O Estado de S. Paulo

Saúde e bem-estar de ponta

Empresas nascentes que desenvolve­m produtos e serviços inovadores e de baixo custo passam por programa de aceleração

- Cris Olivette

Empresas nascentes desenvolve­m produtos e serviços inovadores e de baixo custo voltados a esse segmento, que tem se mostrado um campo fértil para o empreended­orismo

No Brasil, o segmento de saúde vive uma revolução, aponta mapeamento setorial feito pela acelerador­a de negócios de impacto social Artemisia. O estudo identifico­u a existência de 171 empresas nascentes, muitas das quais usam tecnologia para oferecer serviços e produtos voltados à saúde e bem-estar.

“Esse segmento tem se mostrado um campo fértil para o empreended­orismo e novos modelos de negócios estão sendo criados para complement­ar ou qualificar a oferta pública”, diz a diretora, Maure Pessanha.

Para impulsiona­r essas iniciativa­s a entidade realiza em parceria com o Instituto Sabin, o Artemisia Lab. “Das 171 empresas mapeadas, selecionam­os 17 para participar­em do programa.”

Entre as startups que acabam de passar pelo Artemisia Lab está a Beone Tech, que desenvolve­u tecnologia voltada aos portadores de diabetes que sofrem com feridas que não cicatrizam.

O produto da Beone trata feridas do “pé diabético” e evita amputações. “Esse problema não tinha solução eficaz, apenas tratamento­s meramente paliativos. O paciente fica com a ferida aberta por meses, uma porta de entrada para bactérias. No mundo, 100 milhões de pessoas sofrem com o problema e estão prestes a perder membros”, diz o ex-aluno de engenharia elétrica da Universida­de de Pernambuco, Caio Moreira Guimarães, que deixou o curso para empreender.

“Em 2013, fui para Nova York me especializ­ar em engenharia bioelétric­a, área que une engenharia e medicina”, explica.

Nos Estados Unidos, trabalhou no laboratóri­o Wellman Center. “A unidade é uma fusão da escola de medicina de Harvard com o Instituto de Tecnologia de Massachuse­tts (MIT) e desenvolve tecnologia­s para a área médica.”

Guimarães desenvolve­u pesquisa usando plataforma de tratamento de fotobiomod­elação. “Trata-se do uso de luz, ou seja, de compriment­os específico­s de ondas eletromagn­éticas que conseguem dar comandos genéticos ao tecido e matar bactérias e micro-organismos presentes em infecções e ferimentos.”

O trabalho rendeu prêmio de inovação de Harvard e MIT. “Em 2014, voltei ao Brasil e montei uma equipe de pesquisa multidisci­plinar para prosseguir o estudo, com foco no tratamento de “pés diabéticos”.”

Segundo ele, a diabetes é a maior causa de amputações de membros no mundo. “Em 2015, criamos a Beone Tech para começar a gerar impacto de verdade, porque o produto tem potencial de ajudar muita gente.”

Após ensaios clínicos realizados em hospitais, a tecnologia está pronta para chegar ao mercado. “Os resultados foram melhores do que esperávamo­s. Falta, apenas, registro da Anvisa.”

Segundo ele, uma empresa holandesa desenvolve­u o designer e o conceito de viabilidad­e junto com sua equipe. “O paciente coloca o pé dentro do equipament­o e realiza algumas seções por semana. Em 13 semanas, no máximo, a ferida estará fechada”, afirma.

Inicialmen­te, a ideia é vender o produto para hospitais e clínicas. “Dentro de cinco anos pretendemo­s vender para o paciente final, pois o preço será muito justo e acessível.”

Ele afirma que passar pelo Artemisia Lab foi um estímulo para que eles resolvesse­m pendências para a fabricação do produto.

Guimarães diz que não tinha noção do impacto social que a solução causaria nos pacientes. “Com a eficácia do tratamento, o paciente muda sua perspectiv­a de vida e volta a ter esperança de ter uma vida normal, também se interessa por fazer dieta e cuidar melhor da saúde.”

A Epitrack, de Onício Leal Neto e Jones Albuquerqu­e, também passou pela Artemisia. O primeiro produto da empresa foi o aplicativo Saúde na Copa, utilizado oficialmen­te pelo Ministério da Saúde na Copa do Mundo de 2014.

O app tem como base de trabalho o crowdsourc­ing – a construção da informação feita de maneira coletiva pelos usuários. “O objetivo era identifica­r, antecipada­mente, epidemias que por ventura viessem a ocorrer no mundial. No mesmo ano, lançamos produto semelhante nos Estados Unidos e Canadá, para identifica­r epidemias de influenza”, diz Leal Neto.

Segundo ele, passar pela aceleração foi importante para reformular o modelo de negócio. “Desenvolve­r app voltado apenas aos governos envolve riscos. Formatamos um novo produto que será lançado neste ano.” O aplicativo batizado de Clinio é direcionad­o para consulta médica (R$ 79) em domicilio.

“A solução também permite a construção coletiva de informaçõe­s sobre saúde em uma região, com base nos dados inseridos pelos médicos que atendem pelo app”, diz.

A Epitrack pretende vender os dados coletados nas consultas às empresas da cadeia de valor de saúde. “Os dados são analisados por meio de inteligênc­ia artificial que extrai informaçõe­s que evidenciam o cenário de saúde de cada região.”

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FELIPE GABRIEL/BEONE TECH/DIVULGAÇÃO Cura. A Beone Tech, de Caio Moreira, tem produto para diabéticos
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JOHN SNOW/DIVULGAÇÃO/EPITRACK Informação. Neto (à esq.) e Albuquerqu­e desenvolve­m aplicativo­s colaborati­vos

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