‘Nosso modelo é de crise permanente’
Para presidente da Câmara, Rodrigo Maia, País deve alterar o sistema de governo para o parlamentarismo
insuficiente para acompanhar essa distribuição. É notório que os limites que estão sendo estabelecidos para as campanhas não estão sendo cumpridos. 80% dos municípios não podiam gastar mais de R$ 100 mil para prefeito, o que não é realista. Um vereador, R$ 10,8 mil. Temos é que tornar as campanhas mais baratas, re- vendo o modelo da propaganda na televisão, e buscar uma proximidade entre o eleitor e os políticos.
Neste contexto, de baratear as campanhas, como o senhor vê a adoção do distrital misto?
A vantagem desse modelo é que ele cria uma interface direta do candidato com o eleitor. É uma campanha feita num território menor que se parece muito com uma campanha de prefeito, onde você dialoga di- retamente com o eleitor. A cláusula de barreira é tão importante como discutir financiamento? Não podemos discutir financia- mento sem olharmos antes o sistema eleitoral que a gente está definindo. E, claro, temos de reduzir esse número de par- tidos. Não é possível termos 28 partidos representados no Congresso. Não é possível ter- mos 35 partidos no total. O parlamentarismo deve entrar nessa discussão?
Acho que sim, mas não por
conta da reforma política, ape-
sar de ela ajudar a revisar o sis- tema de governo. O que detec- tamos: quatro presidentes após a retomada da democra- cia e só dois chegaram ao fim do mandato. É um dado que mostra uma instabilidade. O Deputados, presidente Rodrigoda Câmara Maiados (DEM-RJ), disse ao Estado que a reforma política, se aprovada, poderá levar o País para o parlamentarismo em um “segundo momento”. Abaixo, os principais trechos da entrevista. o A BrasilQual ideal a precisa?é reforma aquela políticaque reaproximeque a sociedade da política brasileira. Aquela onde o eleitor de fato se sinta representado pelos seus eleitos. Esse é o ideal, que a gente tenha um sistema onde a sociedade se sinta parte da política de uma forma
permanente. A reforma discutida atualmente é essa reforma ideal? Ou apenas parte dela? Acho que a reforma, do jeito que está construída, terá um resultado muito positivo, caso aprovada. Estamos trabalhando com um sistema de transição, que é o atual, que está falido eé o pior de todos, ou o distritão, que pode ser melhor que o atual para uma eleição, como modelo transitório, apesar de não ser o ideal. Na minha análise, o distritão renova mais do que o proporcional, apesar de a maioria dos analistas discordarem. E estamos colocando para 2022 o distrital misto, que está consolidado em uma das democracias mais avançadas do mundo, que é a Alemanha. Do outro lado da reforma, vamos deixar o financiamento público como referência, mas sem valor definido.
O eleitor entende isso? A cada eleição há novas regras, como explicar tanta mudança?
O distrital misto é um sistema consolidado, ninguém vai tratá-lo como transitório. Se ele for aprovado para a eleição de 2022, vamos trabalhar na próxima legislatura para fazer a sua regulamentação. Tem uma parte relevante da sociedade hoje, principalmente no mundo das redes sociais, que defende muito o voto no distrito. E tem uma outra parte dos partidos mais à esquerda, que entende que a lista pré-ordenada que faz fortalecer o debate de ideias. Com o sistema alemão, então, vamos trazer para a política as duas partes da sociedade. Nós precisamos, como nas democracias mais consolidadas, ter uma renovação menor, mas com mais qualidade.
A adoção do parlamentarismo cabe nessa discussão?
Se a gente conseguir avançar no distrital misto, isso pode gerar condições para que a gente pense no parlamentarismo, que eu sou a favor. Se conseguirmos organizar o sistema eleitoral para que ele seja racional, que aproxime a sociedade, aí poderemos, num segundo momento, olhar para um sistema que seja, vamos dizer assim, menos imprevisível como o presidencialismo hoje é. O nosso presidencialismo hoje é um sistema de crises permanente.