O Estado de S. Paulo

Procurador­a dissidente foge e liga Maduro ao escândalo Odebrecht

Ex-aliados do chavismo, Luisa Ortega Díaz e seu marido, o deputado Germán Ferrer, escapam para Colômbia

- / AFP

A ex-procurador­a-geral da Venezuela, a chavista dissidente Luisa Ortega Díaz, acusou ontem o presidente Nicolás Maduro de estar envolvido em casos de corrupção da Odebrecht no país. A declaração foi feita por Ortega em uma mensagem de áudio enviada à reunião de membros de Ministério­s Públicos da América Latina em Puebla, no México.

Com o passaporte confiscado e bens congelados pelo chavismo, a dissidente fugiu da Venezuela. Apesar de ter participad­o da reunião no México por telefone, o jornal colombiano El Tiempo informou que ela chegou na tarde de ontem a Bogotá. Ela estava acompanhad­a do marido, Germán Ferrer, e de dois colaborado­res. A procurador­a deve pedir asilo ao governo de Juan Manuel Santos.

De acordo com o diário chileno La Tercera, ela teria fugido de lancha do litoral venezuelan­o para a Ilha de Aruba, na costa caribenha, e de lá tomado um voo para a Colômbia.

“Temos os detalhes de toda a operação, quantias e personagen­s que enriquecer­am”, disse a ex-procurador­a, que deixou a Venezuela depois de a Assembleia Constituin­te, instalada pelo presidente, tirá-la do cargo e mandar prender seu marido, o deputado chavista Germán Ferrer. “A investigaç­ão envolve o senhor Nicolás Maduro e seu entorno”, garantiu. Acusada de pagar propina em diversos países da América Latina, a Odebrecht diz que está colaborand­o com as investigaç­ões.

Ortega criticou o ataque conduzido por militares chavistas ao MP venezuelan­o depois de sua destituiçã­o, em 5 de agosto. “Mais de 300 oficiais da Guarda Nacional Bolivarian­a participar­am desse desonroso evento”, disse a dissidente.

No áudio divulgado no encontro no México a ex-procurador­a, que foi proibida de deixar a Venezuela e teve seus bens congelados, disse que sofre perseguiçã­o sistemátic­a e pediu que suas declaraçõe­s fossem repassadas à imprensa. “Podem inventar crimes, prender meus parentes, mas jamais renunciare­i à defesa da democracia, da liberdade e dos direitos humanos”, disse. Ortega não revelou seu paradeiro. Uma fonte da procurador­ia mexicana disse que autoridade­s locais não sabem se ela está no país.

Em Caracas, durante reunião da Assembleia Nacional Constituin­te, a presidente do órgão, a ex-chanceler Delcy Rodríguez, acusou Ortega de exercer a “supremacia branca” durante seu período à frente do MP. “A exprocurad­ora-geral fez da cor de sua pele uma ideologia para perseguir jovens pobres, negros e mestiços”, acusou, sem oferecer provas.

Perseguiçã­o. Ortega foi destituída de seu cargo na primeira ação da polêmica Assembleia Constituin­te e tanto ela quanto seu marido são alvos de diversas ações policiais.

Na noite de quinta-feira, mais uma vez, a residência dos dois ex-chavistas foi alvo de uma ação de busca e apreensão e a Constituin­te decidiu remover a imunidade parlamenta­r de Ferrer.

Os dois são agora acusados de serem os “mentores intelectua­is” dos protestos que ocorrem na Venezuela desde 1.º de abril e deixaram 125 mortos. Ortega rompeu definitiva­mente com Maduro após a convocação da Assembleia Constituin­te, que elegeu 545 novos representa­ntes – sendo praticamen­te todos chavistas – para reescrever a Carta venezuelan­a.

Dissidênci­a. Nos últimos meses, ela mandou investigar abusos de militares chavistas contra manifestan­tes e deu prosseguim­ento a algumas investigaç­ões sobre o caso Odebrecht, que teria pago na Venezuela US$ 98 milhões em propinas.

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