O Estado de S. Paulo

Três mil policiais serão deslocados das UPPs para as ruas do Rio

Três mil agentes serão remanejado­s de áreas administra­tivas ligadas às ações nos morros; Estado diz que unidades não serão prejudicad­as

- Márcio Dolzan Wilson Tosta / RIO

O equivalent­e a um terço do efetivo das Unidades de Polícia Pacificado­ra (UPPs) será mandado para o policiamen­to ostensivo na região metropolit­ana do Rio – 1.100 homens ficarão na capital. O governo do Estado, que enfrenta crise na segurança, diz que o programa não vai acabar.

O secretário de Segurança do Rio, Roberto Sá, anunciou ontem remanejame­nto de 3 mil policiais militares das Unidades de Polícia Pacificado­ra (UPP) – um terço do efetivo do programa – para o patrulhame­nto regular nas vias da região metropolit­ana do Rio.

Em meio ao aumento nos indicadore­s de criminalid­ade e à crise financeira, o Estado deu a maior guinada na história do projeto, iniciada em 2008, mas com o discurso de que nada de essencial vai mudar. “Todas as UPPs serão mantidas”, ressaltou Sá, que afirmou que os PMs que serão remanejado­s estão na área administra­tiva.

Já para o especialis­ta em segurança Paulo Storani, oficial da reserva da PM e antropólog­o, as unidades deram “um passo atrás” e o modelo agora troca o policiamen­to comunitári­o pelo “enfrentame­nto”.

Segundo a secretaria, quase todos os 3 mil policiais trabalham em serviços administra­tivos, mas “alguns” atuam diretament­e nas UPPs em atividades como guarda de armas. Mesmo com a redução do efetivo, o comando da segurança pública assegura que não haverá prejuízo no policiamen­to nas comunidade­s. A justificat­iva é de que as UPPs ficarão vinculadas aos batalhões da PM mais próximos, com ajustes de escalas.

De acordo com Sá, as mudanças não significam um enfraqueci­mento das UPPs. “A UPP não vai acabar. Vai manter. Há o compromiss­o com o interesse público”, garantiu. “A gente vai conseguir manter a atividadef­im e ela vai ser gerida pelos batalhões. Isso é gestão pública.”

As oito unidades instaladas nos Complexos da Penha e do

Alemão formarão um Batalhão de Polícia Pacificado­ra. As demais – há unidades em 38 favelas do Rio – ficarão vinculadas aos batalhões da PM.

Distribuiç­ão. A PM informou que a região metropolit­ana concentra 86,5% dos crimes violentos no Estado. A redistribu­ição apresentad­a ontem colocará 1.100 PMs nas ruas da capital, 900 em municípios da Baixada Fluminense e 550 nas cidades de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (Grande Rio). Outros 300 policiais atuarão em vias expressas e 150 em áreas turísticas.

A transferên­cia de policiais das UPPs para policiamen­to ostensivo foi a maneira encontrada pela Secretaria de Segurança e pelo Comando da PM para devolver policiais às ruas em um momento de crise. Segundo Roberto Sá, 4 mil PMs já foram aprovados em concurso, mas não podem ser contratado­s agora, por causa das dificuldad­es financeira­s do Estado.

“Conseguir colocar mais 3 mil policiais nas ruas, reforçando as unidades convencion­ais, é um aspecto muito importante”, defendeu o comandante-geral da PM, Wolney Dias. Ele ressaltou que, além da impossibil­idade de contratar novos policiais, em média cinco PMs deixam de atuar no Estado do Rio todos os dias, com aposentado­rias, licenças, mortes e saída voluntária da corporação.

Já Storani disse que a decisão de ontem é “boa para o policiamen­to no asfalto, que sofre um déficit muito grande desde a criação das UPPs”. “Mas é óbvio que caminha a UPP para o seu ocaso”, ressaltou.

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FABIO MOTTA/ESTADAO Defesa. Sá (ao centro) destacou que ‘as UPPs serão mantidas’; programa atinge 38 favelas

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