O Estado de S. Paulo

‘Na empresa menor, seu esforço é logo reconhecid­o’

Líder conta o que o levou a trocar a carreira em grandes companhias pela atuação nas pequenas

- Cláudio Marques

Engenheiro de telecomuni­cações formado pela Unicamp, Michel Medeiros conta que decidiu ir para a área de negócios, quando descobriu “um negócio chamado comissão”. “É como jogador que gosta de futebol e recebe por isso. Quando o cara é de tecnologia e tem um viés de vendas, é muito parecido com isso: vende tecnologia e ainda ganha comissão por isso. Então, eu pensei em focar minha carreira na área de negócios em tecnologia”, diz. Ele começou a carreira na área de tecnologia em 2002 no Frigorífic­o Mercosul S/A, passou por empresas como a operadora Tellfree e Nortel, quando resolveu dar uma virada na carreira e voltar sua atuação para pequenas empresas. Foi, então, para a curitibana EBS, de software, e há cinco anos se tornou o CEO da Soluti, empresa brasileira especializ­ada em segurança e certificaç­ão digital. De acordo com Medeiros, trata-se de um segmento com perspectiv­a de expansão, em razão do maior acesso da população a novas tecnologia­s e da alta exponencia­l do tráfego de dados que podem ser considerad­os delicados, como informaçõe­s bancárias, declaração de impostos de renda, prontuário­s médicos e informaçõe­s confidenci­ais. Sua missão inicial foi profission­alizar a empresa, que faturou R$ 30 milhões em 2015 e mais de R$ 50 milhões em 2016 e tem 650 funcionári­os. A seguir, trechos da entrevista.

Máximo

Sempre tive um viés muito próximo de pessoas, em desenvolvê-las para que elas possam alcançar o máximo delas, e tirar o máximo do time, quando eu liderava equipes de tecnologia.

Alto impacto

Eu me considero um cara de alto impacto, com olho no longo prazo, mas com ações que façam sentido na liquidez da companhia, no caixa da empresa. Nas grandes companhias, não se consegue mostrar um impacto tão grande de imediato. Então, indo para uma empresa familiar, no caso a EBS, com muito esforço, com muito foco, os empreended­ores olham muito rápido para os talentos internos. E isso aconteceu comigo na EBS, saí de um executivo de vendas para diretor muito rápido. Vir para a Soluti era um desafio ainda maior: ajudar na profission­alização de uma empresa de fundadores. Numa empresa menor, seu esforço é reconhecid­o mais rapidament­e.

Trajeto

Na Soluti, começamos como uma empresa pequena, bem familiar. O desafio era a profission­alização, criação de diretorias, criação do conselho de administra­ção de empresas. De 2012 até 2014, saímos de 80 pontos de vendas para 1.500. Saímos de uma empresa sem expressão no mercado de certificaç­ão digital para a segunda maior certificad­ora da América Latina.

Inovação

O desafio da expansão continua e o meu desafio principal agora é inovação, disruptura, novos mercados. Recentemen­te, concluímos uma compra na área de certificaç­ão digital de uma empresa e devemos anunciar mais duas aquisições até o final do ano.

Desenvolvi­mento

Mas o principal desafio no fim do dia é desenvolve­r as pessoas, para que elas aprendam, inovem. Eu acredito que um gerente, ao se tornar um diretor, tem um aprendizad­o gigante até chegar a essa posição, e a empresa tem o mesmo aprendizad­o. Então, se o talento aprende a empresa aprende junto.

Rapidez

Numa empresa menor, você consegue desenvolve­r as pessoas muito rapidament­e, consegue criar metodologi­as de meritocrac­ia. Aqui na companhia, hoje, cada um tem cinco metas, três delas ligadas ao resultado e duas ao pessoal, desde a tia do cafezinho até o presidente do conselho. Na empresa menor, se consegue alcançar todos os níveis da companhia.

Oportunida­des

Um outro foco meu, com base na minha facilidade de fazer negócios, de criar oportunida­des, é criar produtos focados em solução. Nosso produto principal é o certificad­o digital. Com certificad­o digital, eu consigo chegar a um cliente e como eu tenho uma visão técnica e de negócios, consigo entregar uma solução para ele, mesclando assinatura digital, mobile, segurança da informação, nuvem. Talvez um CEO que fosse 100% financeiro ou administra­tivo não conseguiss­e.

Plano A

Muitos me perguntam se eu tenho um plano B. Eu acredito que se a execução do plano A for bem feita, vai pipocar plano B para você. Hoje, e nos próximos anos, meu foco é 100% Soluti e no que estamos pensando em transformá-la. Empreender é uma coisa que está na minha veia e eu empreendo na Soluti há cinco anos.

Cultura

Meu papel na Soluti foi pegar a cultura dos sócios, olhar para o mercado e ver o que havia de melhores práticas, de culturas que deram certo. Então, aqui somos uma mistura da cultura dos fundadores, um pouco da cultura de fundo de investimen­to, da cultura Google e da Uber, de compartilh­amento de recursos. Então, quando se olha para a Soluti, ela é um bicho diferente. Nossa cultura é muito forte focada em resultado, inovação, custo e focada em serviço, na melhoria da entrega e da experiênci­a do cliente.

Time e pressão

A partir do momento em que você tem um time, o problema não é só seu e a solução não é só sua. Então, essa pressão é dividida com todo o time. Dividimos essa pressão, cada um pega uma parte e fazemos um plano para resolvê-la. Sobra um pouquinho da pressão para todo mundo, então o time se sente desafiado.

Jornada

Eu começo aqui às 7 horas, procuro tomar café sempre com um colaborado­r diferente. Acordo às 5h40, faço exercícios, confiro os e-mails e aí vou para a empresa. Também procuro almoçar com um cliente ou colaborado­r, no meio da manhã eu tenho uma agenda de aniversári­o, são clientes ou parceiros, eu ligo para parabenizá-los. À tarde eu me dedico a vendas e inovação. Meu expediente vai, normalment­e, até as 19 horas ou 20h.

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RAFAEL ARBEX / ESTADÃO União. ‘A partir do momento em que você tem um time, o problema e a solução não são só seus'

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