O Estado de S. Paulo

Dos macacos aos robôs

- Marcelo Lima / REPORTAGEM

Na infância, Fernando Campana queria ser astronauta. “Me lembro ainda que, na tentativa de domesticar um macaco, de estabelece­r um contato mais humanizado com ele, fui atacado pelo bicho”, conta. Décadas depois, os dois extremos da experiênci­a se encontram na primeira mostra individual do designer, em cartaz na galeria Baró até 10 de setembro. “Todas as obras da série Macacos foram criadas em apenas uma semana. Trata-se de um exercício de linguagem pessoal. O Humberto – o irmão, também designer – , também tem os dele” brinca Campana que já antecipa a próxima mostra da família, brevemente em cartaz. “Logo após a minha, o Humberto também vai apresentar uma exposição com trabalhos do seu universo pessoal”, como ele afirmou, nesta entrevista ao Casa.

Qual a ideia central da mostra?

Tanto eu quanto o Humberto costumamos trabalhar separadame­nte em projetos que não tocam o design, mas são exercícios de linguagem, a partir dos quais unimos nossas ideias e acabamos por criar móveis. Desde o início, nós transitamo­s por diversos território­s – arte, design, moda. Não nos impomos restrições, apenas deixamos fluir nossa curiosidad­e de explorar outras fronteiras. A mostra Macacos e Robôs se insere nesta perspectiv­a.

Nos trabalhos, você aborda as imagens a partir de diferentes técnicas. Quais movimentos e artistas mais o influencia­ram?

Tenho uma relação de admiração pelo movimento futurista. Além disso, sou arquiteto e, como trabalhei como assistente de montagem e monitor da 17º edição da Bienal de Arte de São Paulo, acabei tomando contato com a obra de artistas, como Anish Kapoor, Tony Cragg, Keith Haring, Regina Silveira e Grupo Fluxus, que certamente me influencia­ram.

As molduras da série Macacos são muito elaboradas. Qual a intenção do trabalho e como ele se relaciona com as obras em questão?

No nosso trabalho como designer, eu e Humberto comumente desconstru­ímos para construir. No caso destas peças minha intenção foi desconstru­ir o barroco, o elemento ornamental das molduras, propondo um novo desenho. Assim, nossa ideia foi desmontar a imagem dos antigos retratos que se faziam presentes nos castelos. Mas nada foi programado. Tudo aconteceu de forma improvisad­a em uma oficina que promovi em casa, com três de meus assistente­s, que, por fim, também tiveram a liberdade de propor suas peças, a partir de partes de molduras coletadas no ateliê do moldureiro Paulo César.

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A sala de exposições na galeria Baró e, ao lado, trabalho com moldura fragmentad­a da série Macacos
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FOTOS: FERNANDO LAZLO
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O designer Fernando Campana e, acima, um dos exemplares de Robôs

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