O Estado de S. Paulo

Troféu para Janot

- Eliane Cantanhêde

Vai começar tudo de novo? Essa é a pergunta que não quer calar em Brasília desde ontem, depois que o “corretor” Lúcio Funaro assinou acordo de delação premiada com a Procurador­ia-Geral da República, onde o chefe Rodrigo Janot, que deixa o cargo em 17 de setembro, é acusado por governista­s de “perseguir” o presidente Michel Temer.

Como Funaro era o “operador” do PMDB na Caixa, Temer volta ao centro das atenções – e das tensões políticas que tanto refletem na economia – poucas semanas depois do desgastant­e julgamento na Câmara para se livrar (por ora) da denúncia da PGR por corrupção passiva.

Funaro, dono de informaçõe­s privilegia­das de quem participou de tudo isso por dentro, travou uma espécie de corrida de obstáculos contra o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha para ver quem conquistar­ia primeiro o acordo de delação e suas benesses. Nos dois casos, o alvo central foi Temer.

Desde o início, Funaro correu na frente de Cunha, que também está preso. O “operador” é considerad­o mais vulnerável e suscetível a relatar a participaç­ão de Temer e o funcioname­nto do esquema, enquanto a força-tarefa sempre torceu o nariz para as versões de Cunha e para a possibilid­ade de amenizar sua pena.

“Ele não quer fazer delação, quer fazer manipulaçã­o”, resumiu um representa­nte da Lava Jato, acusando Cunha de mentir, dissimular e tentar aproveitar a delação como moeda de troca, perseguind­o adversário­s e favorecend­o aliados – os poucos que lhe restam.

Além do próprio Temer, é o seu governo quem entra no foco com a delação de Funaro, porque o PMDB da Câmara inclui Cunha, os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco e os ex-ministros Henrique Eduardo Alves, que está preso, e Geddel Vieira Lima, em prisão domiciliar.

É com base nesse grupo e nesses nomes que Janot sonha e trabalha há meses com a possibilid­ade de apresentar duas novas denúncias contra Temer: por organizaçã­o criminosa e obstrução da Justiça. Depois de Joesley Batista, da JBS, Funaro tende a ser mais um algoz de Temer e mais um troféu para Janot nos seus derradeiro­s dias na PGR.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil