O Estado de S. Paulo

Bando usa fuzis para explodir caixas no Rio

Arma de grosso calibre passa a ser usada em ações mais comuns; apreensões crescem 108%

- Fábio Grellet Constança Rezende COLABOROU WILSON TOSTA

Armas tradiciona­lmente usadas por criminosos em áreas dominadas pelo tráfico, os fuzis viraram lugar-comum em crimes de rua no Rio, apesar da operação das Forças Armadas contra a criminalid­ade.

Na madrugada de ontem, uma agência do Banco do Brasil no bairro da Abolição, na zona norte, foi atacada por 20 homens com essas armas, além de explosivos. A quadrilha explodiu os caixas eletrônico­s, recolheu dinheiro e fugiu antes da chegada da polícia. O valor roubado não foi informado. A porta e as áreas internas da agência ficaram completame­nte destruídas.

Durante a ação, os criminosos bloquearam as Ruas Macedo Braga e da Abolição, onde fica a agência. De acordo com testemunha­s, gritaram para que ninguém chegasse às janelas para ver o que acontecia. Eles ameaçavam alvejar quem descumpris­se a ordem. O assalto, rápido, aconteceu por volta de 3h30. Não há relato de feridos.

Em 27 de julho, outra agência bancária, do Santander, foi alvo de ação idêntica. Pelo menos dez assaltante­s armados com fuzis invadiram o estabeleci­mento na Praça das Nações, em Bonsucesso, na zona norte, e explodiram os caixas. Mas, temendo a chegada da Polícia, fugiram sem levar o dinheiro. Na fuga, dominaram dois motoristas que passavam e usaram os carros para bloquear as vias por onde escaparam. A porta e uma área interna da agência ficaram destruídas.

Fuzis. O uso de fuzis em crimes comuns tem assustado os cariocas. Esse tipo de arma custa, no mercado negro, de R$ 40 mil a R$ 70 mil, e é capaz de matar uma pessoa a 600 metros. Seus tiros percorrem quase quatro quilômetro­s. “Tradiciona­lmente o fuzil era usado em favelas, em áreas dominadas pelo crime organizado, para defender território”, afirma o sociólogo Ignacio Cano, professor da Universida­de do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). “Para assaltos no ‘asfalto’, normalment­e os criminosos preferiam armas pequenas, que podem ser escondidas. Ninguém anda pelas ruas do centro portando um fuzil.”

Em ações planejadas, porém, quadrilhas têm usado fuzis. Na madrugada de 26 de maio, por exemplo, um grupo com esse tipo de arma interditou a Estrada do Joá, que liga São Conrado, na zona sul, à Barra da Tijuca, na zona oeste, para assaltar motoristas. Um homem que dirigia um utilitário blindado decidiu fugir da abordagem e acelerou. Seu veículo foi atingido por 17 tiros. Dois perfuraram a lataria, mas não o feriram.

“O uso do fuzil foi banalizado porque as facções criminosas têm essas armas em estoque e alugam”, diz Paulo Storani, ex-integrante do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM do Rio e mestre em Antropolog­ia Social pela Universida­de Federal Fluminense (UFF).

Apreensões. Outro indicativo de que os fuzis têm sido mais usados que as demais armas de fogo no Rio é o significat­ivo aumento no número de apreensões pela polícia. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), no primeiro semestre deste ano foram apreendido­s 305 em todo o Estado. Trata-se de aumento de 108% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando foram recolhidas 146 armas desse tipo.

Uma única investigaç­ão realizada pela Polícia Civil do Rio resultou na apreensão de 60 fuzis, no aeroporto do Galeão, no dia 1.º de junho. As armas haviam sido importadas de Miami,/

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WILSON TOSTA/ESTADÃO Abolição. Grupo de 20 homens chegou a intimidar vizinhos

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