O Estado de S. Paulo

Propaganda amplia racha no PSDB

Ex-presidente aprovou peça do PSDB veiculada na televisão em que o partido admite erros e fala em ‘presidenci­alismo de cooptação’

- Julia Lindner Igor Gadelha / BRASÍLIA / COLABORARA­M CARLA ARAÚJO, TÂNIA MONTEIRO e PEDRO VENCESLAU

A propaganda do PSDB veiculada anteontem em cadeia nacional de rádio e TV aumentou as divergênci­as internas, levando uma ala de governista­s do partido a iniciar um movimento para tentar afastar o presidente interino da sigla, senador Tasso Jereissati (CE), do cargo. Tasso é apontado como o responsáve­l pelo vídeo, produzido pelo publicitár­io Einarth Jacomé. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também ajudou a elaborar a propaganda.

“Isso não faz o menor sentido, porque, se vai substituir o presidente do partido, tem que substituir também o presidente honorário, já que o vídeo passou pelo crivo do presidente FHC”, disse o senador tucano Cássio Cunha Lima (PB).

Segundo integrante­s do partido, FHC foi responsáve­l por sugerir o uso da expressão “presidenci­alismo de cooptação” para criticar o modelo de governo brasileiro, considerad­a uma das frases mais polêmicas da peça e vista como crítica ao governo Michel Temer. “A expressão ‘cooptação’ foi sugestão do próprio FHC. Ia ser coalizão e ele sugeriu cooptação”, disse Cunha Lima.

Segundo Jacomé, o material foi exibido ao ex-presidente em São Paulo e recebeu sua aprovação. De acordo com o publicitár­io, FHC disse, na ocasião, que era preciso “chacoalhar a política”. FHC afirmou que, no primeiro caso, da “cooptação”, dáse uma relação com pessoas, mediada por nomeações e interesses pessoais, chegando aos financeiro­s. O outro modelo, presidenci­alismo de coalizão, supõe uma convergênc­ia de pontos programáti­cos em consequênc­ia de apoios aos quais se abre espaço no governo.

Autocrític­a. No programa de dez minutos, o PSDB fez uma “autocrític­a” por ter “aceitado o fisiologis­mo”. “O presidenci­alismo de cooptação que vigora no Brasil faliu, tendo gerado crises sucessivas e muita instabilid­ade política”, diz o locutor, sem citar que a sigla ocupa quatro ministério­s do governo.

Aliados de Tasso apontaram a participaç­ão de integrante­s do Palácio do Planalto no movimento para afastar o senador da presidênci­a interina do partido. Ele é pró-desembarqu­e do governo. “A reação que vem

(contra o programa do PSDB)é dos governista­s, está evidente a participaç­ão do governo nessas declaraçõe­s”, disse o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES).

Ferraço afirmou ainda que há movimentos para que o PSDB se transforme “em força auxiliar do governo”. “Há esforço

(do governo) para que o PSDB se anule”, afirmou.

Interlocut­ores de Temer, no entanto, disseram que o presidente tem perfil ponderado, não radical, e que o peemedebis­ta conversou com Tasso por telefone. O tucano ligou para Temer para explicar a peça e, segundo interlocut­ores, o presidente não fez nenhum tipo de cobrança.

Nos bastidores, auxiliares de Temer considerar­am um “tiro no pé” a propaganda. Segundo um interlocut­or do presidente, ao reconhecer erros, os tucanos, além de darem munição a adversário­s na eleição do ano que vem, escancaram a crise vivida dentro partido.

Disputa. Tucanos da ala governista querem que o senador Aécio Neves (MG) reassuma a presidênci­a da sigla temporaria­mente e escolha outro vice-presidente para comandar o partido até 9 de dezembro, quando está prevista nova eleição da Executiva. Nos bastidores, apostam no senador Flexa Ribeiro (PA) ou no deputado Giuseppe Vecci (GO) como substituto­s de Tasso.

Enquanto isso, líderes do PMDB e do Centrão, grupo do qual fazem parte PP, PSD, PR e PRB, passaram a cobrar publicamen­te que o PSDB entregue os quatro ministério­s que detém no governo: Cidades, Secretaria de Governo, Relações Exteriores e Direitos Humanos.

Interlocut­ores do Planalto voltaram a afirmar que o governo não vai retaliar os atuais ocupantes de cargos no primeiro escalão da Esplanada. Os ministros tucanos Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Bruno Araújo (Cidades) foram rápidos ao se manifestar contra o programa e dizer que a peça não os representa. Auxiliares de Temer lembrara ainda que os três atuaram para ajudar a derrubar a denúncia contra Temer.

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ANDRE LIMA Tucanos. O prefeito de São Paulo, João Doria, é recebido pelo senador Tasso Jereissati em Fortaleza
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FABIO MOTTA/ESTADAO-17/8/2017 Ideia. FHC ajudou a elaborar a propaganda do partido

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