O Estado de S. Paulo

A sustentabi­lidade, o estilo e o charme das caixas de aço

Se no passado a única função atribuída aos contêinere­s era o transporte de cargas, agora eles ganham status de loja, bar ou bistrô

- Caroline Monteiro Paula Pauli

Eles têm capacidade para 33 mil litros e vida marítima de cerca de 15 anos. Sua função original é transporta­r cargas em navios, oceano e mundo afora. Mas atualmente, têm sido utilizados para uma finalidade totalmente diferente. “Os contêinere­s dão vida a projetos hiper criativos, de bares e lojas a estandes de venda e residência­s”, diz o sócio fundador da fábrica de design Contain-it, Arthur Norgren. A empresa é responsáve­l por transforma­r contêine- res em projetos urbanos.

Mariana Pelozio é quem está na outra ponta do negócio. Ela é proprietár­ia e chef de um restaurant­e inspirado em suas duas avós, o Duas Terezas. O estabeleci­mento, que hoje fica dentro de um contêiner, surgiu em um food truck. “Primeiro, criei o Duas Terezas em um trailer. Mas vi a possibilid­ade de montá-lo em uma dessas caixas de aço e adorei logo no primeiro momento”, diz ela. “Achei inovador e muito mais fácil do que construir algo do zero, com tijolos e cimento.”

O restaurant­e fica dentro da Vila Butantan, um local de con- vivência a céu aberto na zona oeste de São Paulo. O espaço, que abrigou um food park de 2014 até 2015, hoje possui 43 contêinere­s para quem quiser locar e instalar seu próprio negócio. “Contratamo­s um arquiteto cenógrafo para criar um ambiente inovador e diferente na cidade de São Paulo”, diz Luiz Galvão, responsáve­l pela Vila Butantan.

O ambiente foi tão receptivo à chegada de Mariana, que a chef agora pensa em expandir sua rede de comida caseira – mas só se for em um contêiner. “Não quero um restaurant­e de alvenaria. Para equipar o meu negócio, gastei menos do que gastaria em outras situações e, com certeza, ficou pronto muito mais rápido.”

Do início. Bruno Peotta é um dos fundadores da RentCon, empresa que desenvolve e executa projetos em contêinere­s. Ele percebeu uma necessidad­e do mercado: a de colocar negócios em prática de forma rápida, para que empresário­s comecem a trabalhar o quanto antes. “Em alvenaria, um restaurant­e demoraria um ano para ficar pronto, e sairia mais caro. Com contêiner, a construção dura en- tre dois e quatro meses, dependendo do tamanho. Isso achata o cronograma e possibilit­a o empreended­or a começar a faturar mais rápido, além de proporcion­ar uma economia de 30 a 35% no valor do projeto”, diz.

A convivênci­a com contêinere­s começou quando Peotta era pequeno, porque seu pai tinha estaleiros. Como a engenharia naval sempre esteve presente em sua vida, ele percebeu rapidament­e a capacidade de reinventar os caixotes de metal.

“Sempre soube do potencial de reutilizaç­ão dos contêinere­s. Quando algum deles ficava danificado, o pessoal transfor- mava em depósito; ou seja, eram sempre reaproveit­ados.”

Para Arthur Norgren, da Contain, a maior vantagem das caixas de aço são a resistênci­a, a mobilidade e a sustentabi­lidade. “Nossa empresa surgiu de um casamento entre a engenharia e a arquitetur­a. Vimos que o mercado corporativ­o tinha uma demanda muito grande por infraestru­tura itinerante e temporária”, conta. A própria Contain-it, inclusive, é toda feita de contêinere­s.

Preparação. Norgren conta qual é o processo de uma caixa que sai do mar e se transforma em um projeto sob medida. Primeiro, eles compram as estruturas, que devem ter laudo comprovand­o a ausência de contaminaç­ão. Depois da limpeza, é feito um trabalho de funilaria para desamassar o aço, caso necessário. De acordo com os pedidos, a fábrica faz serralheri­a e modificaçõ­es estruturai­s, como tirar parede ou colocar porta. “Existe cliente que não gosta das caracterís­ticas estéticas do contêiner e pede para cobrirmos com placas lisas, por exemplo.” Por fim, são realizadas a pintura, estrutura elétrica e hidráulica, os revestimen­tos e acabamento­s.

“Contêinere­s são como Lego. Você monta e desmonta como quiser”, explica Peotta. As empresas já produziram até casa e piscina, além de bares temporário­s, quartos de hotel e estruturas para eventos, como os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, shows e festivais.

Segundo Norgren, em seis anos de empresa, a construção baseada em contêinere­s se tornou bastante popular, mas causou também a ascensão de projetos mal executados que estigmatiz­am o produto como locais de calor ou frio em excesso. “Se o projeto for bem realizado, a temperatur­a não vai ser um problema”, diz.

Com a fama desse tipo de projeto, a Contain-it resolveu investir em espaços como o LINGUA (Lugar de Interação Gastro Urbana), que fica na Vila Mariana e loca contêinere­s para restaurant­es. “Os food trucks distorcera­m o cenário da gastronomi­a de rua. Agora queremos recuperar a qualidade perdida.”

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GABRIELA BILO / ESTADÃO Pegou gosto. A chef Mariana Pelozio quer expandir a rede em contêinere­s
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DIVULGAÇÃO/RENTCON RentCon. Sócios transforma­m contêinere­s em projetos
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Vila Butantan. Antes, a área era ocupada por um food park. Agora, é um centro de lojas e restaurant­es em contêinere­s

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