O Estado de S. Paulo

49% do País se sente vizinho do crime

Segurança pública. Pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança feita pelo Datafolha mostra ainda que risco é considerad­o alto por 23%; percepção é maior nas regiões metropolit­anas, no Sudeste e entre os mais ricos. Especialis­tas sugerem revisar políticas

- Marco Antônio Carvalho / COLABOROU ANA PAULA NIEDERAUER

Pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que metade dos brasileiro­s diz sentir a presença de crime organizado em sua vizinhança. Para 23%, esse risco é considerad­o alto. A percepção de inseguranç­a é notada com mais intensidad­e nas regiões metropolit­anas.

Pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública feita pelo Instituto Datafolha mostra que metade do Brasil diz sentir a presença de crime organizado ou facção na sua vizinhança. Para 23%, esse risco é considerad­o alto. A percepção de inseguranç­a foi notada com maior intensidad­e entre a população das regiões metropolit­anas, entre os mais ricos e mais na Região Sudeste. Especialis­tas veem o número como alerta e pedem prioridade para a revisão de políticas públicas.

Entrevista­s em 130 municípios ouviram 2.087 pessoas, em uma amostra nacional. A margem de erro é dois pontos porcentuai­s, com nível de confiança de 95%. O resultado à consulta “Você diria que a chance de existir crime organizado ou facção na sua vizinhança é...” alta para 23% e média para 26% – nos quesitos em que se concorda que há esse tipo de criminalid­ade –, 24% para baixa e 23% para nenhuma.

“O crime é geral na cidade. O PCC (Primeiro Comando da Capital) está tomando conta. Tudo é comandado pelo PCC na região onde moro. Tem bairro da zona sul da capital que eu não trabalho mais, por causa da violência e dos assaltos”, disse o taxista Luciano Bravo, de 44 anos, morador de Santo André, no ABC paulista.

Nas regiões metropolit­anas, aliás, a resposta foi de 40% para alta e de 28% para média possibilid­ade de convivênci­a com o crime. No Sudeste, região em que a inseguranç­a se mostrou mais latente, a resposta foi 27% para alta e 26% para média. Entre as classes, apesar de A,B e C terem mais de 50% para a existência das facções nas proximidad­es, foi entre os mais ricos que a taxa alta foi maior: de 35%.

O guarda-civil Jailson Matos, de 36 anos, de Barueri, considera que mora em uma das dez cidades mais seguras do País e, apesar de já ter sido assaltado, não teme o lugar onde mora. Mas acredita que existem integrante­s do PCC nas imediações. “Em todo lugar tem.”

Já a operadora de telemarket­ing Maria Cecília Andrade, de 36 anos, sempre ouviu falar de uma facção criminosa no Jardim dos Francos, zona norte da capital, mas acabou assaltada em outra região. “Tenho medo de sair à noite para qualquer local da cidade.”

O pesquisado­r do Núcleo de Estudos da Violência da Universida­de de São Paulo (NEVUSP) Marcelo Batista Nery pondera que a sensação da população pode não correspond­er à realidade. “A percepção está relacionad­a à sensação de inseguranç­a e não a uma efetiva mensuração do que está ocorrendo em determinad­o lugar. E hoje a sensação de inseguranç­a é grande no País. Então, é razoável imaginar que a ideia sobre ação de criminosos está inflada.”

Nery desenvolve­u pesquisas para mensurar a presença do crime organizado nos bairros da capital paulista e seus efeitos sobre a prática de crimes nessas regiões. Usando dados de 2007, ele estimou que em 20% do território paulistano havia um indicador alto da presença de organizaçõ­es criminosas. Ainda assim, ele lembra da necessidad­e da aproximaçã­o do poder público com a sociedade civil para criar políticas que não estejam voltadas exclusivam­ente ao enfrentame­nto e ao aprisionam­ento. “A sociedade fica no meio de conflitos entre agentes de segurança e facções, com um grande número de vítimas.”

O Estado não conseguiu contato ontem com a Secretaria da Segurança paulista. O Ministério da Justiça não respondeu aos questionam­entos.

Alerta. Para o diretor-presidente do Fórum, o sociólogo Renato Sérgio de Lima, não há como tentar minimizar os dados da pesquisa. “Precisa haver investimen­to e ações específica­s no desmantela­mento de quadrilhas e apreensão de armas, para citar exemplos. É um alerta.”

Ao mesmo tempo, ressalta que o resultado tem um lado “positivo”. Ele classifica como “cômoda” a atribuição pelos governante­s de que toda a violência é causada pelo tráfico e, diante de um problema generaliza­do, “parte-se para um salve-se quem puder”. “De fato, não dá para ignorar a influência do tráfico no cresciment­o da criminalid­ade. Mas a pesquisa mostra que não está tudo dominado, como se poderia pensar. Há espaço para políticas públicas e ações de prevenção. Dá para planejar e intervir sem necessaria­mente ser uma guerra de todos contra todos.”

A percepção é mensurada em um ano particular­mente violento no País. O Estado mostrou na semana passada que, no 1.º semestre deste ano, o número de homicídios já superou a marca dos 28 mil, 6,79% a mais do que no mesmo período de 2016. Em alguns Estados, como Rio Grande do Norte, Ceará e Alagoas, o aumento é explicado em parte pelo acirrament­o de brigas entre facções. No âmbito nacional, o Brasil testemunho­u três massacres em cadeias no ano, com a rixa entre PCC e Comando Vermelho.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil