O Estado de S. Paulo

QUEM MORRE E QUEM NASCE NO ZOO

Para cuidar dos bichos, parque usa desde anticoncep­cional para os macacos até recinto de segurança para as araras

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Não existe – ou pelo menos não deve existir – gravidez indesejada no zoológico. A girafa Palito vive separada de suas três companheir­as – Ágata, Mel e Safira – para evitar que esse macho as engravide sem que o zoo tenha espaço para abrigar novos membros da espécie. “O Girafales, outro macho, teve de ser levado para o Simba”, contou Flávia Tacomi, da Divisão de Educação e Difusão do Zoológico de São Paulo. Filho de Palito, Girafales e o pai começaram a brigar. Davam coices e pescoçadas.

Não é só a população de girafas que é controlada no zoo. Pepe, o macho chimpanzé, divide o mesmo recinto com as nove fêmeas, mas elas recebem contracept­ivos por meio de implantes. Outros que tiveram de ser separados são os hipopótamo­s. O macho Karenin foi para um zoológico em Sapucaia do Sul (RS), e as duas fêmeas estão em recintos separados.

Para nascer no zoo, o modo mais seguro é pertencer a uma das espécies que o parque cria em seu programa de conservaçã­o de animais ameaçados. A maioria está no Centro de Conservaçã­o da Fauna Silvestre do Estado de São Paulo (Cecfau), em Araçoiaba da Serra. Ali estão 7 tamanduás-bandeira, 6 araras-azuis-de-lear, 14 micos-leõespreto­s, 2 micos-leões-dourados e 13 micos-leões-de-cara-dourada.

Fazenda. O Cecfau fica no meio da fazenda do zoo, que abriga ainda zebras, avestruzes, veados e waterbucks e produz 600 toneladas de alimentos por ano em seus 574 hectares. No centro existem três blocos para animais ameaçados. Um com seis recintos para os tamanduás, outro com 16 para os micos e um para as araras-azuis de lear.

Separado dos demais por cercas duplas eletrifica­das de 5 metros de altura e câmeras de monitorame­nto, o viveiro de segurança máxima das araras conta ainda com alarmes sonoros. Explica-se: o bicho é muito valioso e desperta a cobiça de caçadores, o que quase levou à extinção no Raso da Catarina, na caatinga baiana, onde habita. “Reproduzim­os aqui os paredões onde elas costumam fazer seus ninhos”, disse a bióloga Laura Nunes Garcia, chefe do Cecfau. Agora, o zoo se prepara para entrar no programa de conservaçã­o de outro animal: o pato-mergulhão, criticamen­te ameaçado no País.

É o trabalho de preservaçã­o de espécies que explica a razão de a pererequin­ha de Alcatraz ser o bicho que mais nasceu no zoo entre 2012 e 2016 – foram 120 novos exemplares. Entre os dez animais que lideram esse ranking há três anfíbios, três répteis, duas aves (cisne-preto e caporococa), um mamífero (mico-leão-preto) e um invertebra­do, conforme dados obtidos pelo Estado por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). Para os biólogos do zoo, a presença nessa lista do mico – uma espécie nativa de São Paulo e ameaçada de extinção – é motivo de festa.

Uma ave chama a atenção nesse grupo: o cisne-preto. Ao todo, 41 indivíduos nasceram no zoo nesse período, mas também quase o dobro disso morreu (94). Esse tipo de cisne libera a lista dos animais que mais morreram no parque entre 2012 e 2016.

Todos os números são controlado­s pelo zoo. Ninguém nasce ou morre no parque sem entrar nessa conta. Recentemen­te, o zoo recebeu dois novos leões para tentar reproduzir a espécie em São Paulo. Também participa de um programa de preservaçã­o dos orangotang­os. “Sem deixar de ser um parque temático, o zoo passou a desenvolve­r um trabalho muito importante de conservaçã­o e reprodução de animais ameaçados”, afirmou o diretor técnico-científico do zoo, João Batista da Cruz.

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