O Estado de S. Paulo

MINAS, CELEIRO DE STARTUPS

Universida­des fortes em pesquisa, incentivo de governo local e senso de comunidade ajudam ecossistem­a, mas falta de capital é obstáculo

- Bruno Capelas COLABOROU CAROLINA INGIZZA /

Com 591 empresas de tecnologia, Minas Gerais é o segundo maior celeiro de startups do País, perdendo somente para São Paulo. Falta de recursos é desafio.

Minas Gerais está se tornando uma potência das startups: o Estado virou nos últimos meses o segundo maior do País em empresas de tecnologia em estágio inicial. Com 591 empresas, segundo levantamen­to da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Minas ultrapasso­u o Rio de Janeiro e hoje só fica atrás de São Paulo. É de lá também que têm saído algumas das startups com mais destaque no País no momento.

É o caso da Méliuz, dona de um aplicativo de cashback, que já atraiu mais de 3 milhões de brasileiro­s. Na prática, toda vez que alguém compra em uma loja parceira da startup, ela devolve um pequeno porcentual em dinheiro. Tudo é controlado via aplicativo e é possível “sacar” o valor a partir de R$ 20. “Queríamos arrancar a burocracia dos pontos que expiram e não rendem nada”, diz Israel Salmen, cofundador da startup.

A empresa foi criada em setembro de 2011 em Belo Horizonte e, até março deste ano, só devolvia o dinheiro de quem comprava em lojas online. Com a expansão para o varejo físico e a chegada a São Paulo, o negócio cresceu.

Em 2017, a empresa espera movimentar R$ 1 bilhão em vendas com seus parceiros – entre eles, Amazon, Ponto Frio e O Boticário. Hoje, a Méliuz tem 170 funcionári­os. A startup não revela aportes recebidos, mas, entre os que apostaram na empresa, estão o fundo Monashees, que investiu na 99 e na Loggi, e Julio Vasconcell­os, exPeixe

Manoel Lemos

Urbano.

Clube da esquina. A Méliuz é hoje um dos principais casos de sucesso da comunidade de startups de Belo Horizonte, conhecida como San Pedro Valley – referência ao Vale do Silício e ao bairro de São Pedro, onde as primeiras startups da cidade se reuniam num café para trocar experiênci­as. É uma prática que se mantém até hoje. Foi por conta desse tipo de “acolhiment­o”, bem típico do mineiro, que Rodrigo Cartacho escolheu a cidade para começar, em 2012, a Sympla, plataforma de venda de ingressos. Ele também é mineiro, mas morava na Hungria e tinha a opção de se estabelece­r onde quisesse. “São Paulo era muito fechada, e BH tinha uma comunidade forte.”

Deu certo: hoje, a Sympla tem mais de 10 mil eventos cadastrado­s em seu site, com cresciment­o de 65% em relação há um ano. Qualquer pessoa pode organizar um evento pela plataforma, que fica com 10% do valor cobrado pela entrada.

O salto na operação foi dado

com a ajuda da Movile, uma das principais empresas de software do País. A empresa – que é dona do aplicativo de delivery iFood e da plataforma de conteúdo para crianças PlayKids – investiu R$ 13 milhões na Sympla em junho do ano passado.

Outra startup que participou da formação do San Pedro Valley é a Hotmart, plataforma para quem organiza e vende cursos online. A startup já abriu escritório­s na Espanha e na Colômbia.

Antes disso, porém, houve uma primeira onda do empreended­orismo digital mineiro. A empresa que desbravou o mercado foi a Akwan, fundada por professore­s da Universida­de Federal de Minas Gerais (UFMG). Em 2005, o Google comprou a startup por US$ 225 milhões e a usou como base para construir seu centro de engenharia na América Latina. “A venda da Akwan inspirou muita gente. É quase um ‘yes, we can, uai!’”, brinca o mineiro Felipe Matos, sócio-fundador da acelerador­a Startup Farm.

Saídas e bandeiras. Há dificuldad­es, porém: a principal delas é a falta de capital. Segundo o Mapped in Brasil, mapa do ecossistem­a de startups da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), há cinco fundos de capital de risco em Minas – em São Paulo, são 31. “Minas ainda não tem volume para receber um fundo de maior porte”, diz Manoel Lemos, sócio do Redpoint eVentures, um dos principais fundos que operam no País. Segundo ele, a cada ano, um fundo analisa dezenas de startups, mas faz pouquíssim­os aportes.

Samir Iásbeck, fundador da startup Qranio, de Juiz de Fora, sabe o que é isso: ele teve de ir para São Paulo em busca de dinheiro. “Perdi 30 anos de vida no ano em que fomos acelerados e fiquei na ponte aérea”, afirma. Ele retornou à cidade mineira, onde mantém o time que desenvolve o aplicativo, usado por empresas para treinar funcionári­os de forma divertida, com testes de múltipla escolha.

Mudar a sede da startup, mas manter a engenharia em Minas também foi a tática da Agrosmart, que nasceu em Itajubá. A região é fértil em pesquisas – além da Universida­de Federal de Itajubá (Unifei), há também o Instituto Nacional de Telecomuni­cações (Inatel), na vizinha Santa Rita do Sapucaí.

A Agrosmart foi uma delas, mas teve de ir para Campinas, no interior de São Paulo, arranjar capital. Hoje, 28 pessoas da equipe ficam lá e só 3 em Itajubá. “É importante se manter em Minas”, diz a cofundador­a, Mariana de Vasconcelo­s. “Senão, a região não se desenvolve.”

“Minas ainda não tem volume de startups para ter um fundo de grande porte.” Capital

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A Méliuz, de Salmen, alcançou a marca de 3 milhões de usuários
WASHINGTON ALVES/ESTADÃO Pop. A Méliuz, de Salmen, alcançou a marca de 3 milhões de usuários
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QRANIO Jornada. Iásbeck teve de ir a SP para fazer a Qranio crescer

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