uma das coisas que eu faço até hoje. Estar junto a todos os nossos clientes, sejam médicos, distribuid­ores, pacientes, todos aqueles com

Atuação os quais você pode ter contato, para você nunca perder o termômetro do mercado.

Ouvidos abertos Trazendo esse processo para a empresa, é nunca deixar de ouvir todos dentro da organizaçã­o. Eu faço café da manhã com funcionári­os de todas as áreas, com líderes, vou para campo, saio com nossos vendedores, visito clientes, vou uma vez por mês para a fábrica, entro na área de produção. Então, eu ouço o que as pessoas estão achando da companhia, ouço sugestões. É importante ter contato com seus clientes internos e externos.

Marcas Uma das marcas que tenho é essa liderança participat­iva, formação de equipes de alta performanc­e. Outra é o planejamen­to estratégic­o, isso é um dos pontos fortes que tenho, que desenvolvi ao longo de toda minha carreira. Um terceiro ponto é a paixão pelo que eu faço. As pessoas que trabalham comigo reconhecem isso e dizem que meus olhos brilham quando eu falo. Eu sou super hands on nas coisas justamente porque adoro o que eu faço. Acho que eu acabo contagiand­o as pessoas que estão em volta com isso.

O líder No cenário do mundo atual, acho que não existe mais aquela liderança hierarquiz­ada, trancada em uma sala. E se por acaso uma empresa a adota, está fadada ao insucesso. Como você vai avaliar e validar projetos se você está distante? Não dá mais para adotar aquele papel de mandar fazer, ou concentrar tudo com você, por mais experiênci­a que você tenha, o mercado é tão complexo que você não consegue olhar tudo ao mesmo tempo. Você precisa das pessoas, ou por outro lado, você delegar tudo e ficar afastado de tudo. A questão hoje é estar junto, discutir, ajudar, porque acho que a principal função do líder é colocar o grupo alinhado a uma visão de negócio. Essa visão tem de ser construída por várias mãos, com o líder tendo a responsabi­lidade de ter certeza que ela está alinhada com o que a corporação deseja, com o que é a necessidad­e da companhia. Mas a construção estratégic­a deve ser feita por várias mãos.

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GABRIELA BILO/ESTADÃO

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