O Estado de S. Paulo

As loucuras de Goya

Mostra reúne 20 gravuras do artista, que marcam fase obscura do pintor

- Adriana Del Ré

As obras de uma das fases considerad­as mais obscuras do artista espanhol Francisco de Goya (1746-1828) ocupam um dos espaços da Caixa Cultural São Paulo e podem ser vistas gratuitame­nte. A exposição Loucuras Anunciadas – Francisco de Goya, em cartaz até 24 de setembro, traz 20 gravuras do pintor, edição póstuma da Academia de Belas Artes de Madri, em que Goya destila críticas sociais e também ao clero, às instituiçõ­es, aos costumes. São suas últimas obras gráficas.

A data de produção dessas gravuras não é precisa, mas especialis­tas estimam que seja entre 1815 e 1820. Levando-se em conta esse cálculo, Goya dedicou-se a essa coleção, que também é chamada de Disparates, num período próximo à realização de uma série importante em sua trajetória, Pinturas Negras (18191823), 14 murais feitos na Quinta do Surdo, propriedad­e que ele comprou em 1819. “Essas gravuras ficaram guardadas por causa da Inquisição”, explica a curadora Mariza Bertoli, referindo-se ao temor do artista em relação à perseguiçã­o aos iluminista­s na época. “Ele fez as Pinturas Negras, mas, durante esse tempo, ele fez alguns retratos. Ele chegou a fazer os retratos até de José Napoleão”, completa Mariza, que fará palestra sobre a vida e obra de Goya neste sábado, 19, às 11h, na própria Caixa.

Nas gravuras, Goya trabalhou os contrates entre luzes e sombras. E as obras que tratam de temas mais pesados vêm carregadas de escuros. Como Os Ensacados, “que faz alusão à loucura, à opressão, ao desespero e à própria sensação da surdez” que acometia o artista, como descreve texto no catálogo da exposição. “Quando a Inquisição não matava, mandava para o asilo. Pode ser a representa­ção de um asilo: eles usavam esse tipo de cerceament­o, não tinham as camisas de força, eram esses sacos”, analisa Mariza. A partir dessa gravura, a curadora criou uma experiênci­a na área interativa da mostra para o público ‘entrar’ na obra, deixando sacos disponívei­s no local. “Queria que as pessoas tivessem uma vivência da época, se colocassem no lugar deles, porque é uma imagem terrível do cerceament­o, da censura”, diz ela.

Na série – apesar de ser a minoria –, há ainda as obras com ambientaçõ­es mais claras que remetem

LOUCURAS ANUNCIADAS Caixa Cultural São Paulo. Praça da Sé, 111, centro, tel. 3321-4400. 3ª a dom., 9h às 19h. Até 24/9. Palestra hoje (19), às 11h. Grátis a momentos de felicidade e descontraç­ão, como Disparate Alegre, que retrata a dança aragonesa de velhos e jovens mulheres, Disparate de Carnaval e Lealdade, cujo centro da obra destaca a figura do homem leal – um lampejo de otimismo do pintor.

A Lealdade, aliás, ganhou uma imagem ampliação que ocupa uma das parede da área interativa. Em tempos de selfie, a ideia foi bem-recebida pelo público desde a estreia da exposição em Curitiba. “Nós pensamos nisso: selfie com o Goya”, diz a curadora. “As pessoas ficam dentro da obra e elas adoram.”

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GABRIELA BILÓ/ESTADÃO
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FOTOS THE ART COMPANY Destaques.
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A curadora Mariza Bertoli e a ampliação de ‘A Lealdade’; acima, ‘Disparate Ridículo’; ao lado, ‘Disparate Matrimonia­l’

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