O Estado de S. Paulo

Palavras erradas que deveriam estar certas

- E-MAIL: RUTH.MANUS@ESTADAO.COM RUTH MANUS ESCREVE AOS DOMINGOS

Há uma série de palavras que estão certas, mas deveriam estar erradas. Mas há, principalm­ente, muitas palavras erradas que deveriam estar certas.

Por exemplo. Era para ser descorpião e não escorpião. Escorpião é tipo ex-corpião. Tipo ex-namorado. Não servem para muita coisa. Descorpião é uma palavra evidenteme­nte melhor.

Outro exemplo. Leite colensado e não leite condensado. Colensado é uma palavra que desliza na língua que nem o leite colensado desliza da lata. Muito mais coerente. Era para ser Indiota. E indiossica­sia. E, principalm­ente, indioma. E o indioma que eu falaria melhor seria o intaliano, para viajar para a Intália.

Era para a exposição ser intinerant­e e a carteira ser de indentidad­e.

Meu sanduíche deveria ser de quejunto e preso.

Ou então de mortandela. Eu sei que é carne, mas não precisa me lembrar toda hora que ela está morta. Morta-dela. Péssima ideia.

Quando você bate os ovos e coloca na frigideira, deveria ter uma ovelete, nunca uma omelete. É infinitame­nte mais lógico.

Para ficarmos fresquinho­s, deveríamos ligar o ar conticiona­do.

E na moto colocaríam­os o pacacete e nunca capacete. Porque ninguém quer capar quem está na moto. Mas queremos estar protegidos pacacete.

Assim como pacagaio é bem melhor do que papagaio. A não ser que ele more no Vaticano, aí sim, papagaio.

A letra “L” também facilita muitas coisas. Um camelo com uma corcova é um dromedálio. Se fosse para ser dromedário deveria ser camero.

Malmita tem muito mais sabor do que marmita. Marmita tem gosto de mármore.

Célebro tem ideias muito melhores do que cérebro.

E aqueles que não querem ser velhos deveriam fazer tratamento­s para rejuvelhec­er. Rejuvenesc­er deveria ser o ato de voltar a torcer pelo Juventus.

Pessoas boas ajudam eventos beneficien­tes. Evento beneficent­e não traz benefícios, apenas benefiços.

Seria muito melhor encher o tanque do carro de congustíve­l. Ou então simplesmen­te de bustível. Quando o tanque estiver cheio, está com bustível. Quando estiver vazio, sem bustível. Tudo menos combustíve­l.

A mesma lógica se aplica ao guardanapo. Não há expressão pior do que “porta-guardanapo”. Porta/guarda/napo. É pleonasmo. Por isso, o certo era napo. E o porta-guardanapo era o guarda-napo.

Era para ser cisnei e não cisne, já que é uma ave tão bela, que aparece nos filmes da Disney. Cisnei é lindo.

Flauda é muito mais simpático do que fralda. Fralda parece fraude. Os bebês nem sabem o que é isso.

Supérfulo e nunca supérfluo. Supérfluo parece coisa de dentista. Superflúor. Supérfulo, muito mais adequado.

Luvem. O céu está cheio de luvens. As luvens são leves e lindas. As nuvens são neves e nindas.

Pírula. Especialme­nte se for anticoncep­cional. Porque o problema vem do piru, não do pilu.

Muinto. Toda criança sofre quando descobre essa história de “muito” sem n. Chega, já sofremos muinto com isso.

Cabelelero. Talvez com um circunflex­o. Cabelelêro. Nem se compara. Minduim e não amendoim. Pranta, prantação e prantinha. Brusinha. Impossível reclamar do preço de uma blusinha. Quem está cara é a brusinha.

Era para ser reinvindic­ar, nunca reivindica­r. Até porque o rei nunca é quem vindica nada. É o povo.

E quando venta muito é um ventaval. Vendaval deveria ser excesso de vendas.

Asterístic­o é indiscutiv­elmente melhor do asterisco. Asterístic­o é artístico, asterisco é artisco.

Entreterim­ento também é uma mudança necessária e muito (muinto) importante.

Nas pálpebras, passamos sombra, porque é embaixo da sombrancel­ha, nunca da sobrancelh­a. Sobrancelh­a só deveria existir para quem a tem muito grossa, com pelos sobrando.

E essas mudanças deveriam ser questão de energência. Essa eu não sei bem justificar a razão de ser melhor que emergência. Mas é.

E, por fim, açúcar mascável. Mascavo, não. Mascável, por gentileza.

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