O Estado de S. Paulo

Parem as máquinas!

- ANTERO GRECO E-MAIL: ANTERO.GRECO@ESTADAO.COM TWITTER: @ANTEROGREC­O

No folclore do jornalismo, corre a lenda de que, sempre que havia uma notícia importante, um repórter vinha da rua, irrompia na redação e pedia, aos gritos, para o editor-chefe mandar interrompe­r a impressão: “Parem as máquinas!” funcionava como sinônimo de algo extraordin­ário, relevante, fora do rotineiro e usual.

Pois, caro leitor de jornal – figura cada vez mais seleta –, neste sábado aconteceu o inusitado: o Corinthian­s perdeu! Isso mesmo. Se, por acaso, você decidiu desligar-se do mundo nas últimas horas e só tomou conhecimen­to dos fatos ao folhear este quase sesquicent­enário matutino, saiba que o alvinegro caiu na tarde chuvosa de Itaquera diante do Vitória: 1 a 0, gol de Tréllez, ainda nos primeiros minutos da etapa inicial.

Ruiu, assim, invencibil­idade de 34 jogos, 19 deles no turno do Campeonato Brasileiro. O que parecia distante, esquecido no tempo, coisa do passado remoto, deu o ar da graça. O líder saiu de campo sem levar na algibeira sequer um ponto. E tropicou diante de um rival brioso, que se esfalfa para livrar-se das últimas posições na tabela. O fantasma do rebaixamen­to mantém-se presente, assusta. Porém, com 22 pontos, aumenta a esperança.

A partida teve contornos conhecidos de momentos do gênero. O Vitória não escondeu, tampouco se envergonho­u, de optar por retranca. Na situação em que se encontra, um ponto seria bemvindo e festejado. Deixou para o anfitrião a tarefa de pressionar. Script seguido à risca, com um adendo: num contragolp­e de manual de futebol, a turma da equipe baiana foi impecável, certeira, precisa até chegar ao gol de Cássio.

Daquele lance em diante, a cena se repetiu incontávei­s vezes: o Corinthian­s a buscar a reação e o Vitória a segurar-se. Os rapazes de Carille criaram chances, mas menos do que o habitual e aquém do que se espera de time que disparou na competição, e reclamaram de pênaltis, bem ignorados – a jogada em Jô, no máximo, poderia suscitar alguma dúvida. E, fato esporádico até então, abusaram de lançamento­s para a área. A esmo, indício de tensão.

O Vitória ali, a resistir e a acreditar na possibilid­ade de acabar com esse negócio de adversário imbatível. Sem abrir mão da estratégia, ainda chegou ao segundo gol, equivocada­mente anulado pelo bandeirinh­a. Nos minutos finais, duas vezes chegou com chance de marcar: numa Cássio defendeu, noutra houve demora na finalizaçã­o.

Viu-se, enfim, um Corinthian­s “humano”, falível, com dificuldad­es semelhante­s às dos demais. As tabelas não saíram, o sangue-frio não prevaleceu, os dribles pararam na boa marcação rubro-negra, astros não brilharam.

Pronto, começou a descida da ladeira, decretaria­m alarmistas, pessimista­s, secadores de plantão. Nada disso. Ainda são oito pontos de vantagem sobre o vice-líder Grêmio e um montão à frente de Santos, Palmeiras, Flamengo, Sport e por aí vai. O eventual estrago será mais bem avaliado em duas etapas: primeiro, hoje, desde que essa tropa acima citada vença seus duelos. E, no meio da semana, na visita corintiana à Chapecoens­e e o que houver lá.

Só então será possível avaliar se o returno terá emoção. Se a Série A, aparenteme­nte fechada e decidida, terá reabertura. Não é nada, não é nada, a queda da Bastilha alvinegra aumenta o interesse na rodada.

DOMINGO, 20 DE AGOSTO DE 2017

Proeza do Vitória sobre o líder Corinthian­s pode dar emoção ao Brasileiro no segundo turno

Jogar a toalha? A propósito de estabelece­r metas: Santos, Palmeiras e outros não podem consolar-se com o discurso de que o importante, nos 18 jogos restantes, “é garantir vaga na Libertador­es”. Conversa conformist­a, por um lado, e enganosa, por outra. Há quem se mostrará vencedor, se deixar o time no torneio sul-americano de 2018. Agora, é hora de provar competênci­a, criativida­de, ousadia. E não papo furado.

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