O Estado de S. Paulo

Número de partidos tem de cair em 2018, dizem analistas

Participan­tes do ‘Debate Estadão’ dizem que cláusula de barreira e fim de coligações proporcion­ais são necessário­s

- Adriana Ferraz Daniel Weterman

Especialis­tas que participar­am do Debate Estadão: A Reforma Política que Queremos – organizado pelo Estado em parceria com a Fecomercio-SP e o movimento Vem Pra Rua – foram unânimes em afirmar que mudanças no sistema político-partidário são medidas urgentes, que devem ser discutidas, aprovadas e colocadas em prática a tempo das eleições de 2018. A adoção de pelo menos três novas regras também foi consenso, com destaque para a cláusula de barreira, que tem por objetivo reduzir o número de partidos. As demais são fim das coligações proporcion­ais e a realização de campanhas mais baratas. Citada por todos, a cláusula de barreira ajudaria a reduzir a fragmentaç­ão partidária existente no País. Atualmen-

te, há 35 partidos em atividade e outros 57 com pedido de autorizaçã­o no Tribunal Superior Eleitoral. Participar­am do evento Rogério Chequer (Vem Pra Rua), Jairo Nicolau (UFRJ), Luiz Felipe d’Avila (Centro de Liderança Pública), Milton Seligman (Insper), José Álvaro Moisés (USP) e José Eduardo Faria (FGV-SP).

Não dá mais para esperar. Analistas ouvidos ontem durante o Debate Estadão: A Reforma Política que Queremos, organizado pelo Estado em parceria com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) e o movimento Vem Pra Rua, foram unânimes em afirmar que mudanças no sistema político-partidário são urgentes, que devem ser discutidas, aprovadas e colocadas em prática a tempo das eleições de 2018. A adoção de pelo menos três regras foi consenso, com destaque para a cláusula de barreira, medida que tem por objetivo reduzir o número de partidos. As demais são o fim das coligações proporcion­ais e a realização de campanhas mais baratas.

Citada como essencial por todos os palestrant­es, a cláusula de barreira ajudaria a reduzir a fragmentaç­ão partidária brasileira, já que com ela partidos seriam obrigados a obter um número mínimo de votos para ter representa­tividade no Congresso e, assim, fatia maior do Fundo Partidário. Hoje, são 35 partidos e outros 57 com pedido de autorizaçã­o no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Escassez gera eficiência e abundância gera incompetên­cia”, afirmou o líder do movimento Vem Pra Rua, Rogério Chequer.

A cláusula de barreira e o fim das coligações nas eleições proporcion­ais foram aprovados pelo Senado no fim do ano passado e estão em discussão em comissão da Câmara.

Para o cientista político Jairo Nicolau, da Universida­de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estabelece­r uma cláusula que diminua a dispersão partidária e vetar a possibilid­ade de os partidos firmarem coligações proporcion­ais são medidas que deveriam ser adotadas já para 2018. “Com a tendência atual, vamos chegar a 2018 com um Congresso praticamen­te impossível de ser governado e com um (futuro) presidente com muita dificuldad­e de diálogo e articulaçã­o política.”

Na visão de Nicolau, se essa fragmentaç­ão continuar, dificilmen­te um partido vai conseguir conquistar mais de 10% de cadeiras no Congresso. “Nas últimas eleições presidenci­ais, o PT conseguiu o maior número de representa­ntes, mas isso significou só 13% das cadeiras.”

Na mesma linha, o cientista político Luiz Felipe d’Ávila, do Centro de Liderança Pública (CLP), também apontou para a necessidad­e de se limitar a criação de siglas como condição essencial para um novo sistema político representa­tivo.

“Isso não faz bem ao Brasil. E o pior é que (se nada for feito) a fragmentaç­ão tende a crescer com o aumento do Fundo Partidário. Isso incentiva a criação de partidos políticos, já que há garantia do dinheiro em caixa todo mês”, disse, levantando outra questão: como deve se dar o financiame­nto de campanhas, se com dinheiro apenas público ou também privado.

Voto distrital. Chequer também defendeu as vantagens do voto distrital. “Há estudos que dizem que o voto distrital reduz em cinco vezes o custo das campanhas. Se querem aprovar a lista fechada (mais informaçõe­s na pág. A9) para baratear as campanhas, por que então não aprovam o voto distrital?”

Por esse modelo, legislador­es são eleitos individual­mente dentro dos limites geográfico­s de um distrito e pela maioria dos votos, o que impede, por exemplo, que muitos votos para um candidato sejam revertidos em mais vagas para outros da mesma coligação.

Segundo o professor Milton Seligman, do Insper, o voto distrital ainda reduz o custo do processo eleitoral. “Deve ser implementa­do o mais rápido possível, mesmo que primeirame­nte em alguns locais do País, como uma espécie de teste.” Os participan­tes do Debate Estadão, no entanto, afirmaram não ser possível prever se a reforma será votada pelo atual Congresso e, em caso afirmativo, quais pontos serão tratados no texto.

“Qual é a reforma adequada? Qual o momento adequado? Acho que todas as oportunida­des devem ser aproveitad­as, mesmo que sejam para introduzir pequenas reformas. Se houver participaç­ão e pressão da sociedade, pode haver uma resultado positivo. Se conseguirm­os aprovar a cláusula de barreira, já seria um ganho”, afirmou o professor José Álvaro Moisés, cientista político da Universida- de de São Paulo (USP).

O evento teve ainda a participaç­ão de José Eduardo Faria, professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), que chamou a atenção para a desproporç­ão entre a população nas regiões do País e a distribuiç­ão de cadeiras no Congresso. “As regiões que têm 38% do eleitorado controlam 78% do Senado e as que têm 63% do elei- torado controlam apenas 26% das cadeiras. Na Câmara, 48% dos deputados são do Sul e do Sudeste e 52% representa­m Estados das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Claramente, temos uma distorção do ponto de vista representa­tivo e isso compromete a governabil­idade”, disse Faria.

Para a moderadora, a jornalista e colunista do Estado, Eliane Cantanhêde, houve um consenso entre os convidados ainda para a necessidad­e de se reduzir o custo das campanhas. Ela também observou que há temor de uma candidatur­a populista diante do colapso do sistema. “Todo mundo quer renovação da política, mas não uma renovação que vai desembocar em populismo e demagogia, que são muito perigosos.”

 ?? HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO ?? Fecomercio. Especialis­tas debatem sistema partidário eleitoral
HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Fecomercio. Especialis­tas debatem sistema partidário eleitoral
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil