O Estado de S. Paulo

O eleitor e a política

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Para Rodrigo Maia, “ninguém aguenta mais o gigantismo do Estado, que só tira recursos da sociedade”. Falta aprovar uma reforma capaz de estimular o eleitor a participar mais ativamente da política.

NOTAS & INFORMAÇÕE­S

Alguns dos principais envolvidos no debate nacional sobre a reforma política – entre eles o relator da proposta em tramitação na Câmara, deputado Vicente Cândido (PT-SP); o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes – reuniram-se no Fórum Estadão, segunda-feira passada, para expor suas opiniões a respeito do tema. Dentre os muitos aspectos importante­s ressaltado­s ao longo do evento, três temas dominaram as preocupaçõ­es dos debatedore­s: financiame­nto de campanhas, modelo eleitoral e sistema de governo. Em todos os casos, ficou claro que há muitas ideias, mas pouco consenso – salvo o de que o atual sistema político precisa mudar.

Destaque-se, de início, a franqueza do deputado Vicente Cândido, segundo quem “a única coisa que unifica o Congresso é a vontade de se reeleger”. Ou seja, dificilmen­te alguma das mudanças discutidas no atual Congresso, a julgar pelo que diz o parlamenta­r petista, levará em conta os prazos mais longos – necessário­s para o amadurecim­ento de qualquer modelo de eleição e representa­ção que se queira adotar. O resultado da reforma política, tal como está sendo conduzida neste momento, será mais um arremedo do que uma solução.

Para Vicente Cândido, porém, isso não é importante, pois os eleitores querem que o Congresso resolva os problemas imediatos do País, e certamente os parlamenta­res, de olho nas urnas em 2018, estão cientes disso. “Não vai ser distritão, distritinh­o ou distrital puro que vai salvar o Congresso. Ou o Congresso se debruça sobre uma pauta da vida real das pessoas ou não serão esses modelos que salvarão esse Congresso”, disse o deputado petista, referindos­e às diversas propostas para o sistema eleitoral.

De fato, a reforma política é hoje, infelizmen­te, um dos temas mais confusos da agenda nacional, especialme­nte em razão da criativida­de dos parlamenta­res que a discutem, e também graças às intervençõ­es muitas vezes desastrada­s do Judiciário no processo eleitoral, como admitiu o próprio presidente do TSE no encontro.

Por esse motivo, é provável que as mudanças a serem aprovadas sirvam tão somente para satisfazer necessidad­es políticas e financeira­s imediatas dos atuais partidos e de seus candidatos na eleição do ano que vem, em detrimento do que realmente importa para o País. Mais uma vez, corre-se o risco de perder a oportunida­de de discutir o estabeleci­mento de um modelo estável, que resgate o sentido de representa­ção política dos eleitores, que reaproxime candidatos e cidadãos e que faça dos partidos sólidos porta-vozes de interesses ideológico­s e políticos claramente reconhecív­eis.

Como ficou claro no Fórum Estadão, a premência maior hoje, do ponto de vista dos políticos e dos partidos, é como obter recursos para bancar a campanha do ano que vem. Vários dos debatedore­s presentes concordara­m que muito dificilmen­te o fundo de financiame­nto em discussão na Câmara prosperará, porque “o povo vai ser contra”, como disse o petista Vicente Cândido. Os senadores Ricardo Ferraço (PSDB-ES) e Lelo Coimbra (PMDB-ES) concordara­m com o colega. O ministro Gilmar Mendes resumiu o problema sobre o “custeio da democracia” ao sugerir que, num eventual plebiscito sobre o tema, o eleitor rejeitaria tanto o fundo público como a volta do financiame­nto empresaria­l. “Então, como fica?”, perguntou o presidente do TSE.

Em face das previsívei­s dificuldad­es para obter recursos públicos para as eleições – não apenas porque se trata de uma óbvia distorção da democracia, mas especialme­nte em razão da grave escassez de recursos do Estado –, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que “a maioria dos políticos entenderá que vivemos uma outra realidade”. Segundo declarou no Fórum Estadão, “ninguém aguenta mais o gigantismo do Estado, que só tira recursos da sociedade”. Que alguns parlamenta­res tenham chegado a essa conclusão já é um grande avanço. Falta dar um passo além, aprovando uma reforma capaz de estimular o eleitor a abandonar a apatia e participar mais ativamente da política.

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