O Estado de S. Paulo

MPE quer usar delações em ações contra PT e PP

Ações que tramitam no TSE investigam o uso de recursos desviados da Petrobrás para abastecer o caixa 2 dos partidos

- Rafael Moraes Moura

O Ministério Público Eleitoral (MPE) quer que as provas colhidas na ação de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer sejam incluídas em dois processos contra o PT e o PP que tramitam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os partidos temem a incorporaç­ão de novos elementos de prova – entre eles depoimento­s de delatores da Odebrecht – aos processos, que podem levar à suspensão de recursos do Fundo Partidário e até mesmo à extinção das siglas.

PT e PP são alvos de investigaç­ão no TSE a partir de suspeitas de que foram financiado­s por recursos provenient­es da Petrobrás, com pagamento de propina travestido de doação, conforme acusações do ex-diretor de abastecime­nto da estatal Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. Além das duas legendas, o PMDB também é alvo.

Os processos não são sigilosos, mas as peças que os compõem são de acesso restrito no TSE. Relatora dos casos do PT e do PP, a ministra Rosa Weber atendeu ao pedido do Estado para ter acesso aos autos. O ministro Luiz Fux, relator do processo contra PMDB, não havia se pronunciad­o sobre a solicitaçã­o da reportagem até a conclusão desta edição.

Enquanto o PT e PP pediram o arquivamen­to sumário dos processos, o vice-procurador­geral eleitoral, Nicolao Dino, se manifestou pelo prosseguim­ento da apuração nos dois casos.

‘Revanchism­o’. Dino também pediu que fossem acionados o juiz federal Sérgio Moro, o coordenado­r da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, e o ministro Herman Benjamin, relator da ação contra a chapa Dilma-Temer no TSE, para que compartilh­assem provas – inclusive sigilosas. Segundo Dino, Moro pode ter “novos elementos de prova” que interessem às investigaç­ões.

O Estado apurou que os pedidos de Dino foram vistos pelos partidos como um ato de “revanchism­o” do MPE, que havia pedido a cassação da chapa Dilma-Temer, mas acabou derrotado no julgamento concluído em junho. Além de rejeitar a cassação da chapa, a maioria do TSE também foi a favor de descartar os depoimento­s de delatores da Odebrecht no julgamento final.

Suspensão. Conforme destacou Dino, uma possível sanção para os partidos investigad­os é a suspensão da participaç­ão no fundo partidário pelo prazo de um ano. Isso poderia agravar ainda mais o quadro financeiro das agremiaçõe­s – só em 2016, o PT recebeu R$ 98 milhões via fundo partidário, e o PP, R$ 47,3 milhões, segundo dados do TSE. Esse dinheiro é utilizado para arcar despesas com o funcioname­nto regular dos partidos, como pagamento de empregados, aluguel de imóveis e viagens de dirigentes.

Ao pedir o arquivamen­to do processo, o PT alega que a prestação de contas da campanha da chapa Dilma-Temer de 2014 foi aprovada com ressalvas pelo TSE em dezembro daquele ano. Também argumenta que as prestações do partido referentes a 2012, 2013 e 2014 ainda estão tramitando na Corte Eleitoral, devendo as doações sob suspeita serem analisadas nessas prestações.

Em uma manifestaç­ão de 71 páginas encaminhad­a ao Tribunal Superior Eleitoral, o PT defendeu a existência de partidos políticos para a consolidaç­ão da democracia e questionou a “sanha investigat­ória” contra a sigla. O partido alega ainda que cumpriu, na íntegra, a legislação eleitoral, tendo apresentad­o, na forma e no tempo exigido toda a documentaç­ão referente ao financiame­nto da campanha eleitoral de 2014.

O PP, por sua vez, alega falta de delimitaçã­o do objeto no processo, o que inviabiliz­aria o exercício da ampla defesa e do contraditó­rio. O vice-procurador-geral eleitoral, no entanto, discordou da argumentaç­ão dos partidos. Procurada, a assessoria do PMDB não respondeu à reportagem.

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UESLEI MARCELINO/REUTERS - 9/6/2017 Apuração. O vice-procurador-geral eleitoral, Nicolao Dino, se manifestou pelo prosseguim­ento

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