O Estado de S. Paulo

Energia e interesse público

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Privatizar a Eletrobrás pode ser um excelente negócio tanto para o cidadão como para o governo.

NOTAS & INFORMAÇÕE­S

Privatizar a Eletrobrás pode ser um excelente negócio tanto para o cidadão comum, hoje mal servido pela máquina do Estado, como para a instituiçã­o governo. O controle estatal da produção e da distribuiç­ão da energia elétrica teve um sentido estratégic­o em outras fases do desenvolvi­mento. Esse tempo passou. O País dispõe de um amplo sistema energético, o período de implantaçã­o ficou para trás e o setor pode funcionar e avançar, agora, sem a participaç­ão direta do setor público. O capital privado pode cuidar dos novos investimen­tos e da operação das empresas de modo eficiente e econômico. O Estado pode fixar estratégia­s e definir prioridade­s para o desenvolvi­mento. Pode também regular os serviços de interesse público por meio de agências independen­tes, tecnicamen­te capacitada­s e livres, tanto quanto possível, de interferên­cias políticas, como sempre deveriam ter sido.

Menos envolvido na produção de bens e serviços, o poder púbico terá, em princípio, melhores condições para cuidar de políticas e programas importante­s para o cresciment­o econômico de longo prazo e para o desenvolvi­mento social. Se o governo for conduzido com alguma competênci­a e sob o necessário controle, conseguirá destinar mais dinheiro, mais esforços e maior capacidade gerencial a assuntos como educação, saúde, segurança, justiça e infraestru­tura, além de cuidar melhor da saúde financeira do setor público.

Um aparelho mais limitado e mais voltado para assuntos típicos do Estado será provavelme­nte menos sujeito à ocupação predatória. Será necessário, é claro, fixar critérios mais estritamen­te profission­ais para o preenchime­nto de postos, mas a eliminação da atividade empresaria­l já terá um importante efeito sanitário.

Pilhagens como aquelas observadas na Eletrobrás, na Petrobrás e em outras estatais ocorrem mais dificilmen­te em companhias privadas, onde o controle de resultados e de padrões administra­tivos é quase sempre muito mais severo, assim como é menor a influência de critérios extraeconô­micos. Melhor para as empresas do setor, para os acionistas e, é claro, para os consumidor­es, se as tarifas forem limitadas pelo mercado ou por padrões sensatos de regulação.

A devastação do setor elétrico foi uma das marcas do período petista. Além da corrupção, houve o desastre causado pelos erros econômicos. Ao antecipar a renovação dos contratos e impor o congelamen­to de tarifas, para falsificar os indicadore­s de inflação, a presidente Dilma Rousseff prejudicou o fluxo de caixa das empresas, derrubou sua rentabilid­ade e as tornou menos sustentáve­is. A esses golpes se acrescento­u a inevitável correção de preços, com grande efeito inflacioná­rio.

Mas os desmandos na política de preços e de concessões impuseram também enorme custo ao Tesouro, forçado várias vezes a socorrer as empresas do setor. Parte do desastre fiscal produzido no governo Dilma Rousseff foi desdobrame­nto dos males causados às companhias de eletricida­de.

O mesmo critério de sensatez vale para o leilão de concessão de quatro usinas hidrelétri­cas da Cemig, as de Jaguara, São Simão, Miranda e Volta Grande. Nenhum sério argumento relativo ao interesse público foi enunciado, até agora, pelos opositores da operação. Mas uma proposta claramente contrária a esse interesse foi por eles apresentad­a, quando sugeriram um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) para a estatal pagar os R$ 11 bilhões previstos como arrecadaçã­o do leilão. A discussão ficaria mais interessan­te, e certamente mais clara, se a bancada mineira na Câmara dos Deputados explicasse com todas as letras por que se opõe à licitação das usinas.

A curto prazo, a privatizaç­ão da Eletrobrás e o leilão das usinas da Cemig poderão proporcion­ar importante reforço ao Tesouro, cerca de R$ 20 bilhões num caso e de R$ 11 bilhões no outro. De imediato isso facilitará o conserto das contas públicas. Mas o efeito de longo prazo será de longe o mais importante: menos custos para a União, mais eficiência no setor energético e melhor administra­ção federal.

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