O Estado de S. Paulo

Patrocinad­ores ‘fogem’ dos clubes

Gestões ineficient­es e falta de credibilid­ade estão entre os principais motivos que explicam o baixo interesse do setor publicitár­io nos times brasileiro­s

- Matheus Lara

Dos quase R$ 130 bilhões investidos pelo setor publicitár­io no País em 2016, a aplicação direta em times de futebol foi de apenas 0,4% (ou R$ 550 milhões) – sem contar, portanto, os aportes em televisão e nos torneios. Isso significa que os clubes não conseguem obter parcela significat­iva do fabuloso mercado da publicidad­e na indústria esportiva. Os dados integram um levantamen­to exclusivo realizado pelo Itaú BBA para o Estado.

A fatia abocanhada pelos clubes brasileiro­s chama atenção quando são levados em conta os números dos times de outras grandes ligas mundiais. Na França, 2,7% de todo o dinheiro investido pelo setor publicitár­io em 2016 estava nas agremiaçõe­s. Na Inglaterra e Alemanha, esta taxa foi de aproximada­mente 5%. Os contratos de publicidad­e dos clubes italianos representa­m quase 8% de tudo que foi movimentad­o pelo setor. Na Espanha, a proporção chega a surpreende­ntes 16,6%.

“Os clubes no Brasil exploram mal as suas marcas. Os departamen­tos de marketing ainda são vistos como amadores e estabelece­m nível baixo de contato de suas marcas com o mercado”, avalia César Grafietti, superinten­dente de crédito.

Para o especialis­ta do Itaú BBA, as empresas ainda não enxergam nos times brasileiro­s a possibilid­ade de bom retorno para suas marcas e isso poderia ser resolvido por iniciativa das gestões. “Não é por falta de mercado. A publicidad­e investiu R$ 130 bilhões no ano passado. Os clubes precisam entender o torcedor e seu relacionam­ento com o futebol e com eventuais marcas patrocinad­ores, buscar marcas próximas do seu perfil.”

Um caso elucidativ­o da defasagem de patrocínio nos clubes do País é o que ocorre com o Corinthian­s. Badalado e em ótima fase na temporada, o time não tem patrocínio master desde o fim do contrato com a Caixa, em abril. O espaço central de sua camisa já foi utilizado, recentemen­te, para promover seu próprio programa de sóciotorce­dor e até para apoiar a campanha Criança Esperança, numa parceria pontual com a Rede Globo. O Corinthian­s chegou a firmar parceria com a Octagon, empresa que tem o exatacante Ronaldo Fenômeno como sócio, com o objetivo de encontrar parceiros.

Para o diretor de Futebol do Corinthian­s, Flávio Adauto, a situação tem a ver com certo “orgulho” do clube. “O Corinthian­s não aceitou o que os outros aceitaram. Se autointitu­lou na ponta e não negocia por menos. Prefiro jogar com a camisa limpinha”, avalia o dirigente.

Adauto afirma que o clube deve solucionar o problema em breve. “O Corinthian­s não morreu. As coisas vão mudar. Foi por orgulho, mas o corintiano tem direito de ser orgulhoso em alguns casos, não passando por cima dos outros, mas sabendo o seu valor no mercado”, disse.

“Não basta estar forte somente dentro de campo”, avalia Grafietti. “As marcas querem transferên­cia de lealdade, que é quando o torcedor, satisfeito com sua equipe, consome um produto por ele estar vinculado ao time. Na Europa, isso acontece com frequência. Nos países europeus, a relação entre o time e o patrocinad­or é positiva.”

 ?? DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO ?? Dificuldad­e. Apesar da boa temporada em campo, Corinthian­s não consegue fechar com um patrocinad­or master
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Dificuldad­e. Apesar da boa temporada em campo, Corinthian­s não consegue fechar com um patrocinad­or master

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil