A sustentabilidade, o estilo e o charme das caixas de aço
Se no passado a única função atribuída aos contêineres era o transporte de cargas, agora eles ganham status de loja, bar ou bistrô
Eles têm capacidade para 33 mil litros e vida marítima de cerca de 15 anos. Sua função original é transportar cargas em navios, oceano e mundo afora. Mas atualmente, têm sido utilizados para uma finalidade totalmente diferente. “Os contêineres dão vida a projetos hiper criativos, de bares e lojas a estandes de venda e residências”, diz o sócio fundador da fábrica de design Contain-it, Arthur Norgren. A empresa é responsável por transformar contêine- res em projetos urbanos.
Mariana Pelozio é quem está na outra ponta do negócio. Ela é proprietária e chef de um restaurante inspirado em suas duas avós, o Duas Terezas. O estabelecimento, que hoje fica dentro de um contêiner, surgiu em um food truck. “Primeiro, criei o Duas Terezas em um trailer. Mas vi a possibilidade de montá-lo em uma dessas caixas de aço e adorei logo no primeiro momento”, diz ela. “Achei inovador e muito mais fácil do que construir algo do zero, com tijolos e cimento.”
O restaurante fica dentro da Vila Butantan, um local de con- vivência a céu aberto na zona oeste de São Paulo. O espaço, que abrigou um food park de 2014 até 2015, hoje possui 43 contêineres para quem quiser locar e instalar seu próprio negócio. “Contratamos um arquiteto cenógrafo para criar um ambiente inovador e diferente na cidade de São Paulo”, diz Luiz Galvão, responsável pela Vila Butantan.
O ambiente foi tão receptivo à chegada de Mariana, que a chef agora pensa em expandir sua rede de comida caseira – mas só se for em um contêiner. “Não quero um restaurante de alvenaria. Para equipar o meu negócio, gastei menos do que gastaria em outras situações e, com certeza, ficou pronto muito mais rápido.”
Do início. Bruno Peotta é um dos fundadores da RentCon, empresa que desenvolve e executa projetos em contêineres. Ele percebeu uma necessidade do mercado: a de colocar negócios em prática de forma rápida, para que empresários comecem a trabalhar o quanto antes. “Em alvenaria, um restaurante demoraria um ano para ficar pronto, e sairia mais caro. Com contêiner, a construção dura en- tre dois e quatro meses, dependendo do tamanho. Isso achata o cronograma e possibilita o empreendedor a começar a faturar mais rápido, além de proporcionar uma economia de 30 a 35% no valor do projeto”, diz.
A convivência com contêineres começou quando Peotta era pequeno, porque seu pai tinha estaleiros. Como a engenharia naval sempre esteve presente em sua vida, ele percebeu rapidamente a capacidade de reinventar os caixotes de metal.
“Sempre soube do potencial de reutilização dos contêineres. Quando algum deles ficava danificado, o pessoal transfor- mava em depósito; ou seja, eram sempre reaproveitados.”
Para Arthur Norgren, da Contain, a maior vantagem das caixas de aço são a resistência, a mobilidade e a sustentabilidade. “Nossa empresa surgiu de um casamento entre a engenharia e a arquitetura. Vimos que o mercado corporativo tinha uma demanda muito grande por infraestrutura itinerante e temporária”, conta. A própria Contain-it, inclusive, é toda feita de contêineres.
Preparação. Norgren conta qual é o processo de uma caixa que sai do mar e se transforma em um projeto sob medida. Primeiro, eles compram as estruturas, que devem ter laudo comprovando a ausência de contaminação. Depois da limpeza, é feito um trabalho de funilaria para desamassar o aço, caso necessário. De acordo com os pedidos, a fábrica faz serralheria e modificações estruturais, como tirar parede ou colocar porta. “Existe cliente que não gosta das características estéticas do contêiner e pede para cobrirmos com placas lisas, por exemplo.” Por fim, são realizadas a pintura, estrutura elétrica e hidráulica, os revestimentos e acabamentos.
“Contêineres são como Lego. Você monta e desmonta como quiser”, explica Peotta. As empresas já produziram até casa e piscina, além de bares temporários, quartos de hotel e estruturas para eventos, como os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, shows e festivais.
Segundo Norgren, em seis anos de empresa, a construção baseada em contêineres se tornou bastante popular, mas causou também a ascensão de projetos mal executados que estigmatizam o produto como locais de calor ou frio em excesso. “Se o projeto for bem realizado, a temperatura não vai ser um problema”, diz.
Com a fama desse tipo de projeto, a Contain-it resolveu investir em espaços como o LINGUA (Lugar de Interação Gastro Urbana), que fica na Vila Mariana e loca contêineres para restaurantes. “Os food trucks distorceram o cenário da gastronomia de rua. Agora queremos recuperar a qualidade perdida.”