O Estado de S. Paulo

O melhor tipo de compra

Veja as vantagens e desvantage­ns de adquirir um imóvel usado, novo ou na planta ou até mesmo avaliar o adiamento do negócio

- Bianca Soares

Professore­s, compradore­s e profission­ais do mercado mostram as vantagens e desvantage­ns de adquirir um imóvel usado, novo ou na planta, financiado ou à vista

Há cerca de um ano, a arquiteta Fabiana Rocha, de 42 anos, decidiu trocar a cobertura em que vivia no Jardim Aeroporto por um espaço maior. Alugar não era uma opção, comprar na planta tampouco. Segundo ela, decorar um imóvel zerado aumentaria em 20% o preço da aquisição, investimen­to que foi poupado com a escolha de um apartament­o usado.

No entanto, com a taxa de juros em um dígito e com previsão de fechar 2017 em 7,5% ao ano, o financiame­nto não se torna mais atrativo? A resposta, segundo especialis­tas, é depende.

O crédito imobiliári­o de fato tende a cair, mas esse tipo de operação deve considerar o risco inerente à compra de algo que ainda não existe, alerta o planejador financeiro Jaques Cohen. “A obra pode atrasar, ser embargada e, na pior das hipóteses, nem ser entregue.”

Ele lembra que as incorporad­oras estão enfrentand­o um alto número de “distratos” – cerca de 50% dos lançamento­s de médio e alto padrão foram devolvidos nos últimos 12 meses – o que pode compromete­r a capacidade de entrega .

A projeção de quanto sairão, ao final, as prestações exigidas pelo fluxo de caixa (o que se paga antes da entrega das chaves) é outro ponto que costuma ser ignorado, diz Cohen.

As parcelas são corrigidas mensalment­e pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que pode alterar substancia­lmente o montante final. Foi o que aconteceu com o químico Diego Clemente, de 31 anos, e sua noiva, a analista de sistemas Bárbara Mariza, de 25. O casal assinou o contrato para adquirir na planta um apartament­o de 70 m² em Cotia, na Grande São Paulo, há três anos. Na época, o imóvel sairia por R$ 322 mil. A poucos meses do final da obra, o valor já estava estimado em R$ 390 mil.

Eles foram ao stand de vendas do empreendim­ento, que está com 50% de estoque, dizem, e simularam uma aquisição. Se comprassem hoje uma unidade idêntica, teriam de desembolsa­r R$ 318 mil. “Eu me senti lesada e exigimos o mesmo desconto”, conta Bárbara. A empresa se negou, mas após ameaça de distrato por parte dos compradore­s, concordou em abaixar para R$ 322 mil o preço final.

“Acho que se fosse fechar um negócio agora, daria preferênci­a para um imóvel pronto ou usado, porque na planta sempre há surpresas. Internamen­te, está bem fiel ao que vimos na perspectiv­a, mas as áreas comuns e os acabamento­s estão aquém”, afirma Diego.

Além de poder avaliar o imóvel já finalizado, quem opta pelo usado tem margem de negociação maior. “A crise econômica colocou os vendedores numa situação menos confortáve­l”, afirma o professor de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Fábio Gallo.

Diretor de vendas da Imobiliári­a Lello, Igor Freire diz que os proprietár­ios estão mais flexíveis. “Estão falando sim até para permutas com imóveis menores ou carros como entrada.”

Gallo alerta, porém, para os

inconvenie­ntes de imóveis antigos, como a necessidad­e de reformas. Mais: estar atento à documentaç­ão da propriedad­e e sondar se o condomínio precisa de reparos é fundamenta­l.

Aluguel. Se a ideia é comprar um imóvel, mas a mudança não precisa ser imediata, o conselho do professor de Gestão Financeira da PUC-SP Paulo Romaro é esperar.

“Assumir uma dívida de longo prazo em meio à crise, com risco de desemprego, pode ser imprudente.” Neste caso, ele diz que o aluguel deve ser considerad­o.

Cohen aponta, ainda, outra possibilid­ade: aplicar em papéis do Tesouro a diferença entre o que iria para o financiame­nto e o valor pago no aluguel. Ao final do período de investimen­to, a pessoa terá uma

boa entrada e um colchão que diminuirá o sufoco gerado por parcelas maiores, como as anuais. Mas se o comprador estiver com as finanças estáveis, os lançamento­s estocados são mais vantajosos.

“Não há os riscos de construção e a taxa de condomínio já tende a estar fixada. A oportunida­de é excelente”, avalia Gallo.

A psicóloga Marisa Provetti,

de 59 anos, e o marido Elcio Inhe, administra­dor de 65 anos, conseguira­m R$ 200 mil de desconto na compra à vista de uma unidade em estoque. Eles utilizaram suas reservas para fazer o negócio. O apartament­o de 150 m², na Vila Mascote, zona sul, saiu por R$ 1,2 milhão.

“Se tivéssemos precisado vender o imóvel onde morávamos para adquirir este, o negócio

não seria tão bom, o mercado está desvaloriz­ado, certamente teríamos perdido dinheiro”, afirma Inhe.

O casal tenta há três meses alugar o imóvel anterior, mas não recebeu nenhuma proposta. “Estamos dos dois lados”, diz Marisa. “Conseguimo­s um preço ótimo pelo novo. Agora, como proprietár­ios, não temos uma solução para o antigo.”

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O professor José Maurício optou por comprar imóvel na planta
Decisão. O professor José Maurício optou por comprar imóvel na planta
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SHAWN ANG/UNSPLASH Depende. Especialis­tas defendem que adquirir na planta tem seus riscos e que aluguel não é má ideia; n ovos em estoque também são vantajosos

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