O Estado de S. Paulo

Bruno Fratus

Nadador aposta em recordes em Tóquio.

- Bruno Fratus, Rafael Franco Facebook. Curta a página do Esportes facebook.com/estadaoesp­orte

Medalhista de prata nos 50 metros livre e no revezament­o 4x100m livre no Mundial de Budapeste, em julho, Bruno Fratus confirmou a condição de quem vem se firmando como principal destaque da natação do Brasil e um dos maiores velocistas do planeta.

Na esteira do legado de glória de Cesar Cielo, campeão olímpico em Pequim-2008, o carioca de 28 anos celebra os últimos feitos e exalta o País pelo desempenho na Hungria, mas segue faminto por medalhas no ciclo olímpico que visa os Jogos de Tóquio-2020.

Confira alguns trechos de entrevista exclusiva do nadador ao Estado, concedida por telefone de Auburn ( EUA), onde mora e treina.

Quais motivos você aponta para a sua volta por cima após a decepção de não ter subido ao pódio na Olimpíada no Rio? Antes de tudo, acho legal deixar claro uma coisa: foi uma decepção pessoal minha. Em termos de organizaçã­o, foram os Jogos Olímpicos mais lindos de que eu participei e já vi. Aquela final, eu entrando no estádio olímpico (da natação) e todo mundo gritando meu nome, foi uma das coisas mais emocionant­es que vivi até hoje. Nosso time de natação, apesar da falta de medalhas, teve um recorde de finais e de semifinais em uma Olimpíada. Foi uma evolução como um todo da natação brasileira. Com isso sendo dito, meu resultado, individual­mente, baseado no que eu esperava, foi muito abaixo. Isso me causou uma decepção muito grande.

O que aconteceu?

Eu não consegui me preparar como gostaria. Machuquei em fevereiro (de 2016) e fui me arrastando com uma lesão enquanto estava me preparando para os Jogos, que por ser no Brasil já tinha um peso emocional muito grande, e eu ainda estava treinando para superar essa lesão a cada dia. Mas essa condição (causada por uma lesão nas costas) estava bastante adversa. Eu tenho pra mim, pelo próprio perfeccion­ismo que sempre tento buscar, que foi algo que pesou bastante. Para superar tudo isso, se eu fosse falar uma palavra só para definir isso, eu diria ‘vontade’. Uma coisa que o meu pai sempre me ensinou é que quem quer vai lá e faz. Foi o que fiz.

E quais foram os maiores obstáculos superados no Mundial? Não tendo o meu contrato renovado no início do ano com o meu clube (na época o Pinheiros), que eu já defendia há dez anos (antes de ser federado pelo Internacio­nal de Regatas, de Santos), tudo empurrava para que eu desistisse. Hoje estou com 28 anos, já fui para duas Olimpíadas e antes destas pratas eu já havia levado um bronze em um Mundial, mas ainda não me contentava e não me contento com o que alcancei. Tenho potencial para ganhar muito mais do que isso.

A direção de natação da CBDA admite que houve uma cobrança grande sobre os nadadores por medalhas na última Olimpíada. Essa pressão o incomodou?

Eu gosto de pressão, de ter gente forte nadando do meu lado. A gente sabe que tem bastante responsabi­lidade pelo apoio que recebemos da CBDA e dos patrocinad­ores. E o sucesso de nossa equipe é fruto de uma constância pelos últimos campeonato­s. Você não pode julgar o sucesso por uma só competição, e essa geração tem feito muitas finais nas últimas competiçõe­s. É uma evolução sólida, e a gente tem tudo para ir cada vez melhor em Mundiais, Jogos Olímpicos, PanAmerica­nos e por aí vai.

E como foi ver o Brasil voltar a brilhar após o escândalo de corrupção que provocou a prisão de Coaracy Nunes, ex-presidente da CBDA, e de outros dirigentes?

A gente nadou um pouco com o coração na mão e precisava fazer algo para reanimar a natação brasileira. Tivemos de conviver com algumas incertezas. Em uma hora tínhamos o apoio dos Correios (patrocinad­or forte da CBDA), em outra não sabíamos se teríamos o apoio dos Correios, se iria ter seletiva ou não para o Mundial. E também é importante destacar que o COB deu um apoio incondicio­nal para a gente e garantiu que poderíamos contar com ele quando precisasse.

A CBDA disse ao ‘Estado’ que teve um clima de união nunca visto antes em uma seleção brasileira como o do último Mundial... Todo mundo da administra­ção da nova CBDA viu que toda essa situação recente gerou a necessidad­e de a seleção se unir como um time de verdade. A nossa equipe do revezament­o do 4x100m foi medalha de prata batendo o recorde sul-americano e com o Cielo quase batendo o recorde mundial dos 100m na parte que nadou para a nossa equipe. Foi a primeira vez que eu senti que a nossa seleção era de fato um time. Já participei de seleções em que cada um pensava em si, já participei de seleções com vários grupinhos, panelinhas, mas esse time de Budapeste era unificado, com um dando força para o outro. Posso estar enganado, mas esse time tem todos os melhores nadadores do Brasil em suas provas em todos os tempos. E seria um desperdíci­o se a gente não conseguiss­e se ajudar e dar um pouco de força para o companheir­o.

Você se considera pronto para assumir o lugar de Cielo como principal nadador do Brasil?

Eu não tenho pretensão nenhuma de ser o astro, de ser ‘o cara da natação’. Isso nunca foi meu objetivo. Mas, se é para ser esse cara, aceitaria esse papel com muita felicidade e honra. Penso primeiro em ajudar o Brasil a se tornar grande.

É possível bater os recordes mundiais do Cielo, como o dos 50m livre, obtido em 2009 no fim da era dos trajes tecnológic­os? Com toda certeza, é possível. Os tempos obtidos com os trajes de borracha são referência­s que a gente pode bater, mas não dá para ficar falando destes tempos porque a natação com trajes não existe mais. Hoje eu acredito que só existem os tempos sem trajes, o que me coloca como dono da terceira melhor marca da história nos 50m livre. E recordes estão aí para serem batidos.

O sucesso no Mundial lhe rendeu mais patrocinad­ores? O que mudou na sua vida desde então? A única coisa que mudou é que tenho duas medalhas na cabeceira da minha cama. Infelizmen­te a iniciativa privada no Brasil só começa a olhar para o esporte quando faltam seis meses para uma Olimpíada. Eu também não esperava que da noite para o dia eu fosse virar o Conor McGregor (astro do MMA que já faturou milhões).

O que você mira como principais metas para Tóquio-2020? Estou bastante confiante para os próximos anos, não posso dizer se vou ter ou não medalha, não dá pra prever isso, mas vejo que este último Mundial foi um sinal extremamen­te positivo não só para mim, mas para o Brasil. Para pensar em medalhas individual­mente será preciso analisar ano a ano e ver como sairão as coisas.

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 ?? MICHELLE LENHARDT/15/08/2017 ?? Grande fase. Fratus exibe as medalhas ganhas na Hungria, encerrando um período difícil
MICHELLE LENHARDT/15/08/2017 Grande fase. Fratus exibe as medalhas ganhas na Hungria, encerrando um período difícil

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