O Estado de S. Paulo

Funaro fecha delação com a PGR; Temer deve ser alvo

Corretor assina colaboraçã­o com a Procurador­ia-Geral da República e se compromete a detalhar pagamentos de propinas ao PMDB

- Fabio Serapião Beatriz Bulla Fábio Fabrini /

Operador financeiro do PMDB da Câmara e homem de confiança do expresiden­te da Casa Eduardo Cunha, Lúcio Funaro firmou ontem acordo de delação com a Procurador­ia-Geral da República (PGR). Suas acusações devem ser usadas nas denúncias contra Michel Temer que ainda podem ser apresentad­as pelo procurador-geral, Rodrigo Janot. Alvo de duas operações, que apuram sua atuação no FIFGTS e na Caixa, Funaro também deve explicar como o PMDB atuava em órgãos públicos sob controle de integrante­s do partido.

O corretor Lúcio Funaro assinou ontem acordo de colaboraçã­o premiada com a Procurador­ia-Geral da República no qual vai detalhar sua atuação como operador financeiro do PMDB da Câmara. O grupo político, liderado pelo presidente Michel Temer, tem como principais integrante­s os atuais ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), os ex-ministros Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, além do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDBRJ), preso em Curitiba por ordem do juiz Sérgio Moro.

As revelações de Funaro devem ser usadas nas denúncias contra Temer que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pode apresentar antes de deixar o cargo, em 17 de setembro. Denunciado por corrupção passiva – processo que a Câmara rejeitou –, o presidente é investigad­o ainda em inquéritos que apuram crimes de obstrução da Justiça e organizaçã­o criminosa. Nos dois casos, Funaro disse que pode contribuir com informaçõe­s.

Procurados, o Palácio do Planalto, a J&F e a defesa de Cunha informaram que não vão se manifestar. A defesa de Geddel não respondeu.

Os temas dos anexos entregues por Funaro foram aceitos por Janot. A partir de agora, o operador inicia uma rodada de depoimento­s aos procurador­es da Lava Jato. Ontem, o corretor passou a tarde e o início da noite na sede da Procurador­ia-Geral da República. Para facilitar a logística, o corretor novamente deixou o Complexo Penitenciá­rio da Papuda e está na Superinten­dência da Polícia Federal.

Conversa. Funaro chegou à PF anteontem. Passou a tarde conversand­o com a equipe do advogado Antônio Figueiredo Basto, responsáve­l pela negociação que durou mais de dois meses. Recebeu a visita do delegado Marlon Cajado, responsáve­l pela investigaç­ão da Operação Patmos, desdobrame­nto da delação de executivos do Grupo J&F. Os dois saíram em uma viatura da PF com destino à Procurador­ia-Geral da República, onde foi realizada a última conversa na qual o conteúdo do acordo e os termos foram fechados.

A conversa na Procurador­ia anteontem terminou depois da 0h30. Como Funaro e os procurador­es modificara­m algumas cláusulas do acordo, a assinatura foi adiada para ontem. À tarde, Funaro chegou a se dirigir à Justiça Federal em Brasília onde teria uma audiência da ação penal da Operação Sépsis, na qual foi preso em julho de 2016.

No local, Funaro e seu advogado, Bruno Espiñeira, informaram ao juiz Vallisney de Souza Oliveira o compromiss­o agendado para assinatura do acordo na Procurador­ia. Por volta das 13h25 o corretor seguiu para PGR, onde assinou a delação.

Temas. Funaro deve relatar aos investigad­ores como o PMDB da Câmara atuava em órgãos públicos sob o controle de seus integrante­s. O corretor foi alvo de duas operações, a Sépsis e a Cui Bono?. A primeira apura sua atuação no Fundo de Investimen­to do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, o FIFGTS, e a segunda mira em sua influência na vice-presidênci­a de Pessoa Jurídica da Caixa durante a gestão de Geddel.

Estão na mira das investigaç­ões

“O Funaro é o operador financeiro do Eduardo (Cunha) do esquema do PMDB da Câmara, composto pelo presidente Michel (Temer), Eduardo, enfim, e alguns outros membros.”

“Ele (Funaro) sempre dizia: ‘Eu falo em nome de Eduardo e Eduardo é da turma do Michel’.” Joesley Batista DONO DA J&F E DELATOR

grupos econômicos como a holding J&F dos irmãos Joesley e Wesley Batista.

Só do Grupo J&F, segundo planilha entregue por Joesley Batista em sua delação, Funaro recebeu cerca de R$ 170 milhões nos últimos 12 anos. À Lava Jato, o corretor deve citar quais políticos participar­am dos esquemas que resultaram nesses pagamentos.

Outro tema a ser abordado será a veracidade das afirmações de Joesley a Temer em conversa gravada pelo empresário no Palácio do Jaburu. Joesley disse que continuou efetuando pagamentos ao corretor mesmo após sua prisão para evitar que ele partisse para uma delação.

“O Funaro é o operador financeiro do Eduardo do esquema PMDB da Câmara, composto pelo presidente Michel (Temer), Eduardo, enfim, e alguns outros membros”, disse Joesley em seu acordo. “Ele (Funaro) sempre dizia: ‘Eu falo em nome do Eduardo e Eduardo é da turma do Michel’”, afirmou o empresário.

Impacto

Auxiliares do presidente Michel Temer tentaram minimizar o estrago no governo da delação do corretor Lúcio Funaro, mas destacaram que é preciso esperar o teor do acordo para avaliar o possível impacto.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO - 31/7/2014 Corretor. A partir de agora, Funaro inicia uma rodada de depoimento­s aos procurador­es da Lava Jato

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