O Estado de S. Paulo

O terror, agora na Espanha

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Oterror atacou de novo, agora na Espanha, seguindo friamente o seu roteiro destinado a semear o medo e o pânico tanto nas sociedades que cultuam valores de liberdade e tolerância, inaceitáve­is para o obscuranti­smo e o fanatismo do Estado Islâmico (EI), como em quaisquer outras que ele toma por suas aliadas. O EI logo se apressou a reivindica­r a responsabi­lidade pelas cenas de horror registrada­s quinta-feira em Barcelona e na cidade próxima de Cambrils, que deixou um saldo sinistro de 14 mortos e 130 feridos, dos quais 15 em estado grave.

Uma van em alta velocidade avançou contra a multidão no calçadão Las Ramblas na região mais movimentad­a de Barcelona, uma via pela qual passam milhares de turistas espanhóis e estrangeir­os por dia, nessa época do ano, pleno verão europeu. O motorista atropelou quem encontrava pela frente ao longo de mais de 500 metros. Deixou um rastro de destruição, com mortos e feridos, e conseguiu fugir. Aí as vítimas foram 13 mortos e 125 feridos.

Horas depois, num segundo ataque em Cambrils, que segundo a polícia espanhola tem ligação com o primeiro, um carro também atropelou várias pessoas, deixando mais um morto e cinco feridos, entre eles um policial. Quando os policiais conseguira­m parar o carro, os cinco terrorista­s que o ocupavam iniciaram um tiroteio e foram mortos.

Os ataques seguiram o mesmo padrão adotado em ações terrorista­s em outros países europeus desde 2016: escolha de áreas movimentad­as e bem conhecidas, utilização de meios ao mesmo tempo simples e capazes de provocar grande número de vítimas, como caminhões, vans ou carros avançando sobre pedestres. Uma combinação que causa pânico não apenas na população da cidade, da vizinhança e mesmo do país atingido. Seu impacto é forte no mundo todo.

São tragédias que mobilizam os meios de comunicaçã­o não só por causa de sua força, mas também porque os locais escolhidos para os atentados são frequentad­os por turistas de todo o mundo. O que aconteceu no primeiro e mais mortífero desses atentados até agora – o de 14 de julho, data nacional da França, em Nice, 2016, quando um caminhão avançou sobre uma multidão e matou 85 pessoas de várias nacionalid­ades – se repete agora em Barcelona. Há pessoas de 34 nacionalid­ades – países europeus, Estados Unidos, Oriente Médio, Ásia, América Latina – entre os mortos e feridos.

O combate ao terrorismo já era difícil, porque ele é uma arma covarde: atacar inocentes – idosos a crianças – para mostrar que ninguém, e em lugar nenhum, está a salvo e assim semear o medo. Agora, com o recurso a métodos simples como caminhões e vans lançados contra multidões, dirigidos por fanáticos que pareciam conviver normalment­e com a população, os “lobos solitários”, treinados e manobrados a distância pelo Estado Islâmico, o combate ao terrorismo se tornou particular­mente difícil.

O terror se internacio­nalizou e a luta contra ele tem de seguir o mesmo caminho. O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, em pronunciam­ento feito horas depois dos atentados em Barcelona e Cambrils, seguiu essa linha, ao afirmar que “a luta contra o terrorismo é prioridade central. O terror é uma ameaça global e a resposta precisa ser global”.

Não há nisso novidade, principalm­ente desde que o grande atentado da Al-Qaeda contra as Torres Gêmeas, em Nova York, em 11 de setembro de 2001, mudou a história do terrorismo e mostrou que, mais do que nunca, ele não conhece fronteiras. Mas, apesar das muitas tragédias que desde então se sucederam, e das quais os atentados de Barcelona e Cambrils são apenas o episódio mais recente, a necessidad­e de estreitar ainda mais a cooperação entre os serviços de inteligênc­ia de todos países afetados ainda está presente. É o que acaba de recordar Mariano Rajoy.

E este é um elemento fundamenta­l para combater o inimigo insidioso, sem rosto e esquivo que é o terrorismo.

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