Cena 11 se impõe desafios em busca de novas rotas
Intercâmbio com artistas mexicanos acompanha processo de pesquisa e criação de companhias
Acaba hoje, dia 18, às 19h, na Sala Corpo & Arte do Sesc Vila Mariana, a residência que o Grupo Cena 11, de Florianópolis, realizou com artistas mexicanos: Olga Gutiérrez, do Laboratório puntoD, e Diana Bayardo e Gervasio Cetto Bojorquez, da Makina de Turing. O compartilhamento do resultado com o público pontua a primeira fase de uma nova criação do Cena 11, provisoriamente chamada de NAU – Novas Rotas Antiesquecimento, projetada para estrear no próximo ano, caso consigam coproduzi-la.
Essa residência, com todas as atividades gratuitas, foi composta por workshops com 30 selecionados; duas aulas abertas ao público, sem exigência de experiência em dança; e, a princípio, 15 ouvintes, que se transformaram em participantes.
“Pela primeira vez, fizemos uma residência no início de um processo de criação e ela nos trouxe uma curva esquisita, o que só pode acontecer quando se está no começo, sem nada para retroalimentar. Foi muito bom para desafiar as experiências mais estáveis do Cena 11 e tentar encontrar rotas singulares, que não sejam como as que costumamos trabalhar”, diz Alejandro Ahmed, diretor da companhia.
Alejandro já havia trabalhado com os três convidados mexicanos em Guadalajara, em 2015, que haviam manifestado interesse em vir para cá. “A ideia é que eles levem dispositivos para aplicar lá, bem como todas as pessoas da residência, pois o propósito não foi o de garimpar vocabulário para o novo trabalho, e sim, investigar o estado de consciência existente no estado de presença com os objetos no espaço”, explica.
Seu interesse pela América Latina se insere nas reflexões sobre o futuro. “Essa aproximação serve como um dispositivo para lidar com os pontos cegos de memória, que não nos deixam ver a América Latina e as rotas para nela navegar, pois nem sabemos por onde começar, apesar de tantas condições semelhantes para produção artística”, adianta Alejandro.
Além dele, o Cena 11 é formado por Karen Serafin, Hedra Rockenbach, Mariana Romagnini, Aline Blasis, Natasha Zacheo, Edu Reis, Marcos Kahn, Jussara Belchior e Malu Rabelo. Preocupado com a viabilização da sua continuidade, o grupo pensa agora em descobrir uma outra maneira de funcionar.
“O ano que vem deverá ser ainda mais difícil do que os dois últimos foram, o que nos obriga a pensar em outro modo de criar. Queremos descobrir como manter vínculos estéticos e técnicos com quem não precisa ficar junto o tempo todo. O jeito como funcionamos durante nossos 23 anos de vida dificulta a nossa viabilidade de permanência. Ficamos isolados e precisamos de mais trocas. A novidade maior será, talvez, uma mudança de formato. Não queremos trabalhar por projeto e nem continuar a empurrar o que se torna cada vez mais pesado.”
Conta do seu interesse em descobrir como fazer para, ao mesmo tempo, praticar modos de trabalho a distância e manter a possibilidade de continuar a formar bailarinos para a companhia, o que custa tempo e a necessidade de morar em Florianópolis. “Pensando em viabilizar lugares e encontros em que pudermos trabalhar bem com o nosso modo de fazer composição, cultivo e treinamento como uma coisa só.”
O Cena 11 volta a São Paulo para apresentar seu mais recente trabalho, Protocolo Elefante, na Bienal de Dança do Sesc, em Campinas e, depois, vai mostrá-lo em uma turnê por quatro cidades da Alemanha, em novembro. Nessa mesma Bienal, estreia Mundo Algodão, sua criação em parceria com Sheila Ribeiro, com música de Tom Monteiro. O grupo tem planos de voltar a São Paulo para continuar a testar novos formatos para a sua continuidade.