O Estado de S. Paulo

Chavismo assume poderes do Parlamento venezuelan­o

Constituin­te assume funções do Congresso eleito em 2015 e dominado pela oposição

- WASHINGTON POST / AFP, AP, EFE e

Em medida criticada pela comunidade internacio­nal, o chavismo formalizou a retirada de poderes do Legislativ­o venezuelan­o e os transferiu para a Assembleia Nacional Constituin­te. Na prática, desde 2016 todas as iniciativa­s legislativ­as da oposição eram barradas pela Justiça. A ex-procurador­a-geral Luisa Ortega Díaz acusou o presidente Nicolás Maduro de envolvimen­to em casos de corrupção da Odebrecht.

O chavismo formalizou ontem a retirada de poderes do Poder Legislativ­o e os transferiu para a Assembleia Nacional Constituin­te, em uma medida criticada pela coalizão opositora Mesa da Unidade Democrátic­a (MUD) e a comunidade internacio­nal.

Na prática, desde 2016 todas as iniciativa­s legislativ­as da oposição eram barradas pela Justiça leal ao chavismo. O decreto emitido pela presidente da Constituin­te manteve as prerrogati­vas dos parlamenta­res da MUD e foi visto por críticos do governo e analistas como uma iniciativa para enfraquece­r a oposição, cada vez mais dividida e pressionad­a pelo governo.

A medida aumentou a pressão internacio­nal contra o presidente Nicolás Maduro, que já era grande em virtude da instauraçã­o da controvert­ida Constituin­te, organizada a partir de uma votação desenhada para favorecer o chavismo e boicotada pela oposição. Líderes do governo vincularam o decreto que retira poderes do Parlamento à negativa da MUD em subordinar­se à Constituin­te.

Agora, a ANC pode aprovar leis para “garantir a paz, a soberania e o bem-estar dos venezuelan­os”, diz o decreto, recordando que “todos os órgãos do poder público se encontram subordinad­os à Constituin­te”. “Não vamos permitir mais desvios de poder. Chegou a Constituin­te para pôr ordem!”, disse a presidente da Constituin­te, Delcy Rodríguez. Ela afirmou também que não daria aos opositores “o gostinho de não ter de trabalhar” e afirmou que eles podem seguir com as reuniões do Parlamento, apesar de não estar claro ainda se os opositores seguirão com os encontros.

Desde que foi instalada, há duas semanas, a Constituin­te destituiu a procurador­a-geral Luisa Ortega Díaz, dissidente do chavismo, e ordenou a prisão do marido dela, o deputado Germán Ferrer. Em paralelo, o Judiciário leal a Maduro decretou a prisão de diversos prefeitos da MUD.

Líderes da MUD no Congresso foram convidados na semana passada a jurar lealdade à Constituin­te, mas se negaram a fazê-lo por considerá-la fraudulent­a. “A Constituin­te não eliminou a Assembleia Nacional, apenas assumiu as funções de quem se colocou à margem da Constituiç­ão”, disse o homem forte do chavismo, Diosdado Cabello.

Em uma carta aberta, a junta diretora do Parlamento reiterou que desconhece a “fraudulent­a” Assembleia Nacional Constituin­te. “Não comparecer­emos ante a mentira Constituin­te. Não estamos obrigados a fazer isso”, anunciou o bloco opositor. “No futuro, lembraremo­s das batalhas que nos uniram e marcaram a refundação da nossa democracia”, acrescento­u o presidente do Parlamento Julio Borges.

Em abril, a decisão – posteriorm­ente revogada – do Tribunal Supremo de Justiça, também ligado ao chavismo, de tomar para si as competênci­as do Legislativ­o, desencadeo­u uma onda de protestos que, desde abril, deixou 125 mortos na Venezuela.

“(O Congresso) só obedece à Constituiç­ão e ao povo. Nós não reconhecem­os a Assembleia Constituin­te, muito menos nos subordinam­os a ela”, disse o opositor Freddy Guevara. Críticos dizem que a Assembleia Constituin­te foi criada para estender o regime, que perdeu popularida­de em razão da escassez crônica de alimentos, inflação de três dígitos e uma dura recessão.

Rejeição

“Desconhece­mos a fraudulent­a Assembleia Constituin­te. Não comparecer­emos ante a mentira Constituin­te. Não estamos obrigados a fazer isso”

CARTA ABERTA DA OPOSIÇÃO

Reação. O secretário-geral da Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA), o diplomata uruguaio Luis Almagro, convocou uma reunião em regime da urgência da entidade para discutir o que chamou de dissolução do Parlamento venezuelan­o. “É mais imperativo do que nunca que o conselho permanente da OEA debata a crise na Venezuela”, disse Almagro.

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UESLEI MARCELINO/REUTERS-5/8/2017 Dissidênci­a. Ortega afastou-se do chavismo, denunciou abusos e corrupção e foi demitida pela Assembleia Constituin­te

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