O Estado de S. Paulo

João Domingos

- E-MAIL: JOAODOMING­OS56@GMAIL.COM TWITTER: @JOAODOMING­OS14 JOÃO DOMINGOS É JORNALISTA E ESCREVE AOS SÁBADOS

Será difícil para o PSDB convencer o eleitor de que não tem nada a ver com Temer.

Amenos de uma semana de completar 28 anos de existência, o PSDB vive seu maior dilema: ser governo, ser oposição, equilibrar­se em cima de uma mureta? Qualquer saída que se ache não resolverá o drama existencia­l do partido, porque é um drama agravado pela rejeição do eleitor ao comportame­nto dos políticos, conforme se vê a cada nova pesquisa de opinião que é divulgada.

Diante dessa realidade, parte do PSDB acha que deve permanecer ao lado de Michel Temer e parte acredita que a salvação do partido está no afastament­o imediato do governo. Tal providênci­a, no entanto, dificilmen­te convencerá o eleitor de que o PSDB, por se distanciar de Temer, merece credibilid­ade maior. Não dá para crer que uma providênci­a tão singela vá convencer o eleitor a mudar sua opinião.

Para o eleitor, os políticos são praticamen­te iguais. O PSDB não pode se considerar diferente, porque não é. Quando o governo do Rio se viu obrigado a mandar à Assembleia Legislativ­a um projeto de lei que autorizava a privatizaç­ão da Cedae, a companhia de água e esgotos do Estado, os tucanos se posicionar­am contra a proposta. Ora, a vida toda o PSDB espalhou a ideia de que é a favor de um Estado mínimo e da privatizaç­ão de estatais. Como a venda da Cedae não beneficiar­ia o partido, ficou contra. Naquele momento, igualou-se aos outros, pisou em sua história.

O dilema existencia­l dos tucanos nem deveria existir. O PSDB, como o DEM e o PPS, os três que faziam oposição ao governo petista, apoiou o impeachmen­t de Dilma Rousseff e ofereceu sustentaçã­o ao governo Michel Temer.

As reformas tiveram início, foram muito bem e os tucanos ficaram cada vez mais animados com a possibilid­ade da volta ao poder. Até porque Temer, que não é bobo, bateu à porta de cada um dos possíveis candidatos do PSDB à Presidênci­a da República para lhes dizer que deixaria para o sucessor uma máquina azeitadinh­a, com as contas em dia, com o equilíbrio fiscal garantido.

Veio a revelação da conversa entre Temer e o empresário Joesley Batista, uma conversa para lá de esquisita, muitas vezes explicada, mas nunca o suficiente para convencer, e tudo desandou. Não só para Temer, mas também para o PSDB, porque o presidente do partido, senador Aécio Neves (MG), foi pego em um papo compromete­dor com o empresário. Daqueles de dar vergonha alheia.

A partir daí, parte do PSDB começou a achar que estava na hora de abandonar Michel Temer. A eleição está chegando e a proximidad­e com o presidente poderia ser contagiosa.

Ninguém garante, e é sempre bom repetir, que o eleitor vai cair nessa conversa. Difícil não associar a imagem do PSDB com a do governo Michel Temer. Também é impossível pensar em reformas que visam à busca do equilíbrio fiscal, como a do Teto dos Gastos, sem pensar que por trás delas não está um tucano.

Qualquer coisa pode acontecer na política. Até mesmo nada. Por isso, também não dá para dizer que o PSDB vai se dar muito mal ao repelir o governo Temer. Mas é mais lógico pensar que o partido se sairia melhor se ficasse ao lado do governo.

Se o País retomar o cresciment­o econômico, e se a geração de empregos voltar, os tucanos teriam pelo menos uma bandeira a levantar nas eleições, dizendo-se inspirador­es da ideia das reformas.

Caso o governo Temer termine em um grande fracasso, os tucanos dirão que se afastaram porque perceberam a fria em que entraram? Esse campo já pertence ao PT. Dirão que o governo do PMDB estava metido em irregulari­dades? E eles? E a conversa de Joesley com Aécio? E a imagem da mala de dinheiro que circulou pelos jornais de TV do Brasil e do mundo? Essas imagens estão presentes na cabeça do eleitor. Só o PSDB acha que não estão.

Será difícil convencer o eleitor de que os tucanos não têm nada a ver com Temer

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