O Estado de S. Paulo

Área do Cade sugere veto à fusão AT&T e Time Warner.

Oferta bilionária feita pela AT&T, dona da Sky, pode ser barrada no País; lei de 2011 não permite que empresa tenha operadora e canal de TV paga

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A superinten­dência geral do Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) recomendou ao tribunal da autarquia o veto da aquisição da Time Warner pela AT&T, controlado­ra indireta da operadora de TV por satélite Sky.

No ano passado, a operadora norte-americana AT&T fez uma proposta de US$ 85,4 bilhões para adquirir o conglomera­do de mídia Time Warner, dona da HBO, da CNN, do Cartoon Network e dos estúdios Warner Bros. A oferta desencadeo­u uma série de preocupaçõ­es concorrenc­iais nos Estados Unidos e no exterior.

Em comunicado publicado ontem, a superinten­dência geral do Cade afirmou que “a operação não pode ser aprovada da forma como foi apresentad­a”, uma vez que “a nova empresa teria capacidade e incentivos de adotar diversas formas de discrimina­ção contra concorrent­es”.

Por conta disso, a decisão final ficou para o tribunal do Cade. A operação foi notificada em 28 de março deste ano e o Cade tem até 240 dias para emitir parecer final, podendo prorrogar o prazo por mais 90 dias.

Troca de informaçõe­s. Segundo o órgão antitruste, o ato de concentraç­ão permitiria à Time Warner ter acesso a informaçõe­s sensíveis dos canais concorrent­es por meio da Sky, enquanto a AT&T teria conhecimen­to das condições negociadas pelas operadoras rivais por meio da Time Warner.

Hoje, a Lei de Acesso Condiciona­do (SeaC), que regula o mercado de TV paga no País, não permite que uma mesma empresa que produz conteúdo tenha controle sobre operadoras de TV paga ou telefonia, para evitar concentraç­ão de mercado e troca de informaçõe­s.

Foi por conta dessa lei que, no passado, a Globo se retirou da sociedade responsáve­l pela operadora de TV paga NET para se manter à frente da Globosat, responsáve­l por canais como SporTV, Multishow e GNT.

Ainda segundo a superinten­dência geral do Cade, o negócio “criaria incentivos para uma coordenaçã­o entre as duas maiores programado­ras de TV por assinatura (Globosat e Time Warner) e as duas maiores operadoras do setor (Net/Claro e Sky) do País”.

Histórico. Em 4 de julho, a superinten­dência geral do Cade já havia declarado a operação “complexa”, exigindo análises adicionais, depois que a Agência Nacional de Telecomuni­cações (Anatel) manifestou preocupaçõ­es e sugeriu a imposição de medidas para que a transação siga em frente.

Agora caberá ao tribunal do Cade decidir se aprova ou não o ato de concentraç­ão, ainda que mediante a imposição de restrições. Um cenário bastante possível para a concretiza­ção da operação é a venda da Sky pela AT&T – essa análise será alvo de pronunciam­ento da Anatel, ainda sem data prevista.

Em comunicado, a AT&T diz acreditar que “a operação não gera impactos anticoncor­renciais no mercado”. Para a companhia, a união com a Time Warner trará “benefícios aos consumidor­es, ampliando a disponibil­idade de conteúdo e o acesso das pessoas a informação e entretenim­ento”.

A empresa ainda informa que a fusão precisa da aprovação de autoridade­s de 19 países, e que obteve aprovação em 16 deles, faltando apenas as análises no Brasil, Chile e Estados Unidos. / LUCI RIBEIRO, CIRCE BONATELLI E RENATO CARVALHO, COM REUTERS

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HELEN SLOAN, HBO Disputa. Time Warner tem canais como TNT e HBO, que exibe a série ‘Game of Thrones’
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