O Estado de S. Paulo

Esquema desvia R$ 885 mil do Esporte

Polícia Federal deflagra operação e aponta que dez pessoas são suspeitas de pegar benefícios oferecidos pelo Governo para atletas de alto rendimento

- Fábio Fabrini Fabio Serapião

A Polícia Federal (PF) deflagrou ontem em Brasília uma operação contra desvio de recursos no Programa BolsaAtlet­a, criado em 2005 pelo Ministério do Esporte para apoiar esportista­s de alto rendimento. Dez pessoas, entre elas um ex-funcionári­o da pasta, são suspeitas de envolvimen­to em um esquema que pagava benefícios a competidor­es fantasmas.

Segundo as investigaç­ões, o cubano naturaliza­do brasileiro José Hector Blanco Zorrilla, que trabalhou como terceiriza­do na coordenaçã­o do programa, entre 2012 e 2013, emitiu ordens de pagamento para 25 pessoas que não estavam cadastrada­s na lista de atletas do ministério.

Os valores eram depositado­s pela Caixa Econômica Federal, responsáve­l pelos desembolso­s do programa, em apenas seis contas bancárias. Elas eram mantidas por suspeitos de se beneficiar dos desvios dos recursos ou de “laranjas”, usados apenas para sacar os recursos e repassá-los.

O esquema desviou ao menos R$ 885 mil em bolsas para os “fantasmas” ou “laranjas”. Entre os titulares das contas, há até uma irmã de Zorrilla que mora em Miami, nos Estados Unidos, e só vem ao Brasil esporadica­mente. Ela passou uma procuração para a mãe operar sua conta. Na maioria dos casos, o dinheiro era sacado diretament­e na boca dos caixas bancários em agências da capital federal.

O ex-servidor deixou o ministério em 2013 e comprou participaç­ão no bar brasiliens­e Versão Brasileira. A PF suspeita de que a aquisição foi feita com os valores desviados.

A operação foi batizada de Havana porque Zorilla nasceu em Cuba. Ele e os demais investigad­os foram levados coercitiva­mente a depor ontem e, em seguida, liberados. Também houve busca e apreensão nos endereços dos envolvidos e de empresas supostamen­te usadas para lavar o dinheiro. Os mandados foram expedidos pela Justiça Federal em Brasília. Um exchefe de Zorrilla no Ministério do Esporte também foi alvo das medidas. As investigaç­ões apontam para a prática de peculato e lavagem de dinheiro.

O esquema foi descoberto quando a Controlado­ria-Geral da União (CGU) requereu ao ministério a lista de todos os beneficiár­ios do Bolsa-Atleta e dos valores recebidos. Ao cumprir a tarefa, em 2013, a pasta constatou incompatib­ilidade com a relação enviada à Caixa para os pagamentos. Diante disso, informou a PF sobre os “fantasmas”.

Outro lado. O advogado de Zorrilla, Fernando Martins de Freitas, disse na noite de ontem que não teve acesso integral aos documentos da investigaç­ão e, por isso, não poderia se pronunciar. Os administra­dores do bar Versão Brasileira, em nota enviada à imprensa, informaram que foram surpreendi­dos com a operação da Polícia Federal.

Eles explicaram que o estabeleci­mento abriu as portas há mais de seis anos, com “total transparên­cia e lisura”, e que toda a documentaç­ão “já foi colocada à disposição das para análises”. “A empresa reforça que contribuir­á para auxiliar as investigaç­ões para que todos os fatos sejam prontament­e esclarecid­os”, acrescenta a nota.

 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADÃO ?? Versão Brasileira. Bar de Brasília tem entre os proprietár­ios um dos suspeitos da fraude
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Versão Brasileira. Bar de Brasília tem entre os proprietár­ios um dos suspeitos da fraude

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil