Saúde e bem-estar de ponta
Empresas nascentes que desenvolvem produtos e serviços inovadores e de baixo custo passam por programa de aceleração
Empresas nascentes desenvolvem produtos e serviços inovadores e de baixo custo voltados a esse segmento, que tem se mostrado um campo fértil para o empreendedorismo
No Brasil, o segmento de saúde vive uma revolução, aponta mapeamento setorial feito pela aceleradora de negócios de impacto social Artemisia. O estudo identificou a existência de 171 empresas nascentes, muitas das quais usam tecnologia para oferecer serviços e produtos voltados à saúde e bem-estar.
“Esse segmento tem se mostrado um campo fértil para o empreendedorismo e novos modelos de negócios estão sendo criados para complementar ou qualificar a oferta pública”, diz a diretora, Maure Pessanha.
Para impulsionar essas iniciativas a entidade realiza em parceria com o Instituto Sabin, o Artemisia Lab. “Das 171 empresas mapeadas, selecionamos 17 para participarem do programa.”
Entre as startups que acabam de passar pelo Artemisia Lab está a Beone Tech, que desenvolveu tecnologia voltada aos portadores de diabetes que sofrem com feridas que não cicatrizam.
O produto da Beone trata feridas do “pé diabético” e evita amputações. “Esse problema não tinha solução eficaz, apenas tratamentos meramente paliativos. O paciente fica com a ferida aberta por meses, uma porta de entrada para bactérias. No mundo, 100 milhões de pessoas sofrem com o problema e estão prestes a perder membros”, diz o ex-aluno de engenharia elétrica da Universidade de Pernambuco, Caio Moreira Guimarães, que deixou o curso para empreender.
“Em 2013, fui para Nova York me especializar em engenharia bioelétrica, área que une engenharia e medicina”, explica.
Nos Estados Unidos, trabalhou no laboratório Wellman Center. “A unidade é uma fusão da escola de medicina de Harvard com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e desenvolve tecnologias para a área médica.”
Guimarães desenvolveu pesquisa usando plataforma de tratamento de fotobiomodelação. “Trata-se do uso de luz, ou seja, de comprimentos específicos de ondas eletromagnéticas que conseguem dar comandos genéticos ao tecido e matar bactérias e micro-organismos presentes em infecções e ferimentos.”
O trabalho rendeu prêmio de inovação de Harvard e MIT. “Em 2014, voltei ao Brasil e montei uma equipe de pesquisa multidisciplinar para prosseguir o estudo, com foco no tratamento de “pés diabéticos”.”
Segundo ele, a diabetes é a maior causa de amputações de membros no mundo. “Em 2015, criamos a Beone Tech para começar a gerar impacto de verdade, porque o produto tem potencial de ajudar muita gente.”
Após ensaios clínicos realizados em hospitais, a tecnologia está pronta para chegar ao mercado. “Os resultados foram melhores do que esperávamos. Falta, apenas, registro da Anvisa.”
Segundo ele, uma empresa holandesa desenvolveu o designer e o conceito de viabilidade junto com sua equipe. “O paciente coloca o pé dentro do equipamento e realiza algumas seções por semana. Em 13 semanas, no máximo, a ferida estará fechada”, afirma.
Inicialmente, a ideia é vender o produto para hospitais e clínicas. “Dentro de cinco anos pretendemos vender para o paciente final, pois o preço será muito justo e acessível.”
Ele afirma que passar pelo Artemisia Lab foi um estímulo para que eles resolvessem pendências para a fabricação do produto.
Guimarães diz que não tinha noção do impacto social que a solução causaria nos pacientes. “Com a eficácia do tratamento, o paciente muda sua perspectiva de vida e volta a ter esperança de ter uma vida normal, também se interessa por fazer dieta e cuidar melhor da saúde.”
A Epitrack, de Onício Leal Neto e Jones Albuquerque, também passou pela Artemisia. O primeiro produto da empresa foi o aplicativo Saúde na Copa, utilizado oficialmente pelo Ministério da Saúde na Copa do Mundo de 2014.
O app tem como base de trabalho o crowdsourcing – a construção da informação feita de maneira coletiva pelos usuários. “O objetivo era identificar, antecipadamente, epidemias que por ventura viessem a ocorrer no mundial. No mesmo ano, lançamos produto semelhante nos Estados Unidos e Canadá, para identificar epidemias de influenza”, diz Leal Neto.
Segundo ele, passar pela aceleração foi importante para reformular o modelo de negócio. “Desenvolver app voltado apenas aos governos envolve riscos. Formatamos um novo produto que será lançado neste ano.” O aplicativo batizado de Clinio é direcionado para consulta médica (R$ 79) em domicilio.
“A solução também permite a construção coletiva de informações sobre saúde em uma região, com base nos dados inseridos pelos médicos que atendem pelo app”, diz.
A Epitrack pretende vender os dados coletados nas consultas às empresas da cadeia de valor de saúde. “Os dados são analisados por meio de inteligência artificial que extrai informações que evidenciam o cenário de saúde de cada região.”