O texugo-do-mel, Steve Bannon, caiu engasgado
Steve Bannon chegou a Washington como guardião das promessas de Donald Trump e símbolo da maior delas: “drenar o pântano”. Pois acabou tragado pela areia movediça. O que lhe sobrava em convicção, faltou em talento político. Manteve o espírito do texugo-do-mel, símbolo do Breitbart, o roedor que devora tudo o que vê pela frente. É um estilo eficaz para vencer eleições, não para lidar com pressões subterrâneas. Há tempos, os egos dele e de Trump não cabiam na Casa Branca.
Quando a Time dedicou uma capa a Bannon, Trump retirou-o do Conselho de Segurança Nacional. Depois, ressentiu-se do livro Devil’s Bargain, em que Joshua Green dedica mais espaço a Bannon. Acossado pelos rivais de sua visão antiglobalista, que defende uma guerra comercial contra a China, Bannon cometeu um erro fatal: deu na terça-feira uma entrevista a Robert Kuttner, da esquerdista The American Prospect, sem pedir “off”. Contestou a estratégia de Trump na Coreia, chamou de “coleção de palhaços” os supremacistas de Charlottesville (que o Breitbart sempre afagara) e disse querer que os democratas falem de racismo todo dia. “Se a esquerda estiver concentrada em raça e identidade, e nós formos de nacionalismo econômico, esmagamos os democratas”, afirmou. Propôs uma aliança a esquerdistas que defendem o protecionismo. Queria, segundo Kuttner, que “uma possível convergência de visão sobre a China superasse o fosso político e moral a respeito do nacionalismo branco”.
Sua tática, desmerecer a questão racial para engordar a coalizão econômica, voltou-se contra ele. O conflito racial só cresceu desde a posse de Trump. A agenda anti-China não saiu do lugar. O texugo-do-mel engasgou com a própria voracidade.