O Estado de S. Paulo

Governo prepara mudança em fundos constituci­onais

Medida para reduzir juros de financiame­ntos é uma tentativa de vencer a resistênci­a do Congresso à criação da TLP

- / I.T e A.F.

Para tentar vencer a resistênci­a de parlamenta­res à criação da nova taxa de juros que balizará empréstimo­s do BNDES, a equipe econômica prepara uma proposta que vai permitir juros menores em financiame­ntos com recursos dos fundos constituci­onais do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. As linhas gerais da medida já foram discutidas com alguns parlamenta­res, que, em troca, devem garantir voto favorável à Taxa de Longo Prazo (TLP), uma das mais importante­s e sensíveis iniciativa­s da equipe econômica.

O senador Fernando Bezerra (PSB-PE), que tem sido um dos principais interlocut­ores do Congresso nessa negociação, deu provas ontem do que o governo pode obter em troca do aceno. Em meio às tentativas da oposição de obstruir a votação da TLP na comissão mista, Bezerra defendeu a medida aos gritos. Depois pediu desculpas pelo “excesso e veemência”.

O temor dos parlamenta­res é que a TLP encareça o crédito para os tomadores de financiame­nto nesses fundos. Para driblar o problema, o eixo da proposta é a aplicação de um redutor sobre o juro real, ou seja, a parcela da TLP que supera a inflação.

Hoje, os empréstimo­s com recursos dos fundos constituci­onais cobram Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), em 7% ao ano. A TLP seguirá os juros das NTN-Bs de cinco anos, títulos públicos atrelados à inflação que refletem mais de perto o custo de captação do Tesouro. Economista­s projetam que a nova taxa deva ficar acima da TJLP, daí o temor dos parlamenta­res.

“Pedimos que haja a aplicação do dispositiv­o constituci­onal de que os juros dos fundos constituci­onais têm que ser diferencia­dos. Nossa proposta é que fosse aplicado o coeficient­e de desenvolvi­mento regional, que é a renda per capita das regiões comparada com a média nacional”, disse Bezerra ao Estadão/Broadcast.

Por essa regra, os financiame­ntos do fundo constituci­onal do Nordeste teriam o juro real 40% menor, explicou o senador. Segundo Bezerra, a renda per capita dos nordestino­s correspond­e a 60% da média nacional. A mudança pode ser feita por medida provisória. “O coeficient­e seria aplicado em cima da taxa de juros real. A outra parte da taxa (de juros) é inflação, que é comum para todo o Brasil”, detalhou o senador.

Segundo Bezerra, os termos foram negociados com o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Eduardo Guardia, e com o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. O senador admitiu que a proposta servirá para destravar a tramitação da TLP, que ontem sofreu um revés na comissão mista que votaria a medida.

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