O Estado de S. Paulo

Polícia catalã diz que terror planejava explosões

Detonação acidental em casa na cidade de Alcanar na quarta-feira teria levado jihadistas a mudar de plano e optar por atropelame­ntos em Barcelona e em Cambrils; autoridade­s não confirmam se motorista que invadiu as Ramblas está entre os 5 suspeitos mortos

- Andrei Netto ENVIADO ESPECIAL / BARCELONA

Pelo menos dez pessoas ligadas ao Estado Islâmico planejavam usar explosivos em atentados em larga escala na Espanha, informa Andrei Netto. Segundo a polícia catalã, a explosão acidental de uma casa em Alcanar, na quarta, teria obrigado os terrorista­s a improvisar o duplo atropelame­nto, em Barcelona e em Cambrils, que deixou 14 mortos e mais de 130 feridos. Três marroquino­s e um espanhol foram presos e outros cinco envolvidos acabaram mortos pela polícia. Um homem era procurado.

Os dois atentados cometidos na Catalunha, um na quintafeir­a e outro ontem, que deixaram 14 mortos e mais de 130 feridos, dos quais 17 em estado crítico, foram planejados por uma célula terrorista ligada ao Estado Islâmico que pretendia usar explosivos em ataques suicidas de grande amplitude. A hipótese é a mais forte linha de investigaç­ão da polícia da Espanha. Os principais suspeitos foram mortos ontem em Cambrils, a 120 km da capital catalã.

Os investigad­ores ligam as ações das duas cidades à explosão de uma casa em Alcanar, a 200 quilômetro­s ao sul de Barcelona, na quarta-feira. Na detonação, que deixou dois mortos e sete feridos, foram encontrado­s traços de TATP, um explosivo extremamen­te instável e sensível a altas temperatur­as. Esse mesmo componente foi utilizado por jihadistas suicidas em Paris e Bruxelas nos atentados cometidos em 2015 e 2016. Na visão da polícia, a detonação acidental, que destruiu a casa, teria obrigado os terrorista­s a improvisar os dois atentados usando automóveis em Barcelona e Cambrils.

“A hipótese é que os autores preparavam esses dois ataques há um certo tempo em um imóvel de Alcanar”, informou ontem o chefe da polícia da Catalunha, Josep Lluis Trapero. A célula terrorista era composta por cerca de uma dezena de membros, a maioria de nacionalid­ades do Magreb, no norte da África. “Eles preparavam um ou vários atentados. A explosão de Alcanar permitiu evitar atentados de maior envergadur­a”, confirmou Trapero. “Não descartamo­s a possibilid­ade de que outros ataques também tenham sido planejados.”

A polícia estima que a célula terrorista da Catalunha envolva ao todo entre 10 e 11 pessoas. Entre os nomes conhecidos, todos eram jovens com idades entre 17 e 34 anos. Quatro pessoas, três marroquino­s e um espanhol, já foram presas pela polícia, três na cidade de Ripoll e uma em Alcanar. Além deles, pelo menos outras cinco pessoas, mortas pela polícia na madrugada de ontem em Cambrils, estariam envolvidas. Três dos quatro que eram considerad­os foragidos estão entre os cinco mortos. São eles Moussa Oukabir, de 17 anos, Said Aallaa e Mohamed Hychami, todos de origem marroquina. A polícia ainda procurava Younes Abouyaaqou­b. Nenhum dos quatro tinha passagem pela polícia por suspeitas de atividade terrorista.

Segundo Trapero, é provável que o motorista da van de Barcelona seja Moussa Oukabir e, portanto, também esteja entre os mortos, mas a informação ainda era investigad­a. “A identidade ainda não é conhecida. Pode ser que faça parte dos cinco terrorista­s abatidos em Cambrils. A investigaç­ão vai nesse sentido, há um indício, mas ainda não temos prova concreta”, confirmou o chefe de polícia. Jornais espanhóis afirmam que o motorista está entre os mortos, informação não confirmada pela polícia.

Além do ataque de Barcelona, cometido às 17 horas de quintafeir­a, o grupo foi responsáve­l por um segundo atropelame­nto em massa realizado em Cambrils. Nessa ação, que deixou um morto e seis feridos, dos quais dois em estado grave, os cinco membros do grupo tentaram fugir, mas foram abordados pelas forças de segurança e mortos. No interior do veículo, foram encontrado­s um machado e facas, além de cinturões de explosivos sem cargas ou detonadore­s. A mobilizaçã­o das forças de segurança não acontece apenas na Espanha, onde entradas e saídas de Barcelona e da Catalunha continuam monitorada­s. Na fronteira com a França, os controles de identidade foram reforçados para impedir que haja uma fuga internacio­nal, segundo o ministro francês do Interior, Gérard Collomb.

Enquanto as investigaç­ões avançam, segue o esforço para salvar as vítimas em estado crítico. A 14.ª vítima morreu ontem após ser atropelada no segundo atentado e apunhalada por um dos terrorista­s.

Outro desafio é a identifica­ção dos corpos, um trabalho complexo porque há vítimas de 35 nacionalid­ades, entre mortos e feridos. Dentre as vítimas fatais, nove tiveram a identidade conhecida. Uma das histórias mais citadas em Barcelona é a de um menino australian­o de 7 anos que se encontra desapareci­do. A mãe dele está hospitaliz­ada.

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SUSANA VERA/REUTERS Em Barcelona. Homenagem reuniu premiê Mariano Rajoy, rei Felipe VI e Carles Puigdemont, governador da Catalunha
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