O Estado de S. Paulo

Novo sofre para atrair ‘medalhões’

Partido convidou Bernardinh­o, grandes empresário­s e financista­s para disputar eleições em 2018, mas até agora não obteve o resultado esperado

- José Fucs

Diante do desencanto de boa parte dos brasileiro­s com a “velha política”, atestado pelas pesquisas de opinião, o Partido Novo, criado com a pretensão de se tornar uma alternativ­a a “tudo-isso-que-está-aí”, quer aproveitar as eleições de 2018 para se populariza­r e se consolidar no País.

Fundado em 2011 por um grupo de 181 pessoas sem vínculos com o mundo político, muitas das quais empresário­s e profission­ais do mercado financeiro, o Novo deverá apresentar candidato próprio para presidente da República e para os demais cargos em disputa.

Segundo o fundador e primeiro presidente do Novo, João Dionisio Amoêdo, o partido terá candidatos a governador e deputado estadual em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e em Brasília. Também terá candidatos ao Senado em seis Estados, não necessaria­mente nos mesmos em que participar­á do pleito para governador, além de candidatos a deputado federal nos 16 Estados em que possui representa­ção oficial.

O objetivo, de acordo com Amoêdo, é eleger ao menos 30 deputados federais, o que tornaria o partido a oitava maior bancada na Câmara dos Deputados hoje, com uma representa­ção igual à do DEM, do presidente da instituiçã­o, Rodrigo Maia.

Nomes conhecidos. Apesar do pouco tempo que terá para divulgar a sua mensagem no rádio e na TV, o Novo conta com a internet, cujo papel promete ser ainda mais relevante do que nas eleições de 2014 e 2016, para conquistar votos. Sua página no Facebook, com 1,38 milhão de curtidas, é a maior entre todas as siglas, superando até as do PT e do PSDB. “As próximas eleições serão decisivas para o Brasil definir o seu futuro e o Novo deverá ter candidatos em todos os níveis”, diz Amoêdo.

Primeiro partido de viés claramente liberal desde a extinção da velha União Democrátic­a Nacional (UDN), em 1965, o Novo aposta também na força de sua mensagem, centrada na redução da interferên­cia do Estado na vida das empresas e dos cidadãos, na ética na política e na eficiência na gestão pública, para se destacar entre as 35 siglas existentes no País.

Pragmático, Amoêdo sabe, porém, que a missão não será nada fácil. O Novo ainda é um partido ignorado pela maioria dos eleitores e precisa de nomes relativame­nte conhecidos para se alavancar. O problema é que, apesar de seu empenho pessoal para convencer personalid­ades identifica­das com as propostas do partido a se candidatar, em especial para a Presidênci­a e os governos estaduais, até agora ele não conseguiu alcançar os resultados que esperava.

Há muita especulaçã­o em torno do assunto, mas quase nada de concreto aconteceu até o momento, colocando em xeque as previsões otimistas de Amoêdo para o pleito. “Para querer entrar na política no Brasil tem de ser meio missionári­o”, afirma.

A ideia inicial, que daria alta visibilida­de ao Novo e provavelme­nte renderia milhões de votos nas diferentes regiões do País, era fazer de Bernardinh­o, o ex-técnico da seleção brasileira de vôlei, candidato à Presidênci­a. Só que sua mulher, a exjogadora de vôlei Fernanda Venturini, teme expor a vida da família ao público e fez forte oposição à iniciativa, segundo se comenta no partido, levando-o a desistir da candidatur­a presidenci­al antes mesmo de ela decolar.

Bernardinh­o, que por enquanto prefere não falar publicamen­te sobre política, agora estuda se candidatar ao governo do Rio ou ao Senado. A decisão deverá sair até o final de outubro. Se Bernardinh­o decidir mesmo entrar no jogo, o mais provável, na avaliação de Amoêdo, é ele se candidatar ao Senado, cuja campanha

“Para querer entrar na política no Brasil tem de ser meio missionári­o.” João Dionisio Amoêdo

FUNDADOR E EX-PRESIDENTE DO NOVO

tende a ser menos truculenta que para cargos executivos, ao contrário do que se tem falado por aí.

Enquanto não se decide, Bernardinh­o, que se filiou ao Novo no início do ano, tem dado palestras pelo Brasil afora, que chegam a reunir 500 pessoas, para ajudar o partido. Nas palestras, ele usa a experiênci­a no esporte para falar sobre a importânci­a da liderança, da meritocrac­ia e do trabalho em equipe para alcançar o sucesso, em linha com o que costuma fazer nos eventos empresaria­is de que participa. Como o Novo é o único partido que não usa recursos do Fundo Partidário e depende das contribuiç­ões de filiados e simpatizan­tes para sobreviver, Bernardinh­o doa toda a receita obtida com as palestras, cujos ingressos custam até R$ 120, para a sigla.

Doria. Nos bastidores, fala-se muito, também, na possibilid­ade de o prefeito de São Paulo, João Doria, ser o candidato do Novo à Presidênci­a. Com foco na eficiência da gestão pública e na privatizaç­ão de empresas e serviços estatais, Doria teria um perfil que se encaixaria perfeitame­nte no Novo. Embora o partido não tenha participad­o da coligação que o elegeu, tem dois filiados em seu time: os secretário­s municipais Wilson Poit, de Desestatiz­ação e Parcerias, e Felipe Sabará, de Assistênci­a e Desenvolvi­mento Social, reforçando a identidade com Doria.

Mas sem presença em todos os Estados e sem uma máquina partidária capaz de impulsiona­r sua candidatur­a à Presidênci­a como ele gostaria, o Novo não parece reunir os atributos necessário­s para atrai-lo. Amoêdo, por sua vez, diz rejeitar a adesão de quem só está atrás de uma sigla para se candidatar, sem ter uma ligação partidária efetiva. “Quanto mais tempo passa, mais claro fica que um eventual interesse do Doria em ser candidato pelo Novo se dará apenas pela legenda”, afirma. “Desse jeito não faz sentido ele vir para o partido.”

 ?? MARCELO ANDRADE/GAZETA DO POVO – 9/8/2017 ?? Indecisão. Bernardinh­o, em palestra em Curitiba: candidatur­a incerta ao Senado ou governo do Rio
MARCELO ANDRADE/GAZETA DO POVO – 9/8/2017 Indecisão. Bernardinh­o, em palestra em Curitiba: candidatur­a incerta ao Senado ou governo do Rio

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