‘Sempre pela garagem, viu?’, diz Temer a Joesley
PF revela trechos de áudio antes inaudíveis entre presidente e dono da JBS; ‘Gravação transpira irregularidades’, rebate perito da defesa
Perícia do Instituto Nacional de Criminalística (INC), ligado à Polícia Federal, recuperou trechos da conversa entre o presidente Michel Temer e Joesley Batista, dono da JBS, na noite de 7 de março, no Palácio do Jaburu. Em um desses trechos, até então inaudíveis, Temer faz uma recomendação ao empresário: “Sempre pela garagem, viu?”.
A frase consta da perícia da PF após um “pente-fino” sobre o arquivo gravado em um pen drive que foi entregue como parte da delação de Joesley. Naquela noite, Joesley e Temer se reuniram por cerca de 40 minutos.
Na metade do encontro, de acordo com o trecho recuperado, o executivo diz ao presidente: “Eu, eu prefiro combinar assim, ó: se for alguma coisa que eu precisar, tal, então eu falo com Rodrigo, se for algum assunto desse tipo aí...”.
Rodrigo a quem Joesley se referia era o ex-assessor especial do presidente e ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Temer e seu aliado foram denunciados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por corrupção passiva. Loures está preso. A gravação feita por Joesley é um dos pilares da denúncia de Janot contra Temer.
O advogado do presidente, Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, afirmou que vai contestar o uso das gravações como prova, uma vez que diferentes laudos apontam que houve interferências. “O mesmo laudo que fundamentou a peça acusatória e afirma não haver edição comprova a existência de 180 paralisações. Três outros peritos confirmam haver adulteração”, disse Mariz de Oliveira. “Contestamos, portanto, a autenticidade da gravação. Dessa forma, o áudio não pode ser considerado como prova de responsabilidade penal.”
Mariz de Oliveira afirmou que, mesmo que fique provada a legitimidade da gravação, “ela não poderá ser considerada como prova de culpa”. “Seu conteúdo não demonstra nenhuma prática de crime por parte do presidente, assim, repele-se veementemente a acusação de corrupção”, afirmou. “Ademais, saliente-se: a utilização de uma gravação por um dos interlocutores é prova ilícita, salvo tenha sido feita para a defesa de quem a gravou, o que não é o caso.”
Perito. O perito Ricardo Molina, contratado pela defesa de Temer, partiu para o contra-ataque. Ele desqualificou o trabalho da PF e disse que o áudio “continua a ser imprestável”.
Segundo Molina, o laudo é “cheio de evasivas, nunca é conclusivo nem categórico”. “Essa gravação transpira irregularidade”, declarou o perito, afirmando que 6 minutos e 18 segundos da gravação, equivalentes a 23% da conversa, foram suprimidos. “Em nenhum momento, a PF provou que a gravação é autêntica.”
A perícia da PF, no entanto, afirma que a análise do áudio “afastou a ocorrência de qualquer forma de adulteração, atestando, assim, a legitimidade plena da prova para a instrução criminal”.