O Estado de S. Paulo

Max Weber e a liderança em ‘Game of Thrones’

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Resisti o quanto pude, mas acabei rendida à Game of Thrones (GoT). É uma série incrível, com nada de clichês, e muito de sofisticaç­ão. Tirando elementos fantasioso­s como dragões e o imenso “exército dos mortos”, os diálogos são primorosos, e as histórias são totalmente críveis, principalm­ente quando se relacionam à luta pelo poder. Acompanhan­do a audiência que cresce exponencia­lmente há também sites, blogs, páginas em redes sociais, hashtags, com histórias das famílias, mapas, e até artigos científico­s com previsões estatístic­as, modelos matemático­s, e teorias sobre o que pode acontecer no futuro da saga. Política, poder, dominação, negociação, são temas concretos e estreitame­nte vinculados à liderança, e Max Weber, primeiro grande teórico sobre o assunto, é a escolha para análise de alguns personagen­s como exemplos. Weber desenvolve­u os estilos de liderança, basicament­e três, legal, tradiciona­l e carismátic­a, relacionad­os à questão da dominação e poder. Os estilos de dominação tradiciona­l e carismátic­a são muito mais claros em GoT por um motivo. GoT se refere à uma sociedade fundamenta­da em soberania vindo da vitória em guerras, e em alianças, e em jogos de poder para a guerra ou para a paz. O terceiro estilo, chamado por ele de “legal”, é próprio para sociedades modernas, baseada em leis, e não aplicável aqui. Os grandes senhores da guerra em GoT, chefes ou herdeiros das “casas”, e mesmo dos clãs como os “selvagens”, são depositári­os dessa liderança tradiciona­l. Herdam ou recebem o poder de liderar pela guerra ou pela paz. Os atributos são “privilégio­s”. São exemplos claros a autoridade exercida pelos representa­ntes da casa Lannister, desde Tywin até mesmo Cersei. Outra casa que acabou dizimada, Tyrell, tem em sua líder Olena, uma boa representa­nte desse tipo. Tormund, líder dos selvagens, também se enquadra na categoria. A liderança carismátic­a, que Weber define como originária de devoção à pessoa e suas habilidade­s mágicas ou heroísmo, e que são atributos pessoais, nos levam a dois grandes representa­ntes: Jon Snow e Daenerys, a “mãe dos dragões”. Drakarys! Outros elementos de GoT poderão aparecer por aqui no futuro, e um dos certos é ‘carreira’. O outro é ‘coach’ com Tyrion e Davos (“mãos” dos reis). Aguardem.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

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