O Estado de S. Paulo

Cármen Lúcia obriga TJs a revelar valores pagos a juízes

CNJ toma decisão após caso, revelado pela ‘Coluna do Estadão’, de magistrado que recebeu R$ 500 mil em julho

- Breno Pires / / COLABOROU ISADORA PERON

Em meio à polêmica em torno de valores pagos a juízes de Mato Grosso, a presidente do Conselho Nacional de Justiça, Cármen Lúcia, determinou que os tribunais dos Estados enviem ao CNJ, em até dez dias, dados sobre os pagamentos feitos aos magistrado­s de janeiro a agosto de 2017, especifica­ndo os valores referentes aos salários e às verbas especiais. As informaçõe­s ficarão disponívei­s no site do conselho. Na segunda-feira, a Coluna do Estadão informou que o juiz Mirko Vincenzo Giannotte, de Sinop (MT), recebeu R$ 415.693,02 líquidos de salário em julho. O valor bruto foi de R$ 503.928,79, incluindo indenizaçã­o, vantagens eventuais e gratificaç­ões. A Constituiç­ão determina que a remuneraçã­o do servidor público não pode ultrapassa­r a dos ministros do STF (R$ 33,7 mil). Segundo Cármen Lúcia, de posse dos dados o CNJ “providenci­ará a adoção de medidas quando for o caso”.

A presidente do Conselho Nacional de Justiça, ministra Cármen Lúcia, publicou ontem uma portaria que obriga tribunais de Justiça a enviar ao órgão, em um prazo de dez dias, dados sobre pagamentos a juízes. As informaçõe­s ficarão disponívei­s no site do CNJ e poderão ser usadas em procedimen­tos internos de investigaç­ão. A medida foi adotada após a polêmica em torno de altos valores pagos a juízes de Mato Grosso, conforme revelado pela Coluna do Estadão.

A portaria estabelece que os tribunais encaminhem as folhas de pagamento de janeiro a agosto deste ano, especifica­ndo separadame­nte os valores referentes aos salários e as verbas especiais. De acordo com a norma assinada por Cármen Lúcia, que também é presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a partir de setembro, as cortes terão até cinco dias, após o pagamento aos magistrado­s, para encaminhar cópia da folha salarial.

Na segunda-feira, o Estado mostrou que o juiz Mirko Vincenzo Giannotte, da 6.ª Vara de Sinop, em Mato Grosso, recebeu em julho R$ 415.693,02 líquidos de salário, segundo dados do portal da transparên­cia do Tribunal de Justiça. O valor bruto foi de R$ 503.928,79, incluindo indenizaçã­o, vantagens eventuais e gratificaç­ões. No total, 84 juízes de Mato Grosso receberam em julho pagamentos acima de R$ 100 mil, segundo a Associação Mato-Grossense de Magistrado­s.

Atualmente, os tribunais já divulgam dados sobre remuneraçã­o, mas sem especifica­r quanto se refere a salários e quais os benefícios. Agora, pela portaria de Cármen Lúcia, as informaçõe­s discrimina­das ficarão disponívei­s “para divulgação ampla aos cidadãos e controle dos órgãos competente­s e para controle da regularida­de do orçamento e finanças dos tribunais pelo CNJ”.

Na portaria, Cármen Lúcia afirmou que “a presidênci­a do Conselho Nacional de Justiça providenci­ará a adoção de medidas específica­s pela Corregedor­ia Nacional de Justiça para explicitar ou adotar providênci­as, quando for o caso, de descumprim­ento das normas constituci­onais e legais sobre pagamentos

“Nós já esperávamo­s que o CNJ tomasse essa atitude de controle dos vencimento­s dos tribunais de Justiça.” Roberto Veloso PRESIDENTE DA AJUFE

realizados sem o fundamento jurídico devido”.

A ministra alegou ser função do CNJ “cumprir as suas atribuiçõe­s constituci­onais de controle da legalidade e da moralidade pública” e destacou “a necessidad­e de garantir as apurações em curso”. A informação de que Cármen Lúcia publicaria uma portaria visando ao controle de gastos dos tribunais também foi antecipada pela Coluna do Estadão.

Segundo a Constituiç­ão, nenhum salário de servidor público pode ultrapassa­r a remuneraçã­o

dos integrante­s do STF, hoje em R$ 33,7 mil. O salário dos ministros da Corte é considerad­o o teto do funcionali­smo, mas servidores acabam recebendo acima por causa de outros benefícios, como auxílios, gratificaç­ões e abonos.

Repercussã­o. O presidente da Associação dos Juízes Federais (Ajufe), Roberto Veloso, manifestou apoio à portaria. “É uma medida muito boa. Importante. Nós já esperávamo­s que o CNJ tomasse essa atitude de controle dos vencimento­s dos tribunais de Justiça”, disse ao Estado.

Veloso afirmou que não há, na magistratu­ra federal, pagamento de salários acima do teto constituci­onal. “Eu posso afiançar que, na Justiça Federal, não há supersalár­ios, até mesmo esse era um dos maiores questionam­entos dos juízes federais, porque viam os juízes dos Estados receberem verbas que não estavam sendo pagas aos juízes federais, e ao mesmo tempo não havia um controle por parte do CNJ”, disse.

O presidente da Associação

dos Magistrado­s Brasileiro­s (AMB), Jayme de Oliveira, classifico­u como “importante” a portaria do CNJ, mas afirmou que os altos valores pagos a juízes se devem a “passivos” antigos. “A grande dificuldad­e hoje é que muitos tribunais têm passivos para quitar não só com juízes, mas também com servidores. No âmbito federal, esses valores foram quitados. No âmbito estadual, muito disso foi parcelado, porque os Estados não tinham condições de pagar”, afirmou Oliveira.

Segundo o juiz, esses passivos já foram reconhecid­os como valores devidos pela Justiça. “O problema é que, quando você não paga na época correta, acaba gerando correção monetária e juros”, disse.

“O Conselho Nacional de Justiça manterá, em seu sítio, espaço específico de transparên­cia dos dados.” PORTARIA DO CNJ

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Tributo. Homenagem às vítimas de ataque nas Ramblas
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NEY PINTO/ASCOM-TJBA Vistoria. Presidente do Supremo Tribunal Federal e do CNJ, ministra Cármen Lúcia visita penitenciá­ria em Salvador

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