Enquanto isso no mundo...
Ocrescimento da economia global surpreendeu positivamente no segundo trimestre de 2017 e deve colocar mais pressão sobre os líderes dos principais bancos centrais do mundo nesta sexta-feira, quando começa o tradicional simpósio anual promovido pelo Federal Reserve (Fed) em Jackson Hole, nos Estados Unidos.
Segundo o banco de investimento americano J.P. Morgan, após a divulgação dos números oficiais por parte de vários países, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) global no segundo trimestre deste ano foi, em média, a mais forte desde 2010.
Se a recuperação da economia mundial estiver, de fato, mais forte do que o esperado, o conceito clássico da “Curva de Phillips”, que, resumidamente, relaciona maior inflação com menor desemprego, nunca esteve tão em xeque.
Esse conceito, inclusive, já foi citado várias vezes no passado recente pela presidente do Fed, Janet Yellen, para sinalizar uma normalização da política monetária americana – leiam-se altas adicionais de juros, além de redução dos estímulos injetados e que inflaram o balanço patrimonial da instituição. Mas a inflação americana, apesar da queda da taxa de desemprego nos EUA, vem perdendo fôlego mês a mês e ficando cada vez mais distante da meta do Fed, de uma taxa anual de 2%.
Terá a economia mundial, em particular a dos países desenvolvidos, entrado num céu de brigadeiro: atividade em expansão sem pressão inflacionária? Nos Estados Unidos, o PIB do segundo trimestre de 2017 cresceu 2,6% na taxa anualizada em comparação a 1,2% registrados no primeiro trimestre deste ano. No Japão, a expansão anualizada do PIB entre abril e junho deste ano foi de surpreendentes 4%, quando os analistas esperavam um crescimento anualizado de 2,5%.
Na Zona do Euro, onde o Banco Central Europeu (BCE) enfrenta dilema semelhante do Fed, de fazer um aperto monetário em meio a uma recuperação econômica mais acelerada com inflação em desaceleração, o crescimento do PIB do segundo trimestre deste ano foi de 2,2% anualizados, a taxa mais alta desde 2011. Essa expansão foi influenciada por maiores gastos dos consumidores e de investimentos de empresas.
Países como Holanda tiveram um desempenho animador: crescimento de 3,8% anualizados no trimestre passado. A Suécia, que não tem o euro como moeda, cresceu 4% anualizados no mesmo período. Já o Reino Unido, que está às voltas com o Brexit (saída da União Europeia), foi o patinho feio, crescendo 1,7%.
Já a maior fonte de preocupação entre os mercados emergentes, a China, aplacou os temores de um “pouso forçado” da sua economia. No segundo trimestre deste ano, o PIB chinês cresceu 6,9% na taxa anualizada, levemente acima do consenso das estimativas, que era de alta de 6,8%, e também além da meta de crescimento para 2017, fixada pelo governo chinês, de 6,5%.
Aliás, a economia chinesa também havia crescido 6,9% no primeiro trimestre deste ano, o que tira a pressão do governo de ter de injetar novos estímulos caso o ritmo de atividade econômica venha a perder um pouco de fôlego na segunda metade deste ano.
A consultoria americana Global Insight estima que o crescimento do PIB mundial deverá se acelerar de 2,5% no ano passado para 3,1% neste ano e 3,2% em 2018.
Os analistas da consultoria chamam o cenário atual da economia mundial de “goldilocks”: crescimento moderado o suficiente para não gerar inflação, mas não tão anêmico que eleve o risco de uma recessão. E eles preveem uma expansão “um pouco mais forte” com uma inflação “um pouco maior” nos próximos dois anos, o que levaria a uma elevação apenas gradual das taxas de juros pelos bancos centrais desenvolvidos.
Esse é um cenário ideal para mercados emergentes, em particular o Brasil. Aqui, os analistas também vêm melhorando a estimativa de desempenho do PIB do segundo trimestre.
Muitos economistas que esperavam contração no PIB entre abril e junho deste ano agora projetam, pelo menos, estabilidade na atividade econômica no período após os resultados melhores do que esperado do varejo, do setor de serviços e da indústria. Mas, ao contrário do que acontece nos países desenvolvidos, o cenário do Brasil ainda está longe de um céu de brigadeiro, mesmo que a recessão tenha ficado para trás.
Terá a economia dos países desenvolvidos entrado num céu de brigadeiro?