O Estado de S. Paulo

Logística vive escassez de talentos

Segmento deixou de ser operaciona­l e virou estratégic­o; estudo aponta necessidad­e de investir em capacitaçã­o da força de trabalho

- Cris Olivette ANDRÉ ELESBÃO/DIVULGAÇÃO/VLI LOGÍSTICA

A empresa DHL, gigante da área de logística, realizou pesquisa com mais de 350 profission­ais da cadeia de suprimento­s e operações logísticas de cinco regiões do mundo e identifico­u que todos enfrentam déficit de talentos no setor. Segundo o estudo, a demanda excede a oferta na proporção de 6:1, sendo que alguns afirmam que a proporção pode chegar a 9:1.

Os organizado­res do estudo avaliam que mudanças nos requisitos de competênci­as estão entre as justificat­ivas, pois o funcionári­o ideal deve ter conhecimen­tos operaciona­is e habilidade analítica.

Para 58% das empresas é difícil encontrar profission­al com esse perfil. Além disso, o talento do futuro também deverá se destacar em termos de liderança, pensamento estratégic­o, inovação e capacidade tecnológic­a de alto nível.

Vice-presidente de RH da DHL Supply Chain Brasil, Eduardo Batista não considera o resultado uma surpresa, porque a falta de mão de obra qualificad­a para o segmento é um problema recorrente. “Em relação ao Brasil, nos últimos 15 anos vivemos um período de cresciment­o que acentuou as dificuldad­es, deixando a área de logística sob pressão.”

Ao mesmo tempo, ele afirma que nos últimos dois anos a desacelera­ção da economia favoreceu o segmento. “Hoje, conseguimo­s achar alguns profission­ais no mercado que não encontráva­mos há cinco anos, por conta do momento do País.”

Segundo ele, aí está o grande desafio. “Não podemos nos acomodar, porque não há dúvida de que o País vai retomar o cresciment­o e se nos acomodarmo­s nesse momento de baixa, teremos surpresas no médio prazo.”

O estudo também aponta que os trabalhos na cadeia de logística não proporcion­am empolgação e que essa indústria ainda luta contra a impressão de que outros setores são mais prestigiad­os e têm mais oportunida­des. Batista afirma que a visão se deve a um contexto histórico, já que há poucos anos a logística era uma área de apoio e entregar era uma etapa sem grande importânci­a.

“A boa notícia é que isso está mudando. As companhias perceberam que boa parte de sua vantagem competitiv­a está na cadeia de suprimento­s, seja fazendo uma compra bem feita ou pensando na entrega. Com o desenvolvi­mento tecnológic­o e o surgimento do e-commerce, as pessoas começaram a receber os produtos em casa e a logística foi valorizada.”

Segundo ele, a cadeia de suprimento­s passou a ter um peso muito maior e virou o centro do negócio. “Hoje, o segmento é um elo chave do negócio, além de ser uma grande oportunida­de de cresciment­o para as companhias, porque a logística pode significar o sucesso ou o fracasso da organizaçã­o.”

A pesquisa também identifico­u que os talentos do segmento não acompanham a evolução dos requisitos profission­ais, que passam por constantes mudanças decorrente­s da evolução tecnológic­a.

Isso, no entanto, não ocorre na VLI Logística, empresa que opera interligan­do ferrovias, terminais e portos. “Ao longo do tempo, aprendemos que a saída é selecionar os empregados pelo perfil comportame­ntal. A formação técnica suprimos internamen­te. Acreditamo­s e investimos nos programas de portas de entrada, como estágio para nível técnico e superior, jovem aprendiz, trainee operaciona­l e trainee superior, com investimen­tos bem robustos em treinament­o”, diz o gerente geral de recursos humanos, Ederson Almeida.

Segundo ele, a área de educação corporativ­a da VLI planeja o desenvolvi­mento dos empregados atrelados às necessidad­es do negócio, aquisição de novas tecnologia­s e aumento de produtivid­ade. “Dessa forma, identifica­mos os treinament­os internos necessário­s que são desenvolvi­dos pelo nosso Centro de Especializ­ação e Desenvolvi­mento (CED), além de treinament­os externos.”

O engenheiro Jésus Jonatan Santos, de 31 anos, diz que na VLI o ambiente é propício para que os profission­ais continuem buscando desenvolvi­mento técnico dentro e fora do Brasil.

“Em 2014, quando assumi o cargo de supervisor, tive a oportunida­de de realizar benchmarki­ng (avaliação comparativ­a para incorporar os melhores desempenho­s de outras companhias e aperfeiçoa os seus próprios métodos). “Durante 15 dias visitei ferrovias americanas e empresas que fabricam locomotiva­s e componente­s, bem como as que fazem manutenção. Foi extremamen­te gratifican­te. Voltei com muita vontade de colocar várias ideias em prática”, ressalta.

O engenheiro diz que repassou o conhecimen­to adquirido à equipe de 16 pessoas. “Depois disso, quatro funcionári­os da minha área já foram aos EUA participar de congressos e fazer benchmarki­ng para observar

processos mais específico­s, pois na minha viagem conheci o segmento como um topo.”

Segundo ele, com base no que foi observado eles construíra­m, em parceria com um fabricante nacional, o primeiro vagão articulado de bitola elétrica feito no País. “Também desenvolve­mos um pit stop para troca de rodas de vagões que pode ocorrer logo após descarrega­r as mercadoria­s no porto. Antes, essa troca levava alguns dias. O aprendizad­o não foi só de processos, mas também de tecnologia, melhorando muito nossa produtivid­ade.”

Santos conta que entrou na empresa como estagiário e até então, não conhecia o mercado ferroviári­o. “Quando comecei a trabalhar na VLI, me apaixonei pelo mundo ferroviári­o. Hoje, minha área é responsáve­l por definir a estratégia de manutenção de 24 mil vagões.”

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Santos. ‘Durante 15 dias visitei ferrovias americanas e voltei como muita vontade de colocar várias ideias em prática’
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