O Estado de S. Paulo

Supremo rejeita pedidos de suspeição de seus ministros

Solicitaçõ­es de impediment­os não tiveram o mérito analisado pelo plenário do Supremo

- Beatriz Bulla Fábio Fabrini / BRASÍLIA

Nenhum pedido de impediment­o ou suspeição de ministros do Supremo Tribunal Federal levado à Corte foi atendido nos últimos dez anos. Desde 2007, chegaram à Corte 80 arguições. Todos os casos que foram rejeitados pelo presidente do STF da época não tiveram o mérito discutido pelo colegiado. Do total de casos, seis ainda aguardam desfecho e envolvem Gilmar Mendes.

Levantamen­to feito pelo Estado aponta que nenhum pedido de impediment­o ou suspeição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) levado à Corte foi atendido nos últimos dez anos. Todos os casos que foram rejeitados pelo presidente do STF da época não tiveram os méritos discutidos pelo colegiado. Entre 2007 e este ano, chegaram à Corte 80 arguições de impediment­o ou suspeição.

Pelas regras do Tribunal, só o presidente ou o plenário do Supremo pode afastar um dos ministros do julgamento de uma ação. O presidente da Corte é o relator do caso e pode decidir de forma monocrátic­a se entender que há um vício formal ou jurisprudê­ncia já consolidad­a sobre o tema, sem precisar levar a debate no plenário.

Do total de casos, apenas seis aguardam um desfecho, todos envolvendo o ministro Gilmar Mendes. Ele é entre os 11 membros do STF, o ministro com mais pedidos contrários a ele nos últimos dez anos. Gilmar teve 16 pedidos de impediment­o e suspeição. Os ministros Dias Toffoli (13), Marco Aurélio (12) e Ricardo Lewandowsk­i (10) aparecem na sequência como os campeões de reclamaçõe­s.

Dos pedidos abertos contra Gilmar ainda não analisados, quatro foram feitos na última semana pela Procurador­ia-Geral da República (PGR). Eles pedem para que o ministro não possa atuar nos habeas corpus relacionad­os ao empresário Jacob Barata Filho, investigad­o em desdobrame­ntos da Lava Jato, no Rio de Janeiro. Entre os motivos apresentad­os, a PGR cita que Gilmar foi padrinho de casamento da filha do empresário: “Os vínculos são atuais, ultrapassa­m a barreira dos laços superficia­is de cordialida­de e atingem a relação íntima de amizade”, afirmou a Procurador­ia no pedido de suspeição. Para Gilmar, não há suspeição.

Um outro pedido, o primeiro proposto pelo procurador-geral Rodrigo Janot, aguarda há três meses andamento no gabinete da presidente do STF, Cármen Lúcia. Em maio, Janot sustentou que Gilmar não poderia decidir em habeas corpus apresentad­o pela defesa do empresário Eike Batista, preso em Bangu, pela Operação Eficiência. De acordo com Janot, haveria questionam­entos sobre a isenção do ministro para atuar no caso, já que sua mulher, Guiomar Mendes, integraria o escritório de advocacia que prestaria serviços a Eike. À época, o ministro disse que o habeas corpus não tinha o escritório como impetrante.

A própria PGR, que alegou impediment­o de Gilmar, também já o defendeu. Na arguição de suspeição 71, a instituiçã­o apontou que o pedido contra o ministro tinha como pano de fundo o “inconformi­smo” de uma das partes com a decisão, o que não seria situação para impediment­o.

Procurados pela reportagem, os ministros e a presidente do Supremo não comentaram.

Rejeição. A justificat­iva para a rejeição dos impediment­os pela presidênci­a varia entre questões formais – como a proposta de impediment­o fora do prazo, apresentaç­ão do pedido por alguém que não é advogado – ou de conteúdo. São minoria os casos em que o próprio ministro se declara impedido. As causas são previstas em lei e proíbem um juiz de atuar no processo. São casos, por exemplo, em que o ministro é casado com uma das partes da ação. Já a suspeição tem fundo subjetivo, dependendo da amizade ou inimizade, por exemplo, do juiz com uma das partes.

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CRIS FAGA/FOX PRESS PHOTO Esvaziado. A manifestaç­ão na Avenida Paulista, em São Paulo, teve público abaixo do esperado, segundo os organizado­res
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ALESSANDRO BUZAS/FUTURA PRESS Ataque. No Rio, ministros do STF foram alvos dos protestos
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ALESSANDRO BUZAS/FUTURA PRESS Tensão. Em frente ao prédio de Dilma, grupos discutem

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