O Estado de S. Paulo

A jogada da Amazon com a Whole Foods

Ao assumir hoje o controle da rede de supermerca­dos, Jeff Bezos promete corte de preços

- DE CLAUDIA BOZZO /TRADUÇÃO

Com fama de careiro, o sofisticad­o supermerca­do norteameri­cano Whole Foods chegou a ser apelidado sarcastica­mente de Whole Paycheck (salário integral). Mas essa fase pode ter chegado ao fim. Ao assumir hoje o controle da rede, a Amazon pretende cortar os preços no mesmo dia.

A importânci­a da medida vai bem além do valor dos abacates orgânicos, da couve baby e dos frangos de rotisserie, que passarão a custar menos a partir de hoje. Esse foi o jeito que Jeff Bezos, principal executivo da Amazon, escolheu para anunciar seu plano de abalar o setor de supermerca­dos e competir com rivais como Walmart. “É assim que a Amazon funciona”, disse Michelle Grant, diretora de varejo na Euromonito­r, consultori­a de pesquisa de mercado.

Bezos sempre se mostrou disposto a perder dinheiro e fazer guerras de descontos para desafiar concorrent­es. Na Amazon, ele já fez isso com livros e fraldas, transforma­ndo categorias inteiras de varejo. “Não tenho dúvida de que ele está colocando o restante do mercado em alerta”, disse Bob Hetu, analista da Gartner, a empresa de pesquisas de tecnologia.

A Amazon pretende integrar seus negócios online e lojas físicas, ao transforma­r o programa de fidelidade Prime em um programa de recompensa­s da Whole Foods, trazendo economia adicional aos clientes. O Prime é um serviço que custa US$ 99 anuais e dá aos clientes envio gratuito mais rápido e acesso a um serviço de streaming de vídeo, por exemplo.

Os produtos com etiqueta própria da Whole Foods estarão à venda pelos serviços online da Amazon. “Estamos determinad­os a tornar acessíveis para todos os alimentos saudáveis e orgânicos”, disse na quinta-feira Jeff Wilke, executivo da Amazon. “Todos devem ter condições de se alimentar com a qualidade da rede Whole Foods.”

Guerra. Os descontos não são a única razão pela qual os compradore­s usam a Amazon – seleção e conveniênc­ia são outras –, mas Bezos jamais se intimidou em iniciar uma guerra de preços que afetaria concorrent­es. Na década de 90, a empresa entrou em uma briga com a livraria Barnes & Noble para ver qual das duas dava mais descontos em livros. A Amazon e o Walmart têm travado uma guerra de preços que vai e volta há anos.

Desde que a Amazon surpreende­u anunciando em junho que estava comprando a Whole Foods por mais de US$ 13 bilhões, os concorrent­es esperavam que isso abalasse tudo, até os minimercad­os, que enfrentam dificuldad­es frente à concorrênc­ia.

Ainda assim, a velocidade com a qual a Amazon completou a aquisição e entrou em uma campanha de redução de preços é espetacula­r. Foram menos de três meses – o que é raro em uma transação multibilio­nária.

A empresa não disse de quanto será a redução de preços na Whole Foods, que tem 460 lojas nos EUA, Canadá e Grã-Bretanha. Prometeu que haverá cortes no futuro. Especialis­tas em varejo dizem que as reduções tem de ser grandes para o Whole Foods competir com os rivais.

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TODD HEISLER/THE NEW YORK TIMES-16/6/2017 Foco. Rede da Whole Foods oferece alimentos orgânicos

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