Parem as máquinas!
No folclore do jornalismo, corre a lenda de que, sempre que havia uma notícia importante, um repórter vinha da rua, irrompia na redação e pedia, aos gritos, para o editor-chefe mandar interromper a impressão: “Parem as máquinas!” funcionava como sinônimo de algo extraordinário, relevante, fora do rotineiro e usual.
Pois, caro leitor de jornal – figura cada vez mais seleta –, neste sábado aconteceu o inusitado: o Corinthians perdeu! Isso mesmo. Se, por acaso, você decidiu desligar-se do mundo nas últimas horas e só tomou conhecimento dos fatos ao folhear este quase sesquicentenário matutino, saiba que o alvinegro caiu na tarde chuvosa de Itaquera diante do Vitória: 1 a 0, gol de Tréllez, ainda nos primeiros minutos da etapa inicial.
Ruiu, assim, invencibilidade de 34 jogos, 19 deles no turno do Campeonato Brasileiro. O que parecia distante, esquecido no tempo, coisa do passado remoto, deu o ar da graça. O líder saiu de campo sem levar na algibeira sequer um ponto. E tropicou diante de um rival brioso, que se esfalfa para livrar-se das últimas posições na tabela. O fantasma do rebaixamento mantém-se presente, assusta. Porém, com 22 pontos, aumenta a esperança.
A partida teve contornos conhecidos de momentos do gênero. O Vitória não escondeu, tampouco se envergonhou, de optar por retranca. Na situação em que se encontra, um ponto seria bemvindo e festejado. Deixou para o anfitrião a tarefa de pressionar. Script seguido à risca, com um adendo: num contragolpe de manual de futebol, a turma da equipe baiana foi impecável, certeira, precisa até chegar ao gol de Cássio.
Daquele lance em diante, a cena se repetiu incontáveis vezes: o Corinthians a buscar a reação e o Vitória a segurar-se. Os rapazes de Carille criaram chances, mas menos do que o habitual e aquém do que se espera de time que disparou na competição, e reclamaram de pênaltis, bem ignorados – a jogada em Jô, no máximo, poderia suscitar alguma dúvida. E, fato esporádico até então, abusaram de lançamentos para a área. A esmo, indício de tensão.
O Vitória ali, a resistir e a acreditar na possibilidade de acabar com esse negócio de adversário imbatível. Sem abrir mão da estratégia, ainda chegou ao segundo gol, equivocadamente anulado pelo bandeirinha. Nos minutos finais, duas vezes chegou com chance de marcar: numa Cássio defendeu, noutra houve demora na finalização.
Viu-se, enfim, um Corinthians “humano”, falível, com dificuldades semelhantes às dos demais. As tabelas não saíram, o sangue-frio não prevaleceu, os dribles pararam na boa marcação rubro-negra, astros não brilharam.
Pronto, começou a descida da ladeira, decretariam alarmistas, pessimistas, secadores de plantão. Nada disso. Ainda são oito pontos de vantagem sobre o vice-líder Grêmio e um montão à frente de Santos, Palmeiras, Flamengo, Sport e por aí vai. O eventual estrago será mais bem avaliado em duas etapas: primeiro, hoje, desde que essa tropa acima citada vença seus duelos. E, no meio da semana, na visita corintiana à Chapecoense e o que houver lá.
Só então será possível avaliar se o returno terá emoção. Se a Série A, aparentemente fechada e decidida, terá reabertura. Não é nada, não é nada, a queda da Bastilha alvinegra aumenta o interesse na rodada.
DOMINGO, 20 DE AGOSTO DE 2017
Proeza do Vitória sobre o líder Corinthians pode dar emoção ao Brasileiro no segundo turno
Jogar a toalha? A propósito de estabelecer metas: Santos, Palmeiras e outros não podem consolar-se com o discurso de que o importante, nos 18 jogos restantes, “é garantir vaga na Libertadores”. Conversa conformista, por um lado, e enganosa, por outra. Há quem se mostrará vencedor, se deixar o time no torneio sul-americano de 2018. Agora, é hora de provar competência, criatividade, ousadia. E não papo furado.