Funaro fecha delação com a PGR; Temer deve ser alvo
Corretor assina colaboração com a Procuradoria-Geral da República e se compromete a detalhar pagamentos de propinas ao PMDB
Operador financeiro do PMDB da Câmara e homem de confiança do expresidente da Casa Eduardo Cunha, Lúcio Funaro firmou ontem acordo de delação com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Suas acusações devem ser usadas nas denúncias contra Michel Temer que ainda podem ser apresentadas pelo procurador-geral, Rodrigo Janot. Alvo de duas operações, que apuram sua atuação no FIFGTS e na Caixa, Funaro também deve explicar como o PMDB atuava em órgãos públicos sob controle de integrantes do partido.
O corretor Lúcio Funaro assinou ontem acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral da República no qual vai detalhar sua atuação como operador financeiro do PMDB da Câmara. O grupo político, liderado pelo presidente Michel Temer, tem como principais integrantes os atuais ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), os ex-ministros Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, além do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDBRJ), preso em Curitiba por ordem do juiz Sérgio Moro.
As revelações de Funaro devem ser usadas nas denúncias contra Temer que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pode apresentar antes de deixar o cargo, em 17 de setembro. Denunciado por corrupção passiva – processo que a Câmara rejeitou –, o presidente é investigado ainda em inquéritos que apuram crimes de obstrução da Justiça e organização criminosa. Nos dois casos, Funaro disse que pode contribuir com informações.
Procurados, o Palácio do Planalto, a J&F e a defesa de Cunha informaram que não vão se manifestar. A defesa de Geddel não respondeu.
Os temas dos anexos entregues por Funaro foram aceitos por Janot. A partir de agora, o operador inicia uma rodada de depoimentos aos procuradores da Lava Jato. Ontem, o corretor passou a tarde e o início da noite na sede da Procuradoria-Geral da República. Para facilitar a logística, o corretor novamente deixou o Complexo Penitenciário da Papuda e está na Superintendência da Polícia Federal.
Conversa. Funaro chegou à PF anteontem. Passou a tarde conversando com a equipe do advogado Antônio Figueiredo Basto, responsável pela negociação que durou mais de dois meses. Recebeu a visita do delegado Marlon Cajado, responsável pela investigação da Operação Patmos, desdobramento da delação de executivos do Grupo J&F. Os dois saíram em uma viatura da PF com destino à Procuradoria-Geral da República, onde foi realizada a última conversa na qual o conteúdo do acordo e os termos foram fechados.
A conversa na Procuradoria anteontem terminou depois da 0h30. Como Funaro e os procuradores modificaram algumas cláusulas do acordo, a assinatura foi adiada para ontem. À tarde, Funaro chegou a se dirigir à Justiça Federal em Brasília onde teria uma audiência da ação penal da Operação Sépsis, na qual foi preso em julho de 2016.
No local, Funaro e seu advogado, Bruno Espiñeira, informaram ao juiz Vallisney de Souza Oliveira o compromisso agendado para assinatura do acordo na Procuradoria. Por volta das 13h25 o corretor seguiu para PGR, onde assinou a delação.
Temas. Funaro deve relatar aos investigadores como o PMDB da Câmara atuava em órgãos públicos sob o controle de seus integrantes. O corretor foi alvo de duas operações, a Sépsis e a Cui Bono?. A primeira apura sua atuação no Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, o FIFGTS, e a segunda mira em sua influência na vice-presidência de Pessoa Jurídica da Caixa durante a gestão de Geddel.
Estão na mira das investigações
“O Funaro é o operador financeiro do Eduardo (Cunha) do esquema do PMDB da Câmara, composto pelo presidente Michel (Temer), Eduardo, enfim, e alguns outros membros.”
“Ele (Funaro) sempre dizia: ‘Eu falo em nome de Eduardo e Eduardo é da turma do Michel’.” Joesley Batista DONO DA J&F E DELATOR
grupos econômicos como a holding J&F dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
Só do Grupo J&F, segundo planilha entregue por Joesley Batista em sua delação, Funaro recebeu cerca de R$ 170 milhões nos últimos 12 anos. À Lava Jato, o corretor deve citar quais políticos participaram dos esquemas que resultaram nesses pagamentos.
Outro tema a ser abordado será a veracidade das afirmações de Joesley a Temer em conversa gravada pelo empresário no Palácio do Jaburu. Joesley disse que continuou efetuando pagamentos ao corretor mesmo após sua prisão para evitar que ele partisse para uma delação.
“O Funaro é o operador financeiro do Eduardo do esquema PMDB da Câmara, composto pelo presidente Michel (Temer), Eduardo, enfim, e alguns outros membros”, disse Joesley em seu acordo. “Ele (Funaro) sempre dizia: ‘Eu falo em nome do Eduardo e Eduardo é da turma do Michel’”, afirmou o empresário.
Impacto
Auxiliares do presidente Michel Temer tentaram minimizar o estrago no governo da delação do corretor Lúcio Funaro, mas destacaram que é preciso esperar o teor do acordo para avaliar o possível impacto.