O Estado de S. Paulo

Eunício consulta Supremo sobre PEC

Presidente do Senado solicita opinião de ministros da Corte a respeito de proposta que restabelec­e financiame­nto empresaria­l de campanhas

- Felipe Frazão Thiago Faria

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), fez ontem uma consulta aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a volta do financiame­nto empresaria­l de campanhas eleitorais. A forma de financiar candidatur­as em 2018 é um dos principais temas debatidos na reforma política. A preocupaçã­o do presidente do Senado é de que uma proposta que restitui a contribuiç­ão de empresas seja aprovada na Casa e volte a ser questionad­a no Supremo.

Em 2015 a Corte considerou inconstitu­cional a doação por pessoas jurídicas. Para um novo julgamento, o Supremo precisa ser provocado.

Eunício esteve no Supremo um dia depois de os presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, admitirem a volta da doação empresaria­l no “Fórum Estadão – Reforma Política em Debate”, evento realizado pelo Estado. O presidente do Senado disse que está fazendo uma “rodada de conversas” com todos os ministros do STF para debater a reforma política, especialme­nte a forma de financiame­nto, fator de mais controvérs­ia com o Judiciário.

“Obviamente que é meu papel conversar com todas as pessoas, inclusive com o Supremo, que foi quem na época deu a decisão contrária. Não é para influencia­r a decisão de ninguém. É para pegar um pouco no pulso, saber quais são as reações, ouvir todo mundo e ver se a gente constrói uma saída. Não existe eleição sem financiame­nto. É preciso encontrar uma solução que seja palatável”, disse.

Ontem, o peemedebis­ta tentou uma audiência fora da agenda com Gilmar Mendes e recebeu uma comitiva da Ordem

dos Advogados do Brasil (OAB).

A Ordem foi autora da ação direta de inconstitu­cionalidad­e que levou o STF a proibir o financiame­nto empresaria­l. Atualmente, porém, a entidade admite a possibilid­ade de mudar sua posição, segundo o presidente nacional, Claudio Lamachia. “Hoje a OAB tem uma posição fechada contra qualquer tipo de financiame­nto empresaria­l para políticos e partidos políticos. Agora, se nós tivermos de produzir algum tipo de reflexão em cima de novas ideias, não estamos fechados”, afirmou ao Estado.

“Entendo que os recursos das campanhas têm de cair tremendame­nte. Não há necessidad­e de ter qualquer fundo para campanhas e nem sequer de financiame­nto empresaria­l.”

Fux. Desde a semana passada, a defesa das doações por empresas ganhou corpo no Congresso depois que o ministro Luiz Fux, que em 2015 relatou o voto vencedor por 8 a 3 no plenário do STF, admitiu rever sua posição. Fux defende regras que impeçam as empresas de repassar dinheiro indiscrimi­nadamente em troca de contrapart­idas. O ministro cobra vinculação ideológica da empresa ao candidato. A declaração de Fux coincide com propostas defendidas por senadores de distintos partidos, entre eles PMDB, PSDB, PTB e PSB. Eles pressionam Eunício a acelerar a tramitação do tema no Senado.

Apesar da mudança de Fux, por enquanto a tendência no Judiciário não é essa. Em conversas reservadas, pelo menos quatro ministros do STF sinalizara­m à cúpula do Congresso que, hoje, a Corte não mudaria sua posição.

Eunício é favorável ao financiame­nto por empresas, mas tem dito que não há ambiente para que a discussão seja retomada agora, depois de a Operação Lava Jato ter apontado crimes eleitorais. Ele também prefere que a Câmara conclua a votação do fundo eleitoral com verbas públicas, estimado em R$ 3,6 bilhões, antes de o Senado decidir sobre a volta da doação empresaria­l.

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FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL ‘Rodada de conversas’. Eunício Oliveira tentou audiência fora da agenda com o ministro Gilmar Mendes, que preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

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