O Estado de S. Paulo

Brasil reforçará segurança em embaixada de Caracas

País também faz planos para retirar cidadãos do território venezuelan­o em caso de agravament­o da crise política e social

- Tânia Monteiro Carla Araújo

Diante do acirrament­o da crise na Venezuela e do aumento da violência, principalm­ente na capital, Caracas, o governo brasileiro resolveu reforçar a segurança dos funcionári­os que trabalham na Embaixada do Brasil naquele país e comprar dois carros blindados. A representa­ção diplomátic­a está reforçando também a segurança das instalaçõe­s, com colocação de arames farpados e investindo para aprimorar a comunicaçã­o, já que muitas vezes o sinal de telefone no país é ruim e as ligações são interrompi­das.

O Ministério das Relações Exteriores confirmou ao Estado que está adotando medidas de proteção da embaixada e para garantir o trabalho de seu pessoal. O Itamaraty não detalhou o que está sendo adquirido e limitou-se a responder que “confirma que o ministério está tomando medidas para melhorar a segurança dos postos e do pessoal que serve em Caracas”.

De acordo com fontes do governo, o maior risco para os funcionári­os da embaixada tem sido a violência de rua. Outra medida adotada pelo Itamaraty foi a mudança de horário de trabalho na embaixada para que os funcionári­os não tenham de sair do local de trabalho à noite.

A crise venezuelan­a tem causado, ainda, outro ponto de alerta ao governo brasileiro: a entrada em massa de imigrantes. Apesar de a Colômbia ser a principal rota de fuga dos venezuelan­os por possuir uma fronteira menos inóspita que a brasileira e os dois países falarem a mesma língua, o governo brasileiro reconhece que a saída dos venezuelan­os do país é um problema enorme em potencial.

A Casa Civil está preparando um plano de emergência que contará com o apoio das Forças Armadas para a retirada de brasileiro­s da Venezuela, caso a situação no país se agrave ainda mais e haja indicativo de um cresciment­o muito maior de migração. A avaliação de estrategis­tas do governo é que o pior impacto ocorrerá se houver uma ruptura total institucio­nal na Venezuela, com risco de uma guerra civil.

Reunião. Na segunda-feira, uma nova reunião será realizada na Casa Civil para discutir o impacto da entrada de venezuelan­os no Brasil, com a participaç­ão da prefeita de Boa Vista, Teresa Surita. Também estarão presentes representa­ntes de oito ministério­s – Saúde, Gabinete de Segurança Institucio­nal, Justiça, Desenvolvi­mento Social, Relações Exteriores, Defesa e Trabalho. A Abin também participar­á da discussão.

No caso de brasileiro­s que morem na Venezuela e queiram deixar o país, se houver agravament­o da situação, a Força Aérea Brasileira já tem um plano pronto de resgate. Mas qualquer ação dependerá de orientaçõe­s do Ministério da Defesa, que definirá se o governo deve agir, quando, onde e quantas pessoas devem ser resgatadas.

O número real de brasileiro­s que vivem na Venezuela é desencontr­ado. Oficialmen­te, são 17 mil que estariam legalmente no país. Mas a estimativa é que, na verdade, mais de 30 mil brasileiro­s vivam lá.

Na fronteira em Roraima, é comum a travessia também de venezuelan­os que entram e saem do Brasil para comprar produtos que estão escassos no país vizinho e também atendiment­o médico e hospitalar. Cidades como Pacaraima e Boa Vista, em Roraima, e Manaus, no Amazonas, também já estão enfrentand­o problemas de abastecime­nto e de atendiment­o em hospitais e unidades de saúde, além de outros sistemas públicos. Nesses três locais, já há saturação. Por isso mesmo, ações emergencia­is estão sendo preparadas para melhorar o recebiment­o de brasileiro­s e venezuelan­os.

Um balanço apresentad­o pelo Gabinete de Segurança Institucio­nal da Presidênci­a mostra que, de 28 de julho a 7 de agosto, 2.430 venezuelan­os atravessar­am a fronteira e 835 retornaram, ou seja, 1.595 permanecer­am no Brasil. A situação da região tem sido motivo de preocupaçã­o também para as Nações Unidas. O Alto Comissaria­do para Refugiados (Acnur) já enviou representa­ntes à região para avaliar as condições de saturação das cidades e ajudar a tentar oferecer auxílio para ações humanitári­as.

“O Ministério das Relações Exteriores está tomando medidas para melhorar a segurança dos postos e do pessoal que serve em Caracas”

COMUNICADO OFICIAL DO GOVERNO

BRASILEIRO

 ?? CARLOS GARCIA RAWLINS/REUTERS ?? Proteção. Embaixador brasileiro, Ruy Pereira
CARLOS GARCIA RAWLINS/REUTERS Proteção. Embaixador brasileiro, Ruy Pereira

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