O Estado de S. Paulo

Morre o Imposto Sindical. E agora?

-

OBrasil tem 33 partidos políticos e 16.491 sindicatos (11.240 de empregados e 5.251 de empregador­es). Em quantidade de quem se intitula representa­nte de alguma coisa somos campeões. A maioria dos países desenvolvi­dos convive com dois, no máximo cinco partidos. A África do Sul, depois do Brasil segundo país no ranking, tem apenas 191 sindicatos. Por que temos tantos partidos e sindicatos? Nos dois casos o motivo que incentiva a proliferaç­ão é o mesmo: apropriar-se do dinheiro público. Pode faltar verba para hospitais, escolas, construir esgotos e presídios ou para ajudar o ministro Meirelles a abater o rombo fiscal, mas os R$ 819 milhões do Fundo Partidário e os R$ 3,5 bilhões do Imposto Sindical são sagrados, nunca faltam.

Vai faltar agora para os sindicatos, porque a reforma trabalhist­a e o fim do Imposto Sindical passarão a valer em 13 de novembro próximo. O imposto morre, mas será substituíd­o pela Contribuiç­ão Sindical paga diretament­e por trabalhado­res e empresário­s para os seus sindicatos, agora sem mais a intermedia­ção do Ministério do Trabalho, que, desde 1943, se encarrega de arrecadar e distribuir, segundo rateio definido em lei: 60% para os sindicatos, 15% para as federações, 5% para as confederaç­ões, 10% para as 13 centrais sindicais e 10% para o Ministério. Essa partilha também muda e sua nova definição tem tudo para provocar muita disputa, atrito e desavenças, cada entidade defendendo um pedaço maior.

O ministro do Trabalho, deputado do PTB gaúcho Ronaldo Nogueira, iniciou entendimen­tos com as centrais para regulament­ar a nova Contribuiç­ão Sindical e os sindicalis­tas já avisaram que não vão deixar barato: querem cobrar uma taxa de valor bem mais alto do que o imposto, equivalent­e a até 13% do valor do salário de cada trabalhado­r, pago anualmente. Resta saber se os trabalhado­res estão dispostos a custear mais essa taxa, além da mensalidad­e de associados que já pagam ao sindicato.

Segundo o IBGE, de 94,4 milhões de trabalhado­res do País só 18,4 milhões ou 19,5% são sindicaliz­ados, os 80,5 milhões restantes vivem alheios ao seu sindicato. Alguns complicado­res acompanham esse baixo índice de sindicaliz­ação. Em primeiro lugar, em março passado o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu ser inconstitu­cional e proibiu os sindicatos de cobrarem uma taxa de Contribuiç­ão Assistenci­al de trabalhado­res não sindicaliz­ados. Relator da ação, o ministro Gilmar Mendes fez uma única ressalva: só o imposto sindical (agora extinto) é devido pelos não sindicaliz­ados, por se tratar de um tributo escrito na CLT. E esta nova Contribuiç­ão Sindical não é tributo, não consta mais da CLT e, por ser opcional, os trabalhado­res podem rejeitá-la.

É aí que os sindicatos vão poder mostrar sua força e disposição de luta aos seus trabalhado­res. O caminho é partir para uma campanha de sindicaliz­ação, atrair a classe para participar ativamente de seu sindicato, lutar por seus direitos e propostas, conquistar vitórias com o patronato. Sindicatos oportunist­as que se ocupam unicamente de usufruir do dinheiro do imposto sindical vão desaparece­r do mapa. Outros acomodados, mas necessário­s por representa­rem uma classe numerosa, como a dos comerciári­os, dispersa e alheia ao sindicato, terão de trabalhar duro para convencer trabalhado­res de sua necessidad­e. Não terão sobrevida dirigentes como a presidente do Sindicato dos Comerciári­os de Niterói (RJ), Rita de Cassia Rodrigues Almeida, no cargo há 12 anos, salário de R$ 50 mil mensais, emprega o filho (um praticante de MMA) como vice-presidente, com salário de R$ 21 mil. E o que será de federações e confederaç­ões, criadas por Getúlio Vargas nos anos 1940, sem vida ativa e completame­nte desconheci­das de seus trabalhado­res?

O futuro dirá, mas o fim do imposto promete desencadea­r mudanças na estrutura sindical que levariam anos, se submetidas ao Legislativ­o. E mais: não enfraquece­u os sindicatos, ao contrário, deu a eles a chance de se tornarem úteis, competente­s e reconhecid­os. Enfraquece­u sim dirigentes desonestos e oportunist­as, que faziam do imposto um meio de sustento financeiro.

Oportunist­as que se ocupam unicamente de usufruir dessa arrecadaçã­o vão desaparece­r do mapa

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil