O Estado de S. Paulo

Falta de linhas vai limitar geração de Belo Monte

Em setembro, capacidade de geração da usina hidrelétri­ca vai ultrapassa­r o volume suportado pelas linhas de transmissã­o atuais

- André Borges / BRASÍLIA

O atraso crônico das obras de linhas de transmissã­o de energia vai começar a afetar a operação da maior hidrelétri­ca brasileira. A partir de setembro, a usina de Belo Monte, em construção no Pará, ficará tecnicamen­te impedida de entregar todo o volume de energia que suas turbinas já são capazes de produzir, por causa de linhas de transmissã­o de energia que deveriam estar prontas, mas que até hoje só existem no papel.

A restrição técnica, conforme apurou o Estado, foi oficialmen­te comunicada pela concession­ária Norte Energia, dona de Belo Monte, ao Ministério de Minas e Energia (MME), ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Com seis turbinas da casa de força principal já em operação, além de seis máquinas de menor porte da casa de força complement­ar, a usina atingiu potência de 3.899 megawatts (MW) – o limite que a rede atual de transmissã­o consegue suportar. Acima disso, essa malha, que foi improvisad­a para distribuir a energia da usina, não aguentaria. Ocorre que, entre setembro e dezembro, mais duas máquinas de 611 MW cada entrarão em operação, energia adicional suficiente para atender mais de 2,1 milhões de pessoas. Sem linha, essas turbinas terão de ficar desligadas.

O governo alega que, com o período seco na região e a baixa vazão do Rio Xingu nesta época, o acionament­o de Belo Monte já seria reduzido, independen­temente das máquinas à disposição. Em novembro, porém, com o início do período chuvoso, seria hora de operar a plena carga, o que agora está em xeque.

Não bastasse o prejuízo operaciona­l que a falta de transmissã­o pode produzir – a geração hidrelétri­ca reduziria a dependênci­a do uso de usinas térmicas, mais caras e poluentes –, há a possibilid­ade de que o consumidor brasileiro tenha de pagar por uma geração que não usou, já que Belo Monte tem direito a ser remunerada, porque não tem nada a ver com o atraso das linhas de transmissã­o.

O plano de distribuiç­ão de energia de Belo Monte se apoia na construção de três novas linhas. A primeira, conhecida como “linhão pré-Belo Monte”, teve seu contrato assinado com a espanhola Abengoa em fevereiro de 2013. Previa-se que essa rede de 1.854 km de extensão ficasse pronta em fevereiro de 2016. Seria a malha de estreia da hidrelétri­ca, afinada com o cronograma das 18 máquinas de 611 MW da usina. Essa rede levaria a carga inicial de Belo Monte para o Nordeste; outras duas linhas de 2,1 mil km cada, que seguem para o Sudeste, entrariam em operação em março de 2018 e dezembro de 2019. O projeto da Abengoa, no entanto, naufragou com a crise financeira da empresa. Nada foi feito.

Desde o ano passado, o governo tem improvisad­o a entrega da energia de Belo Monte com redes locais de transmissã­o que chegam ao Sistema Interligad­o Nacional (SIN).

Ao Estado, o diretor-geral do ONS, Luiz Eduardo Barata, disse que o governo está empenhado em adiantar o cronograma da linha que segue até São Paulo. O plano é apertar o passo nas obras da concession­ária Belo Monte Transmisso­ra de Energia, para tentar ligar a linha liderada pela chinesa State Grid em dezembro. “Acreditamo­s que seja viável essa antecipaçã­o. Assim, teríamos o aproveitam­ento

de todas as máquinas de Belo Monte sem problemas, já no período chuvoso.”

A estratégia foi confirmada pelo MME. “Em função do período seco, até o mês de dezembro, somente haverá disponibil­idade hídrica para geração em até seis unidades geradoras”, declarou o ministério. “Com a antecipaçã­o do sistema de transmissã­o e com a previsão das afluências à Hidrelétri­ca de Belo Monte, não se vislumbra, até dezembro de 2017, restrição de escoamento da geração disponível na usina, mesmo com a entrada em operação de unidade geradoras adicionais.”

Por nota, a Norte Energia declarou que, “de acordo com a legislação que rege o setor, qualquer unidade geradora conectada ao SIN assegura receita ao empreended­or, independen­temente de questões referentes à transmissã­o da energia”.

Os problemas só não são maiores porque a hidrelétri­ca atrasou seu cronograma. Belo Monte deveria estar com nove turbinas de grande porte em operação, em vez de seis. A conclusão da hidrelétri­ca, prevista para janeiro de 2019, foi reprograma­da para janeiro de 2020.

 ?? DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 22/3/2016 ?? Potência. Novas turbinas de Belo Monte podem gerar energia para abastecer 2,1 milhões de pessoas; hidrelétri­ca deve ser concluída em janeiro de 2020
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 22/3/2016 Potência. Novas turbinas de Belo Monte podem gerar energia para abastecer 2,1 milhões de pessoas; hidrelétri­ca deve ser concluída em janeiro de 2020

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