Logística vive escassez de talentos
Segmento deixou de ser operacional e virou estratégico; estudo aponta necessidade de investir em capacitação da força de trabalho
A empresa DHL, gigante da área de logística, realizou pesquisa com mais de 350 profissionais da cadeia de suprimentos e operações logísticas de cinco regiões do mundo e identificou que todos enfrentam déficit de talentos no setor. Segundo o estudo, a demanda excede a oferta na proporção de 6:1, sendo que alguns afirmam que a proporção pode chegar a 9:1.
Os organizadores do estudo avaliam que mudanças nos requisitos de competências estão entre as justificativas, pois o funcionário ideal deve ter conhecimentos operacionais e habilidade analítica.
Para 58% das empresas é difícil encontrar profissional com esse perfil. Além disso, o talento do futuro também deverá se destacar em termos de liderança, pensamento estratégico, inovação e capacidade tecnológica de alto nível.
Vice-presidente de RH da DHL Supply Chain Brasil, Eduardo Batista não considera o resultado uma surpresa, porque a falta de mão de obra qualificada para o segmento é um problema recorrente. “Em relação ao Brasil, nos últimos 15 anos vivemos um período de crescimento que acentuou as dificuldades, deixando a área de logística sob pressão.”
Ao mesmo tempo, ele afirma que nos últimos dois anos a desaceleração da economia favoreceu o segmento. “Hoje, conseguimos achar alguns profissionais no mercado que não encontrávamos há cinco anos, por conta do momento do País.”
Segundo ele, aí está o grande desafio. “Não podemos nos acomodar, porque não há dúvida de que o País vai retomar o crescimento e se nos acomodarmos nesse momento de baixa, teremos surpresas no médio prazo.”
O estudo também aponta que os trabalhos na cadeia de logística não proporcionam empolgação e que essa indústria ainda luta contra a impressão de que outros setores são mais prestigiados e têm mais oportunidades. Batista afirma que a visão se deve a um contexto histórico, já que há poucos anos a logística era uma área de apoio e entregar era uma etapa sem grande importância.
“A boa notícia é que isso está mudando. As companhias perceberam que boa parte de sua vantagem competitiva está na cadeia de suprimentos, seja fazendo uma compra bem feita ou pensando na entrega. Com o desenvolvimento tecnológico e o surgimento do e-commerce, as pessoas começaram a receber os produtos em casa e a logística foi valorizada.”
Segundo ele, a cadeia de suprimentos passou a ter um peso muito maior e virou o centro do negócio. “Hoje, o segmento é um elo chave do negócio, além de ser uma grande oportunidade de crescimento para as companhias, porque a logística pode significar o sucesso ou o fracasso da organização.”
A pesquisa também identificou que os talentos do segmento não acompanham a evolução dos requisitos profissionais, que passam por constantes mudanças decorrentes da evolução tecnológica.
Isso, no entanto, não ocorre na VLI Logística, empresa que opera interligando ferrovias, terminais e portos. “Ao longo do tempo, aprendemos que a saída é selecionar os empregados pelo perfil comportamental. A formação técnica suprimos internamente. Acreditamos e investimos nos programas de portas de entrada, como estágio para nível técnico e superior, jovem aprendiz, trainee operacional e trainee superior, com investimentos bem robustos em treinamento”, diz o gerente geral de recursos humanos, Ederson Almeida.
Segundo ele, a área de educação corporativa da VLI planeja o desenvolvimento dos empregados atrelados às necessidades do negócio, aquisição de novas tecnologias e aumento de produtividade. “Dessa forma, identificamos os treinamentos internos necessários que são desenvolvidos pelo nosso Centro de Especialização e Desenvolvimento (CED), além de treinamentos externos.”
O engenheiro Jésus Jonatan Santos, de 31 anos, diz que na VLI o ambiente é propício para que os profissionais continuem buscando desenvolvimento técnico dentro e fora do Brasil.
“Em 2014, quando assumi o cargo de supervisor, tive a oportunidade de realizar benchmarking (avaliação comparativa para incorporar os melhores desempenhos de outras companhias e aperfeiçoa os seus próprios métodos). “Durante 15 dias visitei ferrovias americanas e empresas que fabricam locomotivas e componentes, bem como as que fazem manutenção. Foi extremamente gratificante. Voltei com muita vontade de colocar várias ideias em prática”, ressalta.
O engenheiro diz que repassou o conhecimento adquirido à equipe de 16 pessoas. “Depois disso, quatro funcionários da minha área já foram aos EUA participar de congressos e fazer benchmarking para observar
processos mais específicos, pois na minha viagem conheci o segmento como um topo.”
Segundo ele, com base no que foi observado eles construíram, em parceria com um fabricante nacional, o primeiro vagão articulado de bitola elétrica feito no País. “Também desenvolvemos um pit stop para troca de rodas de vagões que pode ocorrer logo após descarregar as mercadorias no porto. Antes, essa troca levava alguns dias. O aprendizado não foi só de processos, mas também de tecnologia, melhorando muito nossa produtividade.”
Santos conta que entrou na empresa como estagiário e até então, não conhecia o mercado ferroviário. “Quando comecei a trabalhar na VLI, me apaixonei pelo mundo ferroviário. Hoje, minha área é responsável por definir a estratégia de manutenção de 24 mil vagões.”