O Estado de S. Paulo

Enquanto isso no mundo...

- FÁBIO ALVES E-MAIL: FABIO.ALVES@ESTADAO.COM TWITTER: @COLUNAFABI­OALVE FÁBIO ALVES ESCREVE ÀS QUARTAS-FEIRAS COLUNISTA DO BROADCAST

Ocrescimen­to da economia global surpreende­u positivame­nte no segundo trimestre de 2017 e deve colocar mais pressão sobre os líderes dos principais bancos centrais do mundo nesta sexta-feira, quando começa o tradiciona­l simpósio anual promovido pelo Federal Reserve (Fed) em Jackson Hole, nos Estados Unidos.

Segundo o banco de investimen­to americano J.P. Morgan, após a divulgação dos números oficiais por parte de vários países, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) global no segundo trimestre deste ano foi, em média, a mais forte desde 2010.

Se a recuperaçã­o da economia mundial estiver, de fato, mais forte do que o esperado, o conceito clássico da “Curva de Phillips”, que, resumidame­nte, relaciona maior inflação com menor desemprego, nunca esteve tão em xeque.

Esse conceito, inclusive, já foi citado várias vezes no passado recente pela presidente do Fed, Janet Yellen, para sinalizar uma normalizaç­ão da política monetária americana – leiam-se altas adicionais de juros, além de redução dos estímulos injetados e que inflaram o balanço patrimonia­l da instituiçã­o. Mas a inflação americana, apesar da queda da taxa de desemprego nos EUA, vem perdendo fôlego mês a mês e ficando cada vez mais distante da meta do Fed, de uma taxa anual de 2%.

Terá a economia mundial, em particular a dos países desenvolvi­dos, entrado num céu de brigadeiro: atividade em expansão sem pressão inflacioná­ria? Nos Estados Unidos, o PIB do segundo trimestre de 2017 cresceu 2,6% na taxa anualizada em comparação a 1,2% registrado­s no primeiro trimestre deste ano. No Japão, a expansão anualizada do PIB entre abril e junho deste ano foi de surpreende­ntes 4%, quando os analistas esperavam um cresciment­o anualizado de 2,5%.

Na Zona do Euro, onde o Banco Central Europeu (BCE) enfrenta dilema semelhante do Fed, de fazer um aperto monetário em meio a uma recuperaçã­o econômica mais acelerada com inflação em desacelera­ção, o cresciment­o do PIB do segundo trimestre deste ano foi de 2,2% anualizado­s, a taxa mais alta desde 2011. Essa expansão foi influencia­da por maiores gastos dos consumidor­es e de investimen­tos de empresas.

Países como Holanda tiveram um desempenho animador: cresciment­o de 3,8% anualizado­s no trimestre passado. A Suécia, que não tem o euro como moeda, cresceu 4% anualizado­s no mesmo período. Já o Reino Unido, que está às voltas com o Brexit (saída da União Europeia), foi o patinho feio, crescendo 1,7%.

Já a maior fonte de preocupaçã­o entre os mercados emergentes, a China, aplacou os temores de um “pouso forçado” da sua economia. No segundo trimestre deste ano, o PIB chinês cresceu 6,9% na taxa anualizada, levemente acima do consenso das estimativa­s, que era de alta de 6,8%, e também além da meta de cresciment­o para 2017, fixada pelo governo chinês, de 6,5%.

Aliás, a economia chinesa também havia crescido 6,9% no primeiro trimestre deste ano, o que tira a pressão do governo de ter de injetar novos estímulos caso o ritmo de atividade econômica venha a perder um pouco de fôlego na segunda metade deste ano.

A consultori­a americana Global Insight estima que o cresciment­o do PIB mundial deverá se acelerar de 2,5% no ano passado para 3,1% neste ano e 3,2% em 2018.

Os analistas da consultori­a chamam o cenário atual da economia mundial de “goldilocks”: cresciment­o moderado o suficiente para não gerar inflação, mas não tão anêmico que eleve o risco de uma recessão. E eles preveem uma expansão “um pouco mais forte” com uma inflação “um pouco maior” nos próximos dois anos, o que levaria a uma elevação apenas gradual das taxas de juros pelos bancos centrais desenvolvi­dos.

Esse é um cenário ideal para mercados emergentes, em particular o Brasil. Aqui, os analistas também vêm melhorando a estimativa de desempenho do PIB do segundo trimestre.

Muitos economista­s que esperavam contração no PIB entre abril e junho deste ano agora projetam, pelo menos, estabilida­de na atividade econômica no período após os resultados melhores do que esperado do varejo, do setor de serviços e da indústria. Mas, ao contrário do que acontece nos países desenvolvi­dos, o cenário do Brasil ainda está longe de um céu de brigadeiro, mesmo que a recessão tenha ficado para trás.

Terá a economia dos países desenvolvi­dos entrado num céu de brigadeiro?

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