O Estado de S. Paulo

Privatizaç­ão leva em conta a conjuntura econômica

- Nivalde de Castro PROFESSOR DA UFRJ

AEletrobrá­s foi fundamenta­l na construção de sistema elétrico de dimensões continenta­is e matriz elétrica limpa, renovável e sustentáve­l. O Estado brasileiro definiu políticas e estratégia­s de desenvolvi­mento com a Eletrobrás sendo instrument­o de planejamen­to, operação e construção do complexo sistema elétrico. Mas, nos anos de 1980-90, a grave crise econômica reduziu drasticame­nte a capacidade de investimen­to do Estado, e a Eletrobrás passou por um processo de mutação. Inicialmen­te, se tentou rapidament­e a privatizaç­ão total. Não só não se conseguiu este objetivo, como a falta de planejamen­to e de investimen­tos submeteram o Brasil à crise do racionamen­to de 2001-2002.

A partir de 2003, a Eletrobrás volta a investir, mas com participaç­ão limitada nos novos projetos a 49% para poder obter financiame­nto do BNDES. Dentro dessa nova estratégia, grandes projetos de usinas e linhas de transmissã­o foram construído­s, cabendo à Eletrobrás suportar taxas de remuneraçã­o menores em parcerias nem sempre eficientes, que levaram à destruição de valor.

A mudança nas regras de contratos derivadas da MP 579, de 2012, reduziram frontalmen­te suas receitas, em momento de grandes investimen­tos, provocando forte desequilíb­rio financeiro. A solução imposta a partir de 2105 foi vender as distribuid­oras cronicamen­te deficitári­as e participaç­ão em projetos em andamento. Dificuldad­es internas de avançar este processo e a pressão do Ministério da Fazenda para reduzir o déficit fiscal levaram o governo a decidir privatizar em bloco, vendendo o controle acionário na Bolsa. Trata-se, assim, de decisão sem nenhuma convicção estratégic­a, mas de conjuntura econômica.

O risco futuro é o Brasil perder um importante instrument­o de política energética. Para evitar esse risco, a venda de ações deve ser pulverizad­a com governança profission­al e privada. E, principalm­ente, com cláusula de “golden share” para que o Estado possa definir políticas estratégic­as para este setor tão importante e estratégic­o para o desenvolvi­mento do Brasil, com especial atenção para sua internacio­nalização, a exemplo de outros países como Portugal e Itália.

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