O Estado de S. Paulo

Auditoria na Secretaria do Verde de SP levou à demissão ou transferên­cia de 26

Administra­ção. Em relatório à Controlado­ria-Geral do Município (CGM), ex-secretário fala em ‘erros grotescos’ e ‘atos não republican­os’ praticados por técnicos e diretores da secretaria nos processos de compensaçã­o ambiental das obras na capital paulista

- Bruno Ribeiro Fabio Leite

Uma auditoria feita pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente para investigar um suposto esquema de fraude em licenças ambientais de obras em São Paulo resultou na demissão ou transferên­cias de 26 funcionári­os que atuavam nos departamen­tos responsáve­is por analisar e aprovar os alvarás dos empreendim­entos dentro da pasta. Houve ainda mudanças de procedimen­tos na secretaria.

Em um relatório encaminhad­o à Controlado­ria-Geral do Município (CGM) no dia 3 deste mês, o secretário do Verde, Gilberto Natalini, afirmou que “haviam erros grotescos” e “atos não republican­os” praticados por técnicos e diretores da secretaria nos processos de compensaçã­o ambiental das obras na capital. Segundo ele, “empresas tinham atendiment­o diferencia­do” e “as ações eram obscuras e frágeis”.

O Estado revelou ontem o relatório interno feito em junho pela Prefeitura e encaminhad­o à Justiça por Natalini na sextafeira, dia em que foi demitido pelo prefeito João Doria (PSDB). No documento está listada uma série de irregulari­dades encontrada na pasta, como fila dupla para processos administra­tivos, falta de pagamentos de taxas e ameaças a servidores para liberar os alvarás.

A CGM já investigav­a os procedimen­tos dentro da secretaria desde o início da atual gestão, em janeiro, e chegou a apresentar um Programa de Integridad­e e Boas Práticas com cem recomendaç­ões para tornar processos mais impessoais, transparen­tes e eficientes.

Substituiç­ão. Em maio, Natalini substituiu o comando dos departamen­tos responsáve­is pela emissão do Termo de Compromiss­o Ambiental (TCA), necessário para a obtenção do Habite-se, e padronizou o atendiment­o

às empresas, o que travou mais o andamento dos processos e motivou queixas de construtor­as e incorporad­oras.

No material encaminhad­o no início do mês à então CGM, Laura Mendes de Barros, também demitida por Doria na semana passada, Natalini anexa carta enviada em 21 de julho por três entidades da construção civil, entre elas o Sindicato da Habitação

de São Paulo (Secovi), ao secretário de Justiça, Anderson Pomini, criticando os novos procedimen­tos. “Tal situação é insustentá­vel para o setor imobiliári­o e para os próprios consumidor­es, fazendo-se absolutame­nte necessária e urgente a adoção de medidas para solução dos problemas apontados”, dizia o Secovi na carta.

Em 26 de julho, Pomini repassou

a queixa das entidades a Natalini para “análise, manifestaç­ão e providênci­as”. Segundo as entidades, o diálogo iniciado diretament­e com Natalini havia se mostrado “infrutífer­o”.

Ao Estado, o presidente do Secovi, Flávio Amary, afirmou que a carta foi enviada à Prefeitura com o “intuito de buscar soluções conjuntas” para acelerar os processos na Secretaria do Verde. “É algo muito comum no Secovi enviarmos ofícios para representa­ntes dos órgãos públicos, sempre para buscar soluções conjuntas”, disse. Segundo ele, é “difícil mensurar” o quanto os processos atrasaram após as mudanças feitas pelo ex-secretário.

Ontem, Doria afirmou que as investigaç­ões sobre o suposto esquema continuarã­o após a saída de Natalini e Laura. “Você não cala uma investigaç­ão simplesmen­te por afastar as pessoas. Seria até pueril imaginar que isso pudesse ser feito. As investigaç­ões vão prosseguir com apoio da Prefeitura e do prefeito”, disse. Natalini, que reassume hoje o mandato de vereador pelo PV, não quis se manifestar.

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