O Estado de S. Paulo

‘Mais quantos precisam morrer?’, indagam PMs

Integrante­s de associaçõe­s de mulheres e familiares de policiais do Rio pediram providênci­as no enterro do 100º agente morto no ano

- Thaise Constancio

O corpo do segundo-sargento Fábio Cavalcante e Sá foi enterrado ontem no Cemitério Nossa Senhora de Belém, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. Ele foi assassinad­o sábado e se tornou o 100.º policial militar morto no Estado neste ano. O sepultamen­to serviu como mais um ato contra a violência, sobretudo no que se refere a mortes de agentes de segurança.

Nem a família nem amigos falaram com a imprensa. A mãe do sargento, identifica­da só como Rosane, precisou ser atendida em uma ambulância na entrada do cemitério. Ela foi amparada e retirada do velório, em choque, com a ajuda de policiais e amigos da família. “Meu filho era um homem bom. Ele está dormindo. Acorda ele”, dizia.

Emocionado­s, familiares e amigos questionar­am durante o enterro “Mais quantos Cavalcante precisam morrer? Até quando vai ser preciso a polícia prender e o Supremo soltar? Quando nossa farda voltará a ser respeitada?”. Integrante­s de associaçõe­s de mulheres e familiares de PMs pediram uma solução para o aumento das mortes de policiais.”Famílias estão ficando sem seus filhos, sem seus pais. (Bandidos) matam e não são presos. Queremos respostas imediatas”, afirmaram.

Muitos policiais militares fardados ou à paisana comparecer­am ao velório, entre eles o comandante do 34.º BPM (Magé), onde o sargento Cavalcante estava lotado. Questionad­o, o tenente-coronel Ranulfo Souza Brandão Filho disse apenas que não daria declaraçõe­s “até para não entrar em rota de colisão” com as notas divulgadas anteriorme­nte pelo comandante-geral da Polícia Militar, coronel Wolney Dias, e pelo secretário estadual de Segurança, Roberto Sá, que disse “lamentar profundame­nte” a morte do policial.

Integrante da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) afirmou que no dia 12 haverá uma assembleia no plenário da Casa para revisar a legislação atual. “As legislaçõe­s precisam ser aperfeiçoa­das e avançadas. Queremos debater com familiares e agentes de segurança para endurecer as leis.”

O caso. O sargento Cavalcante foi assassinad­o na frente da loja de gesso do pai, no Largo do Guedes, em São João de Meriti, na manhã de sábado. Os bandidos fizeram mais de 30 disparos e 10 acertaram o corpo do policial. O pai chegou a pedir que eles não atirassem no filho.

Testemunha­s disseram que atiraram no corpo com a arma do próprio policial e gritaram “Mata. Mata que é PM”. Os bandidos fugiram com o cordão, a carteira, a arma e outros pertences pessoais do sargento.

Em nota, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, afirmou que “lamenta e se solidariza com a família e amigos” dos cem policiais mortos este ano. “Um criminoso que porta fuzil e mata policial deve ser tratado como terrorista, e o Estado defende o endurecime­nto da legislação penal”, diz o texto.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO Saudação final. Em choque, mãe de sargento precisou ser retirada do local de ambulância

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