O Estado de S. Paulo

Perdão tributário do governo pode custar R$ 78 bilhões

Programas são voltados a três setores da economia; valor ainda pode subir porque dois deles tramitam no Congresso

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Antes de dar como inevitável a ampliação do rombo fiscal previsto até 2020, o governo Temer criou três programas de parcelamen­to de débitos tributário­s, conhecidos como Refis, que, juntos, têm o poder de perdoar R$ 78,1 bilhões em dívidas, segundo cálculos da Receita Federal. O valor correspond­e à renúncia potencial de arrecadaçã­o com a redução de juros, multas e encargos das dívidas de empresas, Estados e municípios, informa Idiana Tomazelli. E pode ficar maior, já que dois dos programas – um de parcelamen­to para devedores do Funrural e outro voltado a empresas –, criados por medida provisória, ainda estão em tramitação no Congresso e podem ser alterados pelos parlamenta­res, aumentando os benefícios aos devedores. O terceiro programa é destinado a dívidas previdenci­árias de Estados e municípios, mas o prazo de adesão já está encerrado.

Apesar das dificuldad­es em fechar as contas, o governo Michel Temer criou três programas de parcelamen­to de débitos tributário­s, conhecidos como Refis, que têm juntos o poder de perdoar R$ 78,1 bilhões em dívidas durante todo o prazo de vigência, segundo cálculos da Receita Federal.

O valor correspond­e à renúncia potencial de arrecadaçã­o do governo com a redução de juros, multas e encargos das dívidas de empresas, Estados e municípios. E esse número pode ficar maior, já que dois dos programas, criados por medida provisória, ainda estão em tramitação no Congresso e podem ser alterados pelos parlamenta­res, aumentando os benefícios aos devedores.

O projeto voltado para as empresas, batizado de Programa Especial de Regulariza­ção Tributária (Pert), foi instituído pela Medida Provisória (MP) 783 e prevê uma renúncia potencial de R$ 35,1 bilhões ao longo dos 15 anos de parcelamen­to, consideran­do que R$ 200 bilhões em dívidas sejam renegociad­os.

O parcelamen­to para devedores ao Fundo de Assistênci­a ao Trabalhado­r Rural (Funrural), também criado por medida provisória e ainda não votado pelo Congresso, prevê uma renúncia de R$ 7,6 bilhões em 15 anos. Já o programa para dívidas previdenci­árias de Estados e municípios, cujo prazo de adesão já está encerrado, pode perdoar até R$ 35,4 bilhões com os descontos em juros e multas em 16 anos e 8 meses.

Os benefícios foram concedidos aos devedores poucos meses antes de a equipe econômica precisar revisar as metas fiscais fixadas para 2017 a 2020. Com despesas em alta e receitas abaixo do esperado, o rombo nas contas do governo deste e do próximo ano deve ficar em R$ 159 bilhões. As contas só devem voltar ao azul em 2021, um ano depois do inicialmen­te estimado.

Com os programas de parcelamen­to de dívidas, o governo espera obter um incremento na arrecadaçã­o no curto prazo, com o pagamento dos valores de entrada de quem aderir. Mas, depois, o efeito do Refis acaba sendo ruim para as receitas do governo. “A partir de 2018, temos uma renúncia que terá de ser compensada por outras receitas”, diz o auditor fiscal Frederico Leite Faber, que atua como coordenado­r-geral substituto de Arrecadaçã­o e Cobrança na Receita Federal.

A área técnica do órgão é historicam­ente contra a edição de Refis justamente porque, além das renúncias, a medida incentiva empresas a deixarem de pagar tributos regularmen­te à espera de um novo programa. Esse planejamen­to tributário acaba sendo ruim para a arrecadaçã­o. A Receita constatou que muitos contribuin­tes que aderem aos programas invariavel­mente deixam de pagar os tributos regulares, e às vezes a própria prestação do Refis, depois de certo tempo, postura que não é tão corriqueir­a entre quem não adere.

‘Vício’. Segundo o subsecretá­rio de Arrecadaçã­o, Cadastros e Atendiment­o, Carlos Roberto Occaso, R$ 18,6 bilhões deixam de ser arrecadado­s ao ano porque os contribuin­tes ficam no aguardo de novos benefícios.

A Receita percebe que há um “desinteres­se” das empresas em realmente quitar a dívida, o que cria verdadeiro­s “viciados” em Refis. Em edições anteriores, o índice de liquidação da dívida (pagamento total dos débitos) foi muito baixo, entre 2,4% e 6,5%. No Refis da Crise, lançado em 2009, tinha sido de 23,9%, mas também considerad­o pouco pelo órgão. A renúncia total com esse programa foi estimada em R$ 60,9 bilhões.

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